Leonardo Silva trocou a arquitetura pelo futebol. Os atleticanos agradecem
“Leonardo pro goooool”, assim Cléber Machado, da TV Globo, narrou um dos momentos mais importantes da história do Atlético-MG. Aos 41 minutos da etapa final, do jogo decisivo da Copa Libertadores de 2013, o zagueiro marcou o segundo gol atleticano contra o Olímpia. Gol que manteve o Galo na disputa pelo inédito título continental. Conquistado naquela noite, na decisão por pênaltis.
Foi de Leonardo Silva o segundo gol no triunfo por 2 a 0, num Mineirão com quase 60 mil atleticanos, e foi dele também a última penalidade batida pelo Atlético. Após a cobrança do camisa 3 do Galo, Matías Giménez mandou na trave, encerrando a disputa. Apenas a noite de 24 de julho de 2013 seria suficiente para colocar Leonardo Silva na história do clube.
Mas a ligação entre Atlético e o zagueiro vai muito além daquela final. Na vitória por 2 a 0 sobre o Coritiba, neste domingo, no Estádio Couto Pereira, em Curitiba, Leonardo Silva completou 300 jogos com a camisa do Atlético. Uma marca rara, que apenas outros 21 atletas em 109 anos de história conseguiram. Antes de alcançar o feito, o zagueiro deu uma entrevista exclusiva ao UOL Esporte.
“Não é uma tarefa fácil de se pensar. São 300 jogos, capitão, mas é uma marca difícil e legal de se alcançar. O trabalho de dar títulos ao Atlético foi acontecendo ano a ano, jogo a jogo. A gente sempre pensa no melhor para que as coisas sejam boas”, disse o capitão do Atlético, que falou também sobre aposentadoria, futuro após o futebol e que sonhava até em ser arquiteto, mas acabou desistindo por causa do futebol.
Melhor para os atleticanos.
Leonardo Silva chegou a fazer curso técnico
Então adolescente no Rio de Janeiro, cidade em que nasceu, Leonardo Silva se dividia entre os estudos e a carreira de jogador de futebol. Ainda nas categorias de base, atuou pelo Botafogo e pelo América-RJ, o zagueiro não tinha como saber o futuro com a bola, um mundo de incertezas para milhares de jovens. Ciente que não é fácil se consolidar como profissional, Leonardo Silva corria atrás de outro sonho: ser arquiteto.
“Antes de terminar os meus estudos, o meu sonho era ser arquiteto, era ser engenheiro. Fiz dois anos de curso técnico de arquitetura. Tive que interromper por conta da minha carreira como atleta”, revelou o zagueiro ao UOL Esporte, que por enquanto não pensa em realizar esse sonho do passado, mesmo após largar o futebol.
“Agora já não penso em retomar arquitetura. Pretendo seguir como educador físico mesmo. Posso até fazer, mas não é um plano agora”.
Sim, Leonardo Silva já está cursando uma faculdade. O capitão do Galo faz o curso de Educação Física. Mas não é fácil conciliar estudos e futebol profissional. Ele faz o possível para se dedicar aos estudos, apesar do tempo que o futebol exige de um atleta profissional. Inclusive, o capitão do Galo conversou bastante com o goleiro Victor, que é graduado em Educação Física.
“Eu conversei, mas o Victor se formou muito antes de se tornar atleta profissional. Ele já era profissional e estava naquela transição. Como atleta profissional, cursar uma faculdade é difícil pelo nosso calendário, viagens, concentrações. Estou me preparando para o pós-carreira. E sempre foi um sonho meu fazer uma faculdade. Eu terminei o ensino fundamental e o ensino médio, mas não consegui cursar uma faculdade por conta da minha carreira, tive que mudar de estado”.
O maior zagueiro do Atlético em todos os tempos?
Para os torcedores que estão abaixo dos 40 anos, a resposta é praticamente a mesma: sim. Para os mais velhos, Leonardo Silva divide o posto com alguns outros nomes, como Luisinho, por exemplo, que disputou 537 jogos pelo Atlético e foi titular da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982.
Mas por conquistas e gols – quantidade e importância –, Leonardo Silva é imbatível. Nenhum outro defensor tem tantos gols pelo Atlético como o atual capitão. São 28, até julho de 2017. Um número expressivo para um zagueiro. Para se ter uma ideia, apenas três jogadores do atual elenco marcaram mais gols pelo Atlético do que Leonardo Silva. Luan (37), Fred (35) e Robinho (32).
“Não é fácil um zagueiro fazer 28 gols em um clube. Vou procurar aumentar essa marca. Se algum jogador permanecer tanto no clube, é possível quebrá-la. Ou se o Réver voltar (risos), porque ele é o mais próximo de mim. Acredito que pode ser quebrada sim, desde que um jogador fique tanto tempo no clube e tenha boas condições ofensivas”, comentou Leonardo Silva, lembrado de Réver, com quem tem maior sucesso como companheiro de zaga.
Eles formaram a dupla titular na conquista da América, em 2013. Atualmente no Flamengo, Réver disputou 177 partidas pelo Atlético e marcou 22 gols. É o segundo zagueiro que mais vezes anotou tentos com a camisa alvinegra. O último gol de Leonardo Silva foi no Brasileirão do ano passado, na derrota por 3 a 2 para o Botafogo, no Rio de Janeiro.
Um colecionador de medalhas
Leonardo Silva está na sétima temporada pelo Atlético. E já levantou um troféu, o de campeão mineiro. Aliás, desde que chegou à Cidade do Galo, o zagueiro se tornou um colecionador de medalhas. São sete títulos oficiais, sendo quatro vezes o Mineiro (2012, 13, 15 e 17), uma Libertadores (2013), uma Recopa (2014) e uma Copa do Brasil (2014).
Com tantos jogos, tantas conquistas, muitos gols e idolatria, Leonardo Silva não esconde que é apaixonado pelo Atlético.
“A identificação veio crescendo a cada ano que se passava dentro do Atlético. É um clube que sou apaixonado e me identifico bastante. Visto a camisa de coração dentro de campo. Foi importante desde a minha chegada a recepção que recebi por parte dos atletas e da torcida, que confiou no meu trabalho. Isso tudo me deu tranquilidade para que eu pudesse desenvolver meu trabalho e ter uma família no clube. Essa amizade que construímos desde a chegada na portaria até o presidente fez com que eu me fortalecesse dentro do Atlético”, disse o zagueiro, que sempre foi um dos líderes do elenco e se tornou capitão do time em 2014.
“É uma prática que foi colocada na minha carreira já há muito tempo. Aprendi a me tornar esse homem. Esse jogador referência, porque sempre fui cobrado para isso. No começo da minha carreira, eu fui cobrado, porque sou um jogador que vê o jogo de forma diferente, tem uma visão de trás no gramado. A gente sempre costuma conversar e procurei trazer isso para a minha carreira. Todos os treinadores com os quais trabalhei costumam tirar isso de mim”.
Falta o Brasileirão. Pode ser em 2018 ou 2019...
Duas vezes vice-campeão brasileiro com o Atlético, em 2012 e 2015, Leonardo Silva é um dos muitos jogadores com longa história no Atlético e que tratam a conquista do Campeonato Brasileiro como uma obsessão. O goleiro Victor, o lateral direito Marcos Rocha e o atacante Robinho são alguns exemplos que vivem falando e ganhar a principal competição nacional com a camisa atleticana.
Mas para 2017 é um sonho praticamente impossível de ser realizado. No melhor dos cenários, o Atlético entraria para o segundo turno 12 pontos atrás do líder Corinthians. Neste momento a diferença está em 18 pontos. As duas equipes se enfrentam nesta quarta-feira, às 21h, no Mineirão. E a rodada do final de semana encerra o primeiro turno, já conquistado pelo clube paulista.
Mas nem por isso Leonardo Silva deixa de lado o sonho de ser campeão brasileiro pelo Galo. Pode não ser em 2017, mas pode ser no ano que vem. Aos 38 anos, o zagueiro só tem apenas uma certeza sobre a aposentadoria: vai ser no Atlético. Quando? Nem ele sabe ainda. “No Atlético, sim. É um pensamento sim, por tudo o que construí aqui. Não é fácil ficar seis, sete anos em um clube, por todas as dificuldades que vocês sabem. Eu espero jogar por muito tempo ainda para conquistar mais títulos pelo Atlético”, contou ao UOL Esporte.
O vínculo de Leonardo Silva com o Atlético vai até o final desta temporada, como fez nas últimas três temporadas. Desde o final de 2014, a renovação de contrato tem apenas um ano de duração. Portanto, Leonardo Silva cumpre o terceiro contrato com o Galo em que assinou um acordo com apenas 12 meses de validade.
E quando parar, o que não deve acontecer nos próximos meses, Leonardo Silva quer seguir no futebol. Esse foi um dos motivos na escolha do curso de Educação Física. E quando encerrar a carreira como jogador, que vai ser no Atlético, seguir no clube seria o ideal para ele. No entanto, é algo que ele sequer cogita neste momento. O foco ainda é em fazer o trabalho dentro de campo.
“Aí já não depende só de mim. Vou me preparar, seria maravilhoso, fantástico que eu pudesse dar continuidade à minha carreira extracampo no Atlético. Aqui, as pessoas confiam no meu trabalho e eu também confio nelas. É um clube muito sério e isso é uma coisa a se pensar posteriormente. Agora é pensar dentro de campo, que é o que mais me compete”.
Maluf foi decisivo na melhor escolha de Leonardo Silva
No início de junho o Atlético perdeu seu diretor de futebol. Eduardo Maluf lutava contra um câncer de estômago e morreu aos 61 anos. Dirigente do clube alvinegro entre 2010 e 2017, Maluf deixou um legado enorme na Cidade do Galo e muitos feitos no futebol do clube. A contratação de Leonardo Silva é algo que vai para a conta do então diretor de futebol.
Poucos meses depois de ser mandado embora pelo Cruzeiro e ser contratado pelo Atlético, em meados de 2010, Eduardo Maluf ligou para Leonardo Silva e fez uma proposta para ele fazer o mesmo caminho. Da Toca da Raposa para a Cidade do Galo. Decisão que o zagueiro classifica como a melhor da carreira, como disse também com exclusividade ao UOL Esporte, em janeiro de 2015.
“A primeira pessoa a me procurar foi o Maluf, porque eu trabalhei com ele no Cruzeiro. Estava voltando de férias, já sem contrato com o Cruzeiro. Nós nos sentamos, conversamos e definimos rapidamente a minha chegada ao clube. Aceitei pela estrutura, pelo que eu estava vivendo e por acreditar que tudo daria certo”, relembrou Leonardo Silva.
E quis o destino que o primeiro jogo pelo Atlético fosse logo o clássico mineiro. No dia 12 de fevereiro de 2011 o Galo bateu o Cruzeiro por 4 a 3, na Arena do Jacaré, apenas com torcedores celestes.
Lembranças de um Atlético x Fluminense de 2012
A pedido do UOL Esporte, Leonardo Silva escolheu uma partida marcante pelo Atlético. Para dificultar para o zagueiro, foi solicitado que a escolha não fosse por um jogo de final, como a decisão da Libertadores, contra o Olímpia, ou a Copa do Brasil, contra o Cruzeiro, por exemplo. Leonardo Silva se lembrou de um duelo com o Fluminense, em 2012.
“Caramba, são muitos jogos. É até difícil identificar um. Mas, olha, um marcante foi o do Fluminense, quando estávamos disputando o título e nós vencemos por 3 a 2. Foi um dos melhores jogos daquela competição. E eu fiz o gol no último minuto. É uma partida marcante e que fica na minha memória”.
Naquele ano as duas equipes disputaram o título da competição. O jogo era válido pela 32ª rodada e a equipe carioca estava nove pontos na frente do Atlético. Em um jogo bastante movimentado, o Fluminense saiu na frente, com Wellington Nem, no começo do segundo tempo. O Atlético virou com dois gols de Jô. Mas aos 39, o Flu empatou novamente, com Fred, que agora é jogador do Galo.
Aquele gol foi um balde de água fria no atleticano, que lotou o Estádio Independência. Parecia ser ali o fim da disputa pelo título nacional, até que Ronaldinho Gaúcho levantou a bola na área e Leonardo Silva marcou de cabeça, aos 47 minutos, o gol do triunfo atleticano. O título não veio, mas esse jogo está na memória do capitão atleticano.
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