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Empresas de fachada e manobras no Caribe: como CR7 driblou os impostos

Cristiano Ronaldo e seu principal representante, o agente Jorge Mendes - Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images
Cristiano Ronaldo e seu principal representante, o agente Jorge Mendes Imagem: Gonzalo Arroyo Moreno/Getty Images

Der Spiegel

16/12/2016 14h24

O que aconteceria se as pessoas descobrissem quanto os times realmente pagam a seus jogadores profissionais, calculado com precisão até o último centavo? E o que aconteceria se as pessoas soubessem o tamanho das comissões ganhas por agentes a cada transferência ou prorrogação de contrato? Se as pessoas começassem a questionar se seus heróis do futebol são tão limpos quanto seus marqueteiros gostam de pintá-los? Se você pudesse espiar por trás da fachada brilhante do futebol mundial e examinar de perto os contratos, as contas bancárias e a correspondência entre jogadores profissionais e seus conselheiros?

A plataforma de denúncias Football Leaks [vazamentos do futebol] torna tudo isso possível. Eles deram a "Der Spiegel" acesso a cerca de 18,6 milhões de documentos - o maior vazamento na história dos esportes profissionais. Junto com a rede investigativa EIC e outros parceiros, exploramos o funcionamento interno do negócio bilionário do futebol europeu. A primeira parte da série trata da ética da taxação e os truques fiscais usados por astros como Cristiano Ronaldo e Mesut Özil.

Messi. Esqueça Messi. Tem gente que ainda considera Messi o melhor do mundo. Gente sem noção. Só porque Lionel Messi foi o Jogador do Ano da Fifa cinco vezes, contra três de Cristiano Ronaldo. Só porque Messi ganhou a Liga dos Campeões quatro vezes e Ronaldo, três. Só porque Messi marcou fantásticos 50 gols na liga em uma única temporada, contra os fenomenais 48 de Ronaldo. Tudo isso é verdade, mas o que importa? A não ser em campo. Mas se você está procurando a verdade sobre o futebol em campo, está mesmo sem noção.

A verdade é: Lionel Messi foi apanhado. No último verão, ele foi obrigado a se apresentar a um tribunal distrital de Barcelona, onde recebeu uma pena de prisão de 21 meses, com sursis [suspensão condicional], por fraude fiscal. O tribunal também ordenou que ele pague uma multa de 2 milhões de euros (cerca de R$ 7 milhões) porque ele e seu pai deixaram de pagar 4,1 milhões de euros em impostos.

E Ronaldo? Ou, mais precisamente, o senhor Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, como ele é chamado em sua declaração de imposto de renda na Espanha? No final de 2014, ele embolsou discretamente 63,5 milhões de euros, mas ao que parece não pagou um único euro em impostos sobre essa quantia. E pode até ter se safado com ela. Pode até ter sido legal. Quase R$ 225 milhões, antes e depois dos impostos, sem processo na Justiça nem acusação criminal, supostamente nem sequer um sentimento de culpa.

Então quem é o melhor no futebol? Ronaldo! A menos que, depois da publicação desta reportagem, um investigador do fisco espanhol decida que isso não tem possibilidade de ser legal: duas empresas de fachada nas ilhas Virgens Britânicas; mais uma companhia de fachada que guardou os milhões de Ronaldo durante anos; uma conta em um banco privado suíço; uma declaração de renda que não menciona os 63,5 milhões de euros e todas as contas no exterior.

E o que disse Ronaldo sobre si mesmo? "Sou um cara inteligente" e "não importa se você joga bem ou mal - o mais importante é vencer". No futebol, essa frase se aplica ao campo, mas para os jogadores no topo também se aplica a suas contas bancárias. Os que ainda não encontraram as brechas para diminuir seus impostos estão entre os perdedores do setor.

De fato, Ronaldo não é exceção no que se refere ao desejo de economizar em impostos. Mas seu nome, como o de Messi, é o mais famoso. Ele é a marca mais valiosa e o maior astro. Ele é o ícone, o homem que representa o brilho e a sordidez do futebol moderno nessa história de profissionais e altos lucros. O brilho de uma religião global com 1,6 bilhão de seguidores - fãs encantados por seus times e fascinados por seus semideuses e pelos truques aparentemente sobrenaturais de um jogador como Ronaldo, que muitas vezes só podem ser compreendidos quando vistos em câmera lenta.

Mas essa sordidez também se chama Ronaldo: o "só o resultado importa", o ego, o sucesso. Essa ideia de que de alguma forma tudo vai dar certo e nada realmente importa, pelo menos enquanto as autoridades fiscais continuarem no jogo ou puderem ser enganadas. E enquanto os torcedores, que pagam milhões para financiar esses astros, não descobrirem.

Na trilha dele

Cristiano Ronaldo - Steven Governo/AP - Steven Governo/AP
Imagem: Steven Governo/AP

Mas hoje o mundo inteiro sabe. A plataforma de denúncias Football Leaks ofereceu a "Der Spiegel" discos rígidos contendo 1,9 terabyte de informação - o maior conjunto de dados na história do esporte. Ele é tão enorme e importante para tantos países que a "Spiegel" compartilhou o material meses atrás com seus parceiros no consórcio Colaborações Investigativas Europeias (EIC na sigla em inglês). Desde então, 60 jornalistas de 12 organizações de mídia da Europa colaboraram na análise dos documentos mais confidenciais.

Eles revelam como milhões de euros ganhos por Ronaldo em acordos de marketing foram canalizados para uma empresa de fachada no Caribe até 2014. Ronaldo quase não pagou impostos sobre esse dinheiro. Se isso não bastasse, no final de 2014 ele vendeu seus direitos de marketing para os anos de 2015 a 2020 por mais 75 milhões de euros. Ele recebeu rapidamente o dinheiro no final do ano fiscal de 2014. Esse era o último ano em que poderia aproveitar uma alíquota mínima de imposto na Espanha. Aparentemente, ele não pagou impostos sobre 63,5 milhões de euros daquela soma. Agora os investigadores do fisco estão em seu encalço.

Os documentos também expõem um segundo superastro do futebol que faz o jogo oculto: José Mourinho, um treinador de renome internacional que fez escalas bem-sucedidas em Porto, Chelsea, Inter de Milão e Real Madrid. Ele fala sobre si mesmo como "o especial" - e é sem dúvida o homem mais excêntrico sentado no banco dos treinadores. Mas ele se mostrou igualmente excêntrico quando se trata de seu dinheiro, mantendo-o guardado em contas bancárias na Suíça pertencentes a uma empresa de fachada do Caribe que é ligada a uma fundação na Nova Zelândia, do outro lado do mundo. Mourinho, segundo mostram os documentos, já recebeu ordens para pagar milhões de euros em impostos atrasados.

Outros jogadores profissionais também montaram esquemas para seu dinheiro em países exóticos. Entre eles estão Pepe e Ricardo Carvalho, que jogaram na seleção portuguesa que ganhou a Eurocopa neste verão. James Rodríguez, o principal artilheiro na Copa do Mundo do Brasil, também está na lista. Os três jogam ou jogaram no Real Madrid, o clube mais rico do mundo, onde não só os salários dos jogadores são extremamente altos, como também a ousadia quando se trata de impostos.

O grupo de jogadores do Real que tentaram ser mais espertos que a lei tributária espanhola inclui um membro da equipe nacional alemã campeã do mundo: Mesut Özil, que hoje joga no Arsenal em Londres. Ele não canalizou seu dinheiro para um paraíso fiscal, mas alguns meses atrás recebeu uma cobrança de sua escala anterior na Espanha. Özil foi solicitado a pagar 2 milhões de euros em impostos atrasados, além de uma multa de quase 790 mil euros, como mostram os documentos da Football Leaks. E a lista continua...

O futebol profissional hoje é "show business" - o maior espetáculo da Terra. A medida dos maiores astros nesse show é o dinheiro, seja em euros ou em dólares. As somas transferidas são crescentes, assim como os salários e as receitas de publicidade. Ronaldo ganha 38.181.818 euros por ano no Real, e sua taxa de transferência - o valor que outro time teria de pagar para comprá-lo do Real - é de 1 bilhão de euros. Os salários dos jogadores se tornaram tão astronômicos que a megalomania passou a ser inerente ao esporte. Por que dividir esses milhões? Por que dar alguma coisa?

Fraco demais para o sucesso

Odegaard - Jon Olav Nesvold/Reuters - Jon Olav Nesvold/Reuters
Imagem: Jon Olav Nesvold/Reuters

O Football Leaks está expondo o lado mais feio dessas histórias de sucesso: esses astros aparentemente querem devolver o mínimo possível à sociedade - de preferência nada. Para tanto, eles e seus assessores andam na corda bamba da lei fiscal. Os que não entram nesse jogo - porque ainda têm um senso de responsabilidade para com a sociedade - provavelmente são vistos como fracos demais para o sucesso.

Uma sentença se destaca na montanha de dados cheios de avareza e megalomania; foi escrita por Hans Erik Odegaard, da Noruega, em dezembro de 2015, depois que o Real Madrid contratou seu filho de 16 anos, saudando-o como um dos mais talentosos jogadores europeus. Advogados espanhóis calcularam o efeito que uma empresa de direitos de imagem para economizar impostos teria sobre as receitas dos jogadores.

Mas o pai de Odegaard teve algumas preocupações e escreveu: "Ele de qualquer forma ganhará muito dinheiro, por isso também é uma questão moral o quanto ele deverá se esforçar para poupar dinheiro dos impostos, quando outras pessoas lutam muito mais para pagar suas contas". Os dados do Football Leaks contêm vários milhões de documentos, e é necessário muita pesquisa para encontrar um parecido com esse.

Martin Odegaard também não está fácil de encontrar hoje em dia. Ele joga atualmente principalmente no time de reserva do Real, e só jogou para o time principal duas vezes. Há informações de que ele não estaria feliz em Madri.

US$ 2 milhões por 6 horas de trabalho

Cristiano Ronaldo ensaio - Efe - Efe
Imagem: Efe

Então quanto vale um dia na vida de Cristiano Ronaldo? É difícil dizer, mas temos algumas pistas: US$ 1,9 milhão (R$ 6,35 milhões) por 6 horas e 45 minutos de trabalho. São US$ 4.691 (R$ 15.667,94) por minuto, como revelado em um contrato que os agentes de marketing de Ronaldo assinaram com a Toyota em junho de 2013. A Toyota cobriu a passagem aérea de primeira classe de Ronaldo até o local das filmagens, onde ele ficou em frente às câmeras durante 3 horas e meia antes do almoço e 3 horas e 15 minutos depois --tudo foi precisamente registrado. O fabricante de carros pôde então usar as imagens em seus anúncios durante 13 meses.

Por US$ 1,9 milhão, porém, você não conseguirá de Ronaldo o mundo todo. A Toyota tinha garantidos apenas os direitos para anúncios no Oriente Médio, mais Argélia, Marrocos e Afeganistão. A companhia teria de pagar mais por direitos globais. A Honda apresentou Ronaldo em suas publicidades na China na mesma época. Segundo o contrato, ela deu mais 2 milhões de euros por um período de apresentação de um ano e um máximo de seis horas de trabalho diante das câmeras. O tempo adicional de gravação na China, caso fosse necessário, custaria mais 600 mil euros - uma pechincha pelos padrões de Ronaldo.

O futebol é global, o que faz de Ronaldo não apenas um astro esportivo em todo o mundo, como também um astro da publicidade. Ele ganha muito mais que apenas seu salário premium no Real Madrd. Nos últimos anos, ele se vendeu da cabeça aos pés: para o xampu Clear, os relógios TAG Heuer, a grife de moda Armani e a gigante dos esportes Nike. Esta lança constantemente novos modelos de chuteiras com o legendário logo CR7, sendo 7 o número da camisa usada por Ronaldo nos jogos.

A se acreditar nos contratos, o dinheiro não para de entrar: segundo os documentos, a gigante dos alimentos americana Herbalife pagou mais de US$ 16 milhões em um período de cinco anos. Cerca de 2,2 milhões de euros vieram do Banco Espírito Santo de Portugal por três anos, e 300 mil euros por uma única participação na televisão em Roma. Da companhia aérea Emirates vieram 1,1 milhão de euros por pouco mais de um ano de publicidade - juntamente com 15 passagens de primeira classe para Dubai, de qualquer lugar no mundo.

Para cada par de cuecas com o logo CR7 na cintura, a empresa de roupas íntimas dinamarquesa JBS entrega 13% de sua receita. Na Nike, são 5% das vendas de calçados CR7. A companhia americana teve 51 milhões de euros em receitas globais com artigos CR7 entre setembro de 2010 e agosto de 2011, com pouco menos de 2,7 milhões deles indo para a empresa que coleta os honorários de Ronaldo. Além disso, a Nike paga um salário básico de 1,6 milhão de euros por ano, mais os pagamentos normais do setor para temporadas especialmente bem-sucedidas. Por exemplo, quando ele se tornou o maior artilheiro da liga espanhola, eles lhe pagaram mais 250 mil euros.

O Estado quer uma parte

Em troca dessa generosidade, Ronaldo é submetido às condições da Nike. Se ele sofrer uma lesão e não puder jogar por mais de 90 dias, a Nike tem o direito de cortar o salário básico pela metade durante o tempo perdido. O mesmo vale se Ronaldo jogar em mais de 20 mas menos de 30 jogos por ano para seu clube. E em 2014, quando ele viajou para a Copa do Mundo apesar de uma lesão crônica e de não jogar em seu nível habitual, ele foi movido por sua ambição de sempre jogar, sempre vencer e sempre ser o maior. Mas além disso: se ele não tivesse jogado no torneio, poderia ter-lhe custado a metade de seus ganhos anuais em seu acordo com a Nike.

Mas Ronaldo quase sempre entrega o combinado. Nos últimos oito anos, só perdeu 32 partidas do Real devido a lesões. E os clientes de publicidade continuam pagando. Isso cria para Ronaldo o mesmo enigma que enfrentam os super-ricos do mundo: o que fazer com o dinheiro que constantemente inunda suas contas? Claro, para cada euro que ele ganhou com seus direitos de imagem acima de 15 milhões por ano, teve de pagar 40 centavos a seu patrão, o Real Madrid. É o que diz um contrato. Mas ele só tem de sair de casa durante algumas horas e dizer algo para a câmera, que alguém lhe enviará algumas centenas de milhares ou milhões de euros. É simples assim. Mas afinal a coisa fica complicada. Porque o Estado também quer uma parte.

Mas há os assessores - especialistas em receitas com direitos de imagem - para cuidar disso, e não apenas para Ronaldo. Os advogados cuidam de tudo que os jogadores profissionais ganham com seu nome, rosto, imagem e autógrafo. A maioria dessa renda vem da publicidade, mas há outras fontes, como as figurinhas que as crianças colecionam em álbuns Panini.

É difícil reduzir os impostos sobre os salários pagos pelo clube. As regras em vigor são muito claras, os caminhos para o dinheiro, óbvios e as autoridades fiscais, duras. Os direitos de imagem, porém, são uma coisa totalmente diferente, e os advogados tributaristas se tornaram verdadeiros artistas para criar os labirintos artísticos e artificiais pelos quais flui o dinheiro. As autoridades fiscais estão sempre tentando pegá-los e com frequência são sobrepujadas ou impedidas pela complexidade das leis de alguns países, que são tão amigos do futebol que a caçada termina antes de realmente começar. Se as coisas forem bem para o jogador, as autoridades fiscais ficarão satisfeitas com um pequeno pagamento. E se as coisas forem muito bem eles não pagarão nada.

O modelo funciona mais ou menos assim: os salários profissionais recaem na maior alíquota fiscal, que é de cerca de 50% em muitos países europeus. Pode ser doloroso. As receitas geradas via direitos de imagem, em comparação, não sofrem taxação tão alta, se forem montadas as estruturas adequadas. Para tanto, os jogadores transferem seus direitos de imagem a uma companhia que trabalhe em seu nome. Os honorários gerados por esses direitos - ficar diante das câmeras para uma barra de cereais ou um desodorante, por exemplo - são pagos àquela empresa, que deve apenas impostos corporativos sobre essas receitas, como qualquer empresa normal. Na Irlanda, um local frequente para essas firmas de direitos de imagem, o imposto corporativo é de apenas 12,5%.

Estruturas offshore

É assim, basicamente, que se faz em todas as grandes ligas europeias. Um tribunal britânico confirmou em 2000 que a prática foi extrapolada no caso do jogador holandês Dennis Bergkamp. Mas isso não significa necessariamente que seja ilegal em outros casos. As autoridades fiscais não apreciam essa divisão de pagamentos esperta, porque nega ao Estado milhões em receitas. Por isso, os jogadores são investigados de vez em quando por possível evasão fiscal. Existe uma linha fina a ser traçada, e nem sempre está claro onde ela deve ficar. As autoridades por exemplo, sondam se os direitos de imagem que um clube compra de seus jogadores astros realmente valem o alto preço pago. O clube é realmente capaz de recuperar esse investimento por meio, por exemplo, da venda de camisas ou cartões autografados? Se não, o objetivo é aparentemente o de pagar uma parcela significativa do salário de um jogador pelo menor imposto corporativo. E isso seria contra a lei.

Quando se trata de superastros, que ganham milhões para seus times só com a venda de camisas, as autoridades fiscais procuram em outro lugar: a firma de imagem tem escritórios e funcionários, ou é apenas uma empresa de fachada? Dependendo das leis nacionais em vigor, isso poderia ser considerado dinheiro ganho no país e, como tal, sujeito à taxação plena.

Como ocorre com frequência ao se lidar com dinheiro, quanto maior o lucro gerado, maior é o risco de que algo dê errado. As vantagens de usar os direitos de imagem para captar dinheiro são enormes, mas são acompanhadas pelos riscos de desagradar às autoridades fiscais. Seria possível simplesmente evitar a prática, como parece ter feito o jovem jogador norueguês Martin Odegaard. Mas se você tiver um agente como Jorge Mendes, não a evita. Você mergulha.

O Grande Jorge

James, Cristiano Ronaldo e Jorge Mendes - Europa Press/Getty Images - Europa Press/Getty Images
Imagem: Europa Press/Getty Images

Mendes é atualmente o agente futebolístico de maior sucesso no mundo. Ele representa os jogadores mais famosos e faz os maiores negócios. E aparentemente tem a maior ousadia quando se trata de armações fiscais. Ele é o homem que pode tornar os jogadores estonteantemente ricos. É um jogo de dados para os jogadores - com a ajuda de empresas de fachada caribenhas que são mantidas às ocultas. Por bons motivos, pode-se supor.

Mendes representa o goleiro da seleção espanhola David de Gea e o Chuteira de Ouro da Copa do Mundo de 2014, o colombiano James Rodríguez. Ele representa a metade da equipe nacional portuguesa campeã europeia, incluindo Pepe, André Gomes e Ricardo Carvalho, além do jovem Renato Sanches, que hoje joga no Bayern de Munique. E, principalmente, representa Cristiano Ronaldo e o renomado treinador José Mourinho.

Um documentário chegou aos cinemas no ano passado sobre a vida de Ronaldo (foram pagos US$ 200 mil por sua participação, mais uma porcentagem da renda). O filme trata da morte do pai de Ronaldo quando era criança e Ronaldo conta que Mendes "se tornou um pai" para ele. "Jorge é outro membro da minha família". Naturalmente, Jorge é também "o melhor", título com o qual Mendes já foi homenageado por seis vezes sucessivas nos Prêmios Globais de Futebol por seu trabalho como agente.

Assim como Ronaldo, Mendes sabe o que é ser pobre, mas também como pode ser bom ter tanto dinheiro que não cabe mais no cofre em casa, como diz Ronaldo no documentário. Ambos vieram de famílias que puderam lhes dar pouco além da ambição necessária para trabalhar para alcançar dinheiro, sucesso e fama.

Mendes conseguiu sucesso como um talentoso vendedor. Primeiro ele vendeu vídeos e depois abriu um bar, antes de conseguir a transferência de um de seus clientes, o goleiro Nuno Espírito Santo, para o Deportivo La Coruña. Com isso, tornou-se um agente e logo começou a negociar nomes cada vez maiores, em parte porque é bom para fazer os outros pensarem tão bem dele quanto ele mesmo pensa.

Em uma cena do filme, ele está jantando com amigos e a família de Ronaldo, de pé na frente do astro do futebol. Mendes começa a entoar seus elogios: "Você é um monstro. Este é o melhor do mundo, o melhor jogador do mundo. Orgulho-me de estar ao lado de um cara como este. Se eu não o conhecesse, eu lhe pediria um autógrafo".

É fácil entender por que os jogadores o adoram, especialmente porque Mendes é melhor que os outros para colocar seus clientes nos grandes times e conseguir contratos enormes. Segundo ele mesmo, esteve envolvido em mais da metade de todas as transferências feitas pelos maiores clubes portugueses: Benfica, Sporting e Porto, de 2001 a 2010. De lá, ele foi intermediário de jogadores para os maiores times da Inglaterra, Espanha e Itália.

"Nada é impossível", prega Mendes no filme de Ronaldo, "nada, nada, nada". Ele nem consegue parar de dizer "nada", repetindo a palavra como um guru que prega a seus discípulos. Mas, se nada é impossível, o que é possível no que se refere aos impostos dos jogadores? Essa parece ter sido uma parte do pacote que Mendes oferece a seus clientes: um modelo fiscal que ajuda os que ganham mais a evitar impostos na medida do possível. Legalmente? Ilegalmente? Nada parece impossível. Nada.

Um esconderijo para o Mister

Mourinho - Lee Smith/Reuters - Lee Smith/Reuters
Imagem: Lee Smith/Reuters

José Mourinho é um astro treinador, em vez de um astro jogador, mas quando se trata do que ele ganha e os ares que assume, não há muita diferença. Mourinho, que hoje pratica seu ofício no Manchester United, foi um dos primeiros profissionais para quem Mendes criou uma estrutura de economia de impostos no Caribe. Ele a montou com base nos mesmos dois princípios que guiam Mourinho no futebol: perder é absolutamente inaceitável e qualquer truque que leve à vitória é permitido.

Há uma história legendária sobre como Mourinho certa vez foi proibido de assistir a um jogo contra o Bayern de Munique e assim mesmo conseguiu dar instruções aos treinadores no banco do Chelsea. O "Times" de Londres mais tarde relatou que ele se escondeu em um cesto de roupa suja para não ser detectado quando foi retirado do estádio após a partida.

Os documentos do Football Leaks agora esclarecem o que os truques legais do treinador português lhe trouxeram. As autoridades espanholas recentemente o multaram em 4,4 milhões de euros; mais de 3 milhões em impostos atrasados e uma multa de 1,1 milhão de euros.

O que aconteceu? Em 2004, Mourinho mudou do Porto para o Chelsea em Londres. Ele tinha ganho tudo no Porto - o campeonato da liga portuguesa e, surpreendentemente, até a Liga dos Campeões. Isso armou o palco para que ele chegasse ao tipo de dinheiro grande que não se pode ganhar em Portugal. Ele foi para o Chelsea, clube onde ganhar a coroa do futebol inglês não é surpresa. É esperado. O oligarca russo Roman Abramovich tinha comprado o clube, e ele começou a comprar jogadores sem se preocupar com dinheiro. Não havia limites para o Chelsea.

Mourinho também ganhava um salário folgado - dizem que seria de 5,3 milhões de libras por ano (cerca de R$ 22,5 milhões). Esse era seu salário regular, sobre o qual tinha de pagar impostos de acordo com sua posição, na faixa superior de renda. Mas ele também recebeu 1,5 milhão de libras por seus direitos de imagem do Chelsea de 2004 a 2009. Para ser mais exato, ele não recebia o dinheiro diretamente - ia para o Caribe, para a Koper Services S.A., uma empresa de fachada situada nas ilhas Virgens Britânicas. A firma se localiza na Vanterpool Plaza em Road Town, na ilha de Tortola, que soa muito mais glamourosa do que é realmente.

O Plaza é na verdade apenas um sobrado de estuque amarelo. O térreo abriga uma farmácia dirigida por uma senhora Vanterpool, enquanto o andar de cima é alugado por uma firma de direito e cria empresas de fachada. Eles se localizam atrás de cortinas fechadas. Se algum trabalho é feito ali, certamente não é pela Koper Services.

Zero por cento

É basicamente apenas um grande cofre-porquinho. Até pelo menos 2013, milhões de euros dos ganhos de marketing de Mourinho entraram lá. Para facilitar, o treinador tinha transferido seus direitos de imagem para a Koper em 2004, quando ele foi para o Chelsea. A companhia é encarregada de seu marketing desde então, e recolheu os ganhos. E esses ganhos são convenientemente taxados pelo índice corporativo das ilhas Virgens Britânicas, de... você adivinhou: 0%.

Mas ainda havia um problema: marcas renomadas como Adidas não gostam de transferir honorários para paraísos fiscais. Se a empresa fosse auditada, esses pagamentos poderiam levantar suspeitas desconfortáveis de que a companhia estivesse propiciando a evasão fiscal ou financiando negócios escusos. Portanto, os parceiros de publicidade esperam um endereço melhor que Road Town na ilha de Tortola, e nesse caso esse endereço seria encontrado na Irlanda. Mesmo antes da fundação da Koper, uma firma de impostos da Irlanda tinha criado uma outra companhia em Dublin chamada Multisports & Image Management (MIM).

A Irlanda era o tipo de país europeu - do tipo amortecedor - necessário para empresas como Adidas e clubes de futebol profissionais como o Chelsea se prepararem para pagar direitos de imagem. Mas nem a localização da empresa nem a firma tributarista foram escolhidas ao acaso. Com seu baixo índice de imposto corporativo, a Irlanda é considerada uma espécie de paraíso fiscal na União Europeia. E o mesmo escritório de contabilidade em Dublin que fundou a MIM também trabalhava para Jorge Mendes, oferecendo seus serviços à Gestifute, a companhia básica do agente.
Os interessados em usar Mourinho com fins de marketing tinham de pagar uma taxa à MIM na Irlanda - e quem se importava com o que acontecia com o dinheiro depois?

Os documentos do Football Leaks mostram que a MIM recebia uma pequena comissão: inicialmente era de 6,5%, mas caiu para 4% em 2010. Uma segunda empresa sediada na Irlanda, chamada Polaris, se envolveu mais tarde - a única organização na rede que tinha funcionários reais e trabalhava de verdade. Ela conseguia trabalhos de publicidade para Mourinho, e quando conseguia geralmente cobrava uma comissão de 20%.

E os impostos? A MIM e a Polaris tinham de pagar o imposto corporativo da Irlanda, de 12,5%, sobre os lucros gerados, mas o dinheiro que recebiam em comissões era uma pequena parte da quantia total. O resto do dinheiro obtido por Mourinho em publicidade - menos as comissões da MIM e da Polaris - era enviado às ilhas Virgens Britânicas, onde não se pagavam impostos.

Como, porém, Mourinho um dia poderia retirar seu dinheiro do paraíso fiscal? Não era um problema fácil de resolver, especialmente porque ninguém deveria saber que a empresa de fachada era na verdade o estoque de dinheiro de Mourinho. Os documentos deixam claro que seus assessores fiscais aparentemente estavam preocupados que toda a estrutura fosse revelada como a possível fachada de um esquema de evasão fiscal se se soubesse que o dinheiro de Mourinho acabava na Koper.

Trilha para a Nova Zelândia

Os beneficiários da Koper ficavam assim bem escondidos. Espantalhos estavam por trás da companhia caribenha. E quem se escondia por trás deles? Uma fundação na longínqua Nova Zelândia. Os documentos indicam que ela foi fundada por Mourinho em 2008. Mas ele não era o beneficiário da fundação.

Para alguém que o investigasse, seria difícil se afastar mais de Mourinho que a Nova Zelândia. Comparado com sua brincadeira infantil de esconder-se no cesto de roupas, era um esforço magistral de invisibilidade. Mas quem na Nova Zelândia? A fundação chama-se Kaitaia Trust, mas o nome de Mourinho não consta do registro comercial. Ou seja, a busca não terminou.

Ela só termina com o certificado de incorporação do fundo, que também faz parte dos documentos do Football Leaks; os beneficiários da fundação, segundo o certificado, são "a esposa nessa época e os filhos" de Mourinho. Um outro documento sugere a quem pertencem os milhões em poder da Koper. Os registros contábeis da Koper de 31 de dezembro de 2013 indicam que a firma deve a José Mourinho 11.979.657 euros, segundo o documento. Deve? Esse parece ser o truque: Mourinho confiou suas receitas de marketing - mais de 11 milhões de euros - à Koper. Ele ficava na família, a seu alcance, basicamente intocado nas contas da Koper na Suíça.

As coisas só ficaram particularmente desconfortáveis para Mourinho depois que ele se transferiu para o Real Madrid em 2010 e então voltou para mais um período no Chelsea em meados de 2013. Em julho de 2014, as autoridades espanholas começaram a vasculhar os anos que o técnico passou em Madri e sua rede de empresas. Embora o clube tivesse retido constantemente 10% de cada pagamento à Koper e os enviado ao fisco, a maioria dos outros parceiros de marketing do treinador enviava seus pagamentos à Irlanda sem reter nada. De lá, o dinheiro de Mourinho - menos as comissões habituais devidas à MIM e à Polaris - era enviado ao paraíso sem impostos das ilhas Virgens Britânicas.

O treinador nunca incluiu suas receitas de direitos de imagem em sua declaração de renda na Espanha. Em junho de 2013, Julio Senn, sócio da firma de direito tributário Senn Ferrero, começou a perceber que as coisas não acabariam bem. Senn, que já foi diretor-geral do Real Madrid e hoje é o advogado mais procurado por jogadores de futebol com problemas fiscais na Espanha, tinha falado com um colega de trabalho que esteve envolvido no caso de Lionel Messi. O astro do Barcelona tinha baseado sua empresa de direitos de imagem em Belize e no Uruguai.

Senn escreveu então a um especialista tributário chamado Carlos Osório de Castro, que aconselhava o agente Mendes. Parecia que as autoridades espanholas tinham definido uma estratégia. Só em casos em que empresas de direitos de imagem pertencentes a jogadores de futebol tivessem funcionários e escritórios reais seriam deixadas em paz. De outro modo, escreveu Senn, as receitas seriam consideradas parte do salário normal do jogador. E taxadas como tal. Para os clientes de Mendes, era uma péssima notícia.

Extremamente nervoso

Jorge Mendes - VCG/Getty Images - VCG/Getty Images
Imagem: VCG/Getty Images

Senn se preocupou inicialmente com Mourinho, que aparentemente não tinha registrado seus bens no exterior em 2012, apesar de isso ser exigido na Espanha. Em setembro de 2014, o advogado esperava que Mourinho pelo menos conseguisse evitar esse fiasco, escreveu Senn em um e-mail. Essa, segundo um advogado colega dele, seria a melhor abordagem; ele acreditava que Mourinho perderia no caso de um confronto, e não apenas ele - "todos nós". Mendes estava extremamente nervoso, comentou Senn.

Isso era compreensível, considerando que a maioria de seus clientes usava um modelo tributário semelhante, em que uma companhia offshore recebia as receitas dos direitos de imagem. Se somarmos as receitas de seus clientes mais importantes que acabaram no Caribe até hoje, o total é de pelo menos 180 milhões de euros. Internamente, Senn - que até 2014 era encarregado de livrar os jogadores de Mendes e Mourinho das dificuldades em que se encontravam - não escondia o que pensava sobre o modelo de Mendes. Em um e-mail ao especialista em tributos de Mendes, Osório de Castro, ele escreveu: "Não esqueça que a estrutura que todos os clientes de Jorge têm não é a mais adequada para pessoas que vivem na Espanha". O perito tributarista de Mendes tinha servido de assessor para o modelo. Senn se queixou de que Osório de Castro havia sido informado diversas vezes que o esquema fiscal para direitos de imagem era inadequado.

Senn foi mais explícito quando se tratava de dificuldades agudas enfrentadas pelo jogador da seleção portuguesa Fábio Coentrão. Como era típico dos clientes de Mendes, ele também tinha uma empresa de fachada no Caribe. "Senhores", escreveu Senn, "a estrutura que vocês montaram é um sério problema para o jogador".

Também foi um problema para o próprio Mendes. "Vamos esperar que eles [o fisco] não vejam a estrutura de empresas de Jorge na Irlanda como uma ajuda necessária para que os jogadores evitem pagar impostos na Espanha", escreveu Senn. Referindo-se a Coentrão, ele escreveu: "Pode ser que as circunstâncias que são menos problemáticas do que as que estamos enfrentando contra as autoridades tributárias sejam consideradas violações fiscais".

Senn ficou ainda mais aliviado - e provavelmente surpreso - quando pôde relatar em 17 de junho de 2015, depois de negociações com as autoridades fiscais, que parecia que Mourinho conseguiria se safar facilmente. Ele seria poupado de um processo criminal e de julgamento público. Só teria de pagar. A Koper poderia até descontar alguns custos - e havia até uma redução para o ano de 2013 porque Mourinho tinha se mudado da Espanha para a Inglaterra naquele verão. Diante de como a situação parecera preocupante no início, o resultado foi bastante satisfatório, comemorou Senn.

A confirmação das autoridades tributárias da Espanha chegou em 30 de junho de 2015 - e de fato tudo havia saído bem. As autoridades deixaram claro que Mourinho deveria ter declarado os milhões que ganhou com marketing a cada ano, e pago impostos sobre o valor. A autoridade fiscal determinou que todo o dinheiro mantido pela Koper pertencia a ele. O Estado pedia ao todo 5,8 milhões de euros. Eram 3,3 milhões em impostos atrasados por seus direitos de imagem e uma multa de 1,1 milhão de euros. Mourinho pagou essa quantia. Também lhe cobravam 880 mil euros em impostos atrasados e uma multa de 550 mil euros por outra questão fiscal.

Mas Senn apelou dessa parte da decisão judicial. Agora que não havia acusações criminais ou um julgamento embaraçoso a temer, ele tentava evitar o restante do pagamento por meio de uma formalidade: as autoridades fiscais, afirmou, levaram 373 dias em sua investigação, mas só eram permitidos 365 dias, ou um ano. Mourinho havia conseguido evitar uma guerra com as autoridades, mas queria entrar numa escaramuça. Quando se trata de ambição e do desejo de evitar perdas a todo custo, "Mister" - como seus advogados se referiam a ele nos e-mails internos - dificilmente pode ser superado.

Exceto por um.

O jogador mais rico do ano

Cristiano Ronaldo férias - Reprodução Daily Mail - Reprodução Daily Mail
Imagem: Reprodução Daily Mail

Há muitos porquinhos de poupança no Caribe. O que pertence a Fábio Coentrão, sediado no Panamá, chama-se Rodinn. O de Ricardo Carvalho se chama Alda Ventures e fica nas ilhas Virgens Britânicas. A Weltex Capital de Pepe também fica nas ilhas, assim como a Kenalton Asset, pertencente a James Rodríguez. Todos eles são milionários, todos jogam ou jogaram no Real Madrid e são clientes de Mendes.

Mas segundo os documentos nenhum desses porquinhos esteve tão lotado de dinheiro quanto um chamado Tollin Associates. A Tollin pertenceu a Cristiano Ronaldo. Os que a procurassem antes que ela fosse subitamente dissolvida no início de 2015 iriam parar na frente do mesmo prédio onde estavam as economias de Mourinho: na Vanterpool Plaza em Road Town, nas ilhas Virgens Britânicas, acima da farmácia da senhora Vanterpool.

O maior medo dos assessores de Mendes era que os investigadores do fisco espanhol, em busca dos milhões de Ronaldo, encontrassem sua empresa e começassem a fazer perguntas demais. Ronaldo era a marca que tinha de permanecer imaculada, o nome no qual Mendes havia apostado seu sucesso.

75 milhões para Ronaldo

Mas seis meses antes - pelo menos segundo os documentos do Football Leaks, que podem estar desatualizados -, Ronaldo já tinha colocado seu nome em outro contrato. Sem fãs e sem um espetáculo. Era um contrato que fez do jogador de futebol do ano o faturador do futebol do ano.

O documento de seis páginas garantia a Ronaldo vencimentos cuja maior parte ficaria oculta do fisco espanhol. O sócio contratual de Ronaldo era a Tollin Associates Ltd.

Como era padrão entre os clientes de Mendes, o ídolo do futebol cedia todos os seus direitos de imagem à companhia de fachada. Em troca, Ronaldo teria direito a todos os rendimentos que a Tollin tivesse ao longo de seis anos, livres de descontos significativos.

As empresas MIM e Polaris, sediadas na Irlanda, também estavam envolvidas - o mesmo velho jogo que tinha sido visto com Mourinho. Elas eram responsáveis por negociar o patrocínio global e acordos de marketing em nome de Ronaldo e recebiam os milhões resultantes. A Tollin ficava escondida em segundo plano e os parceiros de marketing eram poupados de transferir dinheiro diretamente para uma firma nebulosa offshore.

Uma pequena parte do dinheiro que chegava à Irlanda ia para o empregador de Ronaldo, o Real Madrid, de acordo com seu contrato, porque eles também podiam lucrar com a marca Cristiano Ronaldo, desde que seus ganhos de marketing superassem certo valor. A MIM e a Polaris também tiravam o que lhes era devido na forma de comissões, às vezes de até 30%, e portanto muito maiores que no caso de Mourinho. Mas tudo o mais ia para a Tollin, incluindo a soma antecipada de vários milhões que o Real havia pago para que pudesse receber uma parte das receitas de marketing de Ronaldo.

Ao todo, mais de 70 milhões de euros fluíram para a Tollin entre 2009 e 2014, e durante anos as autoridades fiscais da Espanha nada souberam sobre a fortuna secreta de Ronaldo. Foi só em sua declaração de renda de 2014 - ano em que expirou o contrato com a Tollin - que parte desse dinheiro apareceu. Mas eram apenas 11,5 milhões de euros. Ronaldo havia canalizado os quase 60 milhões de euros restantes sem que as autoridades percebessem?

O maior presente

Beckham no Real - Ian West/AP - Ian West/AP
Imagem: Ian West/AP

Ronaldo, um favorito dos deuses do futebol, parecia também ser o escolhido no que se trata de coisas terrenas como os impostos. Ele pôde lucrar com a "Lex Beckham", uma lei aprovada pelo governo espanhol em 2004 para atrair importantes cientistas e executivos empresariais para o país com a ajuda de um índice de impostos baixo. Na prática, porém, a regra rapidamente se tornou uma vantagem para os maiores clubes espanhóis na concorrência pelos melhores jogadores de futebol do mundo.

A lei conferia a jogadores estrangeiros como David Beckham, da Grã-Bretanha, e Cristiano Ronaldo, de Portugal, o status de "impatriado". A brecha só estava aberta para os que não tivessem vivido na Espanha nos dez anos anteriores e permitia que os detentores dessa posição pagassem um imposto de renda menor, inferior a 25%, sobre toda a renda que obtivessem no país. Os colegas de time de Ronaldo, em comparação, tinham de pagar mais de 50%. O maior presente, porém, era o fato de que Ronaldo só tinha de pagar imposto sobre o dinheiro que ganhasse na Espanha. Os ganhos no exterior, incluindo receitas de marketing, não eram preocupação das autoridades fiscais espanholas.

A lei foi revogada em 2010 pelo novo governo socialista, e portanto Mourinho chegou a Madri seis meses atrasado para aproveitá-la. O astro argentino Lionel Messi também não pôde se beneficiar porque também tem a cidadania espanhola. Mas os jogadores estrangeiros que se mudaram para a Espanha até o final de 2009 conseguiram um período de transição que expirou em 1º de janeiro de 2015. E foi desse regulamento que Ronaldo e seus assessores se aproveitaram plenamente.

Graças à Lex Beckham, Ronaldo só era responsável pelos impostos sobre 20% dos milhões que ganhava no estrangeiro e depositava na Tollin Associates. Essa era a porcentagem de suas receitas de marketing que seus advogados estimavam que viesse da Espanha - a parcela sobre a qual ele só tinha de pagar a alíquota inferior, de 24,75%. A maioria de suas rendas de marketing, que eram ganhas fora da Espanha, não eram taxadas.

Mas o ano de 2015 marcou o fim do privilégio - também para Ronaldo. Depois disso, como todos os que têm alta renda na Espanha, ele teria de entregar aproximadamente a metade de todos os seus ganhos ao Estado - e isso incluía somas ganhas fora da Espanha. Mas Cristiano Ronaldo aparentemente não estava preparado para deixar tanto dinheiro para as autoridades espanholas. Seus assessores cavaram fundo em seu saco de truques fiscais - até o fundo mais escuro.

No final de dezembro de 2014, pouco antes da expiração do período de transição da Lex Beckham, o futebolista profissional vendeu seus direitos de imagem para os anos de 2015 a 2020 por quase 75 milhões de euros - para somar-se aos cerca de 75 milhões que já tinham fluído da Tollin, na maioria sem pagar impostos. Os compradores dos direitos eram duas novas empresas de fachada nas ilhas Virgens Britânicas, uma chamada Arnel e a outra Adifore, e elas estavam mais uma vez registradas na Vanterpool Plaza em Road Town, na ilha de Tortola.

Uma transição caótica

Cristiano Ronaldo San Lorenzo - AP Photo/Christophe Ena - AP Photo/Christophe Ena
Imagem: AP Photo/Christophe Ena

Os contratos foram registrados em cartório em 20 de dezembro de 2014, no Marrocos. O tempo parecia ser essencial: o acordo tinha de ser concluído até o fim do ano e Ronaldo na época estava jogando no Mundial de Clubes da Fifa no Marrocos.

O contrato com a Arnel era pelos direitos de imagem de Ronaldo na Espanha, enquanto a Adifore detém seus direitos de imagem para o resto do mundo. Em 20 de dezembro, Ronaldo apresentou uma fatura a cada uma das empresas. Da Arnel, ele pedia 11,2 milhões de euros pelos direitos na Espanha, enquanto cobrava da Adifore 63,75 milhões pelos direitos globais. Ambos os pagamentos deveriam ser feitos à conta nº 413416 no pequeno e exclusivo banco privado Mirabaud & Cie, em Genebra. O dinheiro chegou apenas três dias depois.

Segundo dois contratos adicionais, o preço de compra seria mais tarde reduzido em cerca de 15 milhões de euros - 3 milhões a menos pela parte espanhola e 12 milhões abaixo pelos direitos globais. Por quê? Não está claro. Ronaldo realmente pagou os 15 milhões de volta? Não há prova de que tenha feito isso nos documentos contábeis que fazem parte do conjunto de dados. A declaração de renda de 2014 de Ronaldo também relata apenas a soma inicialmente acordada de 11,2 milhões em receitas de marketing da Espanha.

Qual, porém, foi a razão da atividade apressada no Marrocos? Ronaldo aparentemente quis tirar vantagem da alíquota de imposto mais baixa, de 24,75% sobre seus direitos de imagem na Espanha para os anos de 2015 a 2020, antes que expirasse a regra do "impatriado" no final de 2014. Ao mesmo tempo, 2014 era o último ano em que ele não teria de pagar impostos sobre sua renda em marketing no estrangeiro - os direitos globais que haviam lhe dado 63,5 milhões de uma vez. Somada, a vantagem de fazer isso chegava a 35 milhões de euros. É o que ele teria de pagar às autoridades espanholas se ganhasse o dinheiro nos próximos anos com publicidade.

Mas também havia provavelmente um segundo fator. Os investigadores tributários na época estavam cercando Mourinho e outros clientes de Mendes. Embora Ronaldo tivesse conseguido lucrar com os benefícios fiscais, seus advogados não estavam mais à vontade com sua empresa nas ilhas Virgens Britânicas. Queriam que a Tollin desaparecesse no fim de 2014, após o acordo definitivo.

Um bom amigo de Cingapura

Para vender seus direitos, Ronaldo precisava de um comprador poderoso, alguém que pudesse pagar adiantado 75 milhões pelas receitas de marketing que o jogador teria nos seis anos seguintes. Essa pessoa se chama Peter Lim. O empresário de Cingapura vale cerca de US$ 2,4 bilhões e tem laços estreitos com Mendes. E, ainda mais importante nesse tipo de negócio, Ronaldo se refere a ele como "um bom amigo". Parece que ele esteve por trás das duas empresas nas ilhas Virgens, Adifore e Arnel.

Era um modelo de economia de impostos quase perfeito para Ronaldo - quase. No final de junho de 2015, ele entregou sua declaração de renda de 2014. A equipe de Julio Senn - os principais contadores da Espanha no jogo contra as autoridades fiscais - a havia elaborado. Eles incluíram seus ganhos até o último centavo. O salário de seu empregador: 34.672.988,31 euros, segundo seu antigo contrato. Ativos: sua casa em Madri (4,5 milhões de euros), algum dinheiro em contas bancárias para gastos esporádicos (10.799.387 euros) e carros, incluindo carros esportivos exclusivos como um McLaren MP4, um Lamborghini Aventador e uma Ferrari 599 (1.248.152 euros).

Não constam de sua declaração de renda de 2014, porém, e aparentemente não tiveram interesse para as autoridades espanholas, seus ativos no exterior. Suas 15 casas em Portugal, suas contas no St. Galler Kantonalbank na Suíça, no Banco BPI em Portugal e no Banque Internationale em Luxemburgo. Também não se mencionava sua conta no Mirabaud, um banco privado em Genebra, onde acabaram os 75 milhões da venda de seus direitos de imagem para a Arnel e a Adifore. No final de 2014, seus depósitos lá chegavam a mais de 110 milhões de euros.

Ronaldo tinha recebido 63,5 milhões de euros daquela quantia da Adifore por seus direitos de imagem globais, aparentemente sem pagar um único euro em impostos. Porque não precisava? Porque a lei deixava uma brecha? Ou era mais uma questão de interpretação?

Seja qual for o caso, os contadores de Ronaldo aparentemente tiveram dificuldades para decidir o que deveriam revelar às autoridades sobre suas receitas de marketing. Na véspera do prazo final para a entrega da declaração, o documento só refletia os 11,2 milhões de euros que Ronaldo tinha recebido da Arnel por seus direitos de imagem na Espanha nos anos de 2015 a 2020. Ele estava aparentemente preparado para pagar impostos sobre esse valor.

Temendo o pior

Cristiano Ronaldo e Jorge Mendes - Europa Press/Getty Images - Europa Press/Getty Images
Imagem: Europa Press/Getty Images

Mas e as receitas de marketing na Espanha para os anos de 2009 a 2014 que acabaram na Tollin? O rascunho não dizia nada sobre esse dinheiro, embora Ronaldo tivesse de pagar impostos sobre ele. A Tollin tinha recebido 11,5 milhões de euros de publicidade com Ronaldo na Espanha. Essa soma foi finalmente incluída no rascunho final, datado de 30 de junho, e adicionada aos 11,2 milhões do acordo da Arnel, chegando a um total de 22,7 milhões. Não havia indício em qualquer documento que faz parte dessa declaração de renda que o dinheiro veio de uma companhia de fachada sediada nas ilhas Virgens Britânicas.

A equipe da Senn Ferrero temia o pior. Eles escreveram para Osório de Castro, o tributarista que trabalhava com Mendes, dizendo que não queriam ter ligações com o modelo fiscal de Ronaldo. "Nós não participamos da criação da estrutura, implementação ou monitoramento", declararam expressamente. Em outras palavras, Mendes e sua equipe eram responsáveis. Quando tudo foi enviado ao fisco, um funcionário da Senn escreveu a seus colegas: "Graças a Deus que cobrimos nossas costas um milhão de vezes, porque posso ver que essa declaração de renda terá consequências".

E teve. Uma auditoria começou no final de 2015, inicialmente para os anos de 2011 a 2013. Um período tumultuoso se seguiu para a Senn Ferrero. Eles subitamente tiveram de apresentar diversos documentos o mais rapidamente possível, incluindo os contratos de Ronaldo com o Real Madrid, com seus patrocinadores e com as empresas de marketing MIM e Polaris, sediadas na Irlanda. A equipe destacada para proteger Ronaldo, chefiada por Julio Senn, sabia exatamente qual era o ponto mais fraco no modelo de impostos de Ronaldo: a Tollin.

Osório de Castro, um antigo assessor de Mendes que tinha oferecido sua perícia para o modelo offshore, também percebeu isso. A equipe de Senn queria saber dele a quem pertencia realmente a Tollin. A resposta: "A informação sobre a Tollin, a mais delicada, temos de conversar a respeito". Alguns dias depois, ele escreveu: "Não digam nada sobre os beneficiários da Tollin ou sobre os administradores sem falar comigo primeiro".

Por que todo mundo ficava tão preocupado quando se falava na Tollin?

Alívio prematuro?

Cristiano Ronaldo - Efe - Efe
Imagem: Efe

Ronaldo aparentemente teve sorte dessa vez também - ou gozava de uma grande compreensão das autoridades espanholas. Afinal, lá existem agentes tão próximos da Senn Ferrero que eles não apenas enviam e-mails aos advogados de suas contas oficiais, mas também de suas contas privadas. No final, eles não quiseram considerar Ronaldo como o dono da Tollin, apesar de grande parte de seu dinheiro ir para a firma. A notícia deixou a Senn Ferrero em um clima animado: "Conseguimos". As autoridades não veem as companhias "que fazem negócios com a MIM, no caso a Tollin", como propriedade dos jogadores. "Graças a Deus."

Afinal, o alívio talvez fosse prematuro. De início, as autoridades só examinaram as declarações de renda de Ronaldo até 2013. Se elas decidissem verificar mais de perto 2014, como os advogados de Ronaldo esperavam, ficaria claro o papel da Tollin, assim como a venda dos direitos de imagem de Ronaldo para as empresas nas ilhas Virgens Britânicas.

As autoridades decidiriam mais uma vez que não havia nada suspeito? Ronaldo teria sorte mais uma vez? A pergunta decisiva é esta: era legal Ronaldo declarar seus ganhos com direitos de imagem de 2015 a 2020 em 2014, o último ano em que ele poderia gozar dos privilégios fiscais a que tinha direito como "impatriado"? E, antes disso, todas as receitas de marketing geradas na Espanha para a Tollin de 2009 a 2014 não deveriam ser atribuídas a ele? Afinal, ele era o único beneficiário da companhia de fachada.

Segundo o contrato, todo o dinheiro coletado pela Tollin pertence a ele. Para especialistas tributários como o advogado hispano-germânico Rafael Villena, de Hamburgo, que passou anos examinando essas estruturas, a situação é clara: "Ronaldo deveria ter declarado todo o dinheiro pago à Tollin em cada ano de 2009 em diante, e não só em 2014". E sobre a receita dos anos de 2015 a 2020, "ele não deveria poder declará-la em 2014. Não posso imaginar uma autoridade fiscal admitindo tal coisa".

O advogado de Munique Peter Duvinage, que ofereceu consultoria contratual para astros do show business e atletas durante anos, concorda: "Quando se trata de estruturas de impostos envolvendo um paraíso offshore como as ilhas Virgens Britânicas, os alarmes devem soar para todas as autoridades fiscais".

Talvez fosse isso que um dos funcionários de Julio Senn tinha em mente quando escreveu para seu chefe em 16 de março de 2016: "A única coisa boa é que a Tollin não existia mais em 2015".

A admissão

A rede Colaborações Investigativas Europeias (EIC) apresentou os resultados de seus relatórios aos astros, clubes e agências. A extensa lista de perguntas visava basicamente descobrir o que eles sabiam sobre as atividades envolvidas, o que eles tinham a dizer sobre as acusações feitas a eles e como avaliavam os documentos. Ronaldo, Mourinho e seu agente Mendes se recusaram a responder. Os jogadores portugueses Carvalho, Coentrão e Pepe, assim como o colombiano Rodríguez, astro do Real Madrid, também não responderam. Tampouco recebemos resposta do bilionário Peter Lim, nem das empresas irlandesas MIM e Polaris.

Recebemos, entretanto, uma declaração de Osório de Castro, o especialista em tributos de Mendes. "Não tenho nada a ver com a construção de uma estrutura empresarial para direitos de imagem para os jogadores citados", escreveu ele. Do mesmo modo, negou "categoricamente" todas as acusações e disse que se recusa a dizer qualquer coisa sobre as questões profissionais ou clientes como questão de princípio. Osório de Castro criticou a "caça às bruxas" e disse que o vazamento derivava do roubo de dados da firma de contabilidade fiscal Senn Ferrero. Os documentos obtidos foram "distorcidos e manipulados", escreveu ele.

Pessoas da Senn Ferrero também afirmaram que alguns dos documentos foram forjados, mas os advogados espanhóis não quiseram ser citados nominalmente. Mas há cerca de duas semanas um suposto representante da Senn Ferrero visitou os escritórios do jornal "El Mundo", membro da EIC, em Madri. Ele entregou um memorando de duas páginas impresso em papel sem timbre. Dizia que no caso de Mourinho as autoridades tributárias sempre souberam da empresa Koper nas ilhas Virgens Britânicas. No caso de Ronaldo, afirmava a carta, os investigadores fiscais estão examinando melhor as construções tributárias, como fazem para muitos atletas. A firma de advocacia tributarista, dizia a carta, não acredita que as autoridades encontrarão algo objetável. Aqui também se afirmou que os documentos em posse dos jornalistas são falsos.

A EIC fez o possível para determinar a autenticidade dos documentos e nem a "Spiegel" nem qualquer de seus parceiros encontrou qualquer indício de que os papéis fossem falsos ou tivessem sido parcialmente manipulados. Em artigos anteriores na "Spiegel" derivados dos dados do Football Leaks, nem um único documento foi revelado como falso. A Senn Ferrero e Osório de Castro igualmente não quiseram identificar quais documentos eles achavam que foram manipulados.

Na sexta-feira, a Gestifute, companhia pertencente a Jorge Mendes, publicou uma declaração em seu site na web referente aos documentos do Football Leaks. "Tanto Cristiano Ronaldo como José Mourinho estão totalmente em dia com suas obrigações fiscais com as autoridades espanholas e britânicas", dizia a versão em inglês da declaração. Ela continua: "Nem Cristiano Ronaldo nem José Mourinho estiveram envolvidos em processos legais referentes a uma ofensa fiscal". A declaração também diz que em casos em que houve "desacordos" entre clientes da Gestifute e "as respectivas autoridades fiscais", eles foram resolvidos sem a necessidade de processos legais. A Gestifute não comentou questões relativas a custos ligados à Koper no caso Mourinho.

Mais tarde, uma agência de relações públicas britânica que representa o agente Mendes e os astros Mourinho e Ronaldo emitiu uma declaração dizendo que o próprio Mendes nunca teve nada a ver com os modelos fiscais dos jogadores. Dizia que eles foram criados a pedido dos times e com a ajuda de assessores tributaristas. Além disso, no caso de Mourinho, dizia, as autoridades não foram enganadas em auditorias fiscais na Espanha e na Inglaterra.

O Real Madrid deixou a maioria das perguntas sem resposta, justificando sua reticência ao notar que o vazamento de dados foi ilegal. Além disso, segundo o clube, os dados continham informação pessoal sobre as quais só os indivíduos envolvidos tinham o direito de comentar, e não o clube. O Real Madrid insistiu que obedeceu consistentemente às leis aplicáveis, notando que em casos em que o Real pagou por direitos de imagem o clube sempre reteve os impostos devidos e os transferiu ao Estado de acordo com a lei espanhola. Aqui, o clube provavelmente se refere aos 10% que eram pagos de fato ao fisco quando o Real pagava à empresa irlandesa MIM por publicidade com Ronaldo ou Mourinho. É por isso que, continua a declaração do relatório, não foram descobertas "irregularidades" nos casos em que os impostos do clube foram auditados.

O ex-jogador do Real Madrid Mesut Özil apelou da multa fiscal contra ele e seu advogado não quis comentar o caso. As autoridades tributárias da Espanha também não fizeram declarações.

Na Inglaterra, o clube londrino Chelsea insistiu que sempre obedeceu à lei prevalecente no que se refere a pagamentos por direitos de imagem, inclusive no caso de Mourinho.

As autoridades fiscais inglesas, porém, não quiseram dar uma liberação completa. Elas indicaram que não comentariam casos individuais, mas acrescentaram que a autoridade fiscal "examina cuidadosamente os acordos entre clubes de futebol e seus empregados em relação a qualquer pagamento por direitos de imagem, para garantir que o imposto correto seja pago". Elas acrescentaram: "Levamos a sério denúncias de que clientes ou seus agentes podem ter agido com desonestidade no curso de um inquérito e podemos reabrir casos encerrados se suspeitarmos de que isso aconteceu".

Parece quase uma ameaça, e uma que Mourinho deveria levar muito a sério desta vez. Porque, afinal, não serão os jornalistas que darão o veredicto final sobre suas aventuras e as de outros no Caribe. Será o Judiciário.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves