Um menino da Vila está perto de defender a seleção da Ucrânia
Em 2007, o Santos precisava de um gol contra o São Caetano para ser campeão paulista quando Vanderlei Luxemburgo olhou para o banco de reservas e viu Moraes. O jogador era uma das revelações das categorias de base que estavam aparecendo naquela temporada. O treinador não pensou duas vezes: “Entra lá e decide”.
O menino da Vila entrou e decidiu. Aos 36 minutos do segundo tempo, completou um cruzamento da esquerda, colocou a bola para dentro e achou que a carreira decolaria. Não decolou. Muitas lesões apareceram e ele precisou ir para a Europa para brilhar. Foi artilheiro na Romênia, na Bulgária e na Ucrânia. Hoje, aos 29 anos, está perto da seleção.
O detalhe: não é a seleção brasileira, mas a ucraniana. Desde o ano passado, Junior Moraes, como é conhecido na Europa, é monitorado pela Federação Ucraniana de Futebol para defender o time nacional. Ele mora há quatro anos e meio no país e precisa de mais seis meses para conseguir a naturalização. O assédio é tão sério que Andriy Shevchenko, maior jogador da história do país e hoje técnico da seleção, já conversou com o brasileiro sobre a possibilidade.
“A gente conversou sobre a situação e o interesse [da Ucrânia]. Mas tenho até julho para pensar sobre a opção. Não é uma escolha fácil abandonar o sonho de defender a seleção brasileira”, admite o jogador. “Mas tenho um bom relacionamento com Shevchenko, e principalmente, com o auxiliar técnico dele [o espanhol Raúl Riancho), que foi auxiliar do Dínamo”, completa.
Amizade com craque ucraniano ajudou
Para quem estranha o interesse em um brasileiro que só os fanáticos por futebol europeu conhecem em detalhes, alguns números ajudam a explicar. O primeiro: ele é o artilheiro Campeonato Ucraniano, com seis gols. Seu time, o Dínamo de Kiev, é o atual campeão nacional e está disputando a Liga dos Campeões.
Mais do que isso, a equipe é a base da seleção local e conta com o grande craque do país no momento, o também atacante Andryi Yarmolenko. O bônus? Ele é um dos jogadores que melhor receberam Moraes no ano passado, quando ele chegou à equipe e ajudou na conquista do título.
“A Ucrânia é um país fechado. O pessoal é muito patriota e não tem aquela abertura que os brasileiros têm com os estrangeiros. Quando você consegue desenvolver uma amizade com eles, porém, as coisas mudam. E na minha adaptação ao Dínamo, o Yarmolenko foi um dos jogadores que mais se esforçaram para me receber. Ele se esforçou desde o começo para me ajudar”, lembra o brasileiro, que admite que isso pode pesar em sua decisão sobre a seleção, no ano que vem.
“A amizade fora de campo e dentro de campo, esse entrosamento que construímos jogando juntos no Dínamo, pesa em qualquer decisão. Pensar em uma futura dupla de seleção com ele ajuda, é claro”, fala o brasileiro. “Hoje, na Ucrânia, ele é o jogador de maior destaque. É bem diferente dos outros ucranianos. Ele tem algo de improvisação e muita qualidade técnica que você não vê por aqui. E, por ser alto, consegue se sobressair. Tem um futebol bem interessante. Sou um admirador”.
Gols na Ucrânia, dificuldades na Champions
Quem o ouve falar sobre Schevchenko e Yarmolenko acha que a decisão está tomada. Não é bem assim. Do mesmo modo que fala com carinho sobre o país que o acolheu, ele também não esconde aquela esperança de ser lembrado pela seleção. “Eu ainda sonho. Sei que é possível. Mas para isso, eu preciso de resultados”.
Esses resultados, no caso, são o sucesso no futebol da Ucrânia e nos torneios da Europa. O primeiro ele já conseguiu. Antes de virar estrela no Dínamo, ele foi o maior artilheiro da história do Metalurg Donetsk, com 37 gols em 70 partidas pelo clube. Na Liga dos Campeões, ele ainda está devendo. O Dínamo fez três partidas até agora no Grupo B e a ainda não venceu. O brasileiro passou em branco nas três partidas.
Sem sucesso na Champions, será que o desempenho no leste europeu basta? O brasileiro aposta na história recente de estrelas do campeonato local para dizer que é possível. “O futebol ucraniano não é tão popular no Brasil e, por isso, existe o receio quando um jogador é convocado. Vi acontecer muito disso quando os jogadores do Shaktar começaram a ser chamados. As pessoas não lembravam daqueles nomes, não sabiam como o William ou o Douglas Costa jogavam, como estava a forma do Fernandinho. Hoje isso mudou. O que aconteceu com esses três jogadores que eu citei mudou a visão. Eles provaram que a Ucrânia é um bom centro de transição”, explica.
Além dos brasileiros que citou, Moraes lembra do armênio Mkhitaryan, que saiu do Shaktar, fez muito sucesso no Borussia Dortmund e se transformou em uma das dez maiores transações da temporada ao chegar ao Manchester United. “A Ucrânia é uma escola muito boa para o jogador crescer. Todos que passaram por aqui estão brilhando. Acho que não existe mais o preconceito”.
Foi por isso que o próprio Moraes resolveu ficar na Ucrânia no ano passado, quando recebeu sondagens de clubes brasileiros. “Ouvi rumores e sondagens de Corinthians e Atlético-PR, mas não aconteceu nenhuma proposta concreta. Meu objetivo ainda é ficar na Europa. Estou com 29 anos e ainda penso em jogar em um clube grande do centro da Europa”.
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