Como é a rede social dos russos que permite ataques de grupos extremistas
Os russos têm um jeito próprio de ser e se relacionar com as pessoas. Não à toa, recusam o globalizado Facebook para usar uma rede social só deles. Ela se chama Vkontakte, ou VK, e é muito parecida com a rede de Mark Zuckerberg. Mas como quase tudo na Rússia, tem suas particularidades. Chama a atenção porque permite o ataque de grupos extremistas que vêm até perseguindo mulheres e praticando racismo no período da Copa do Mundo.
Apesar de ser uma rede russa, e o governo local exercer um controle maior sobre seus cidadãos do que em países ocidentais, o VK não é tão controlado quanto o Facebook. Assim, pessoas infringir virtualmente a lei é comum. E não há punição. No período do Mundial, por exemplo, um grupo chamado ‘boceta rosa’ foi criado após os assédios sexuais de brasileiros contra mulheres que viralizaram em vídeos. A comunidade, ao invés proteger, perseguia e humilhava as vítimas.
O grupo extremista culpa as mulheres pelos ataques, usando o comportamento em relação aos estrangeiros como justificativa. É comum encontrar publicações chamando-as de prostitutas. São mais de 6500 seguidores. “A mulher não perde tempo. Primeiro ela se joga em cima e depois ela puxa o cara”, mostra um desenho. Em um vídeo, um homem com um chifre na cabeça está dentro de um carro com um colega ao lado. Ele liga para a sua mulher e ela diz que não pode falar porque está com um mexicano. Ele então diz para o colega que a mulher está trabalhando.
Mesmo com o conteúdo preconceituoso, o grupo continua funcionando livremente. Páginas com conteúdos racistas também são disseminados sem pudor. Brasileiros e pessoas de outras nacionalidades são chamadas de "macacos" e "imundos".
Apesar dessa faceta perigosa, o VK é um sucesso. Tem mais de 30 milhões de usuários e é bem semelhante ao Facebook, inclusive no layout. Conta espaços para notícias, fotos e comunidades. Mas apresenta uma grande vantagem aos usuários: como a Rússia não tem lei de direitos autorais, russos compartilham livremente músicas, livros e até filmes inteiros.
Eles não precisam, por exemplo, de aplicativos como o Spotify. Não faz sentido pagar por algo que é gratuito na rede social. Há casos até de usuários que baixam obras inteiras na rede, fazem a impressão e depois vendem em outros países. Inclusive no Brasil.
Se os russos se beneficiam da rede, o governo também usa a seu favor. O jornal TvRain publicou que, nas últimas eleições, o presidente Vladimir Putin usou perfis de pessoas que já morreram para fazer campanha. O conteúdo de todas as mensagens era semelhante - um pôster que mostrava Putin, uma declaração sua em uma entrevista e um conjunto de hashtags. Uma delas dizia #Putinlegal em russo.
A página de Lyudmila Brykova chamou atenção neste contexto. O espaço tinha duas mensagens com o mesmo tipo de conteúdo: o pôster de Putin e um conjunto de hashtags. Publicações de 2018. Quando você olhava um pouco mais para outras postagens, percebia que as últimas eram de 2013. A própria página anunciava que Lyudmila havia morrido naquele mesmo ano.
O Zuckerberg russo
Por trás do VK está o empresário Pavel Durov. Ele criou a rede social na faculdade, se tornou bilionário e é uma figura super popular entre os russos, especialmente para as novas gerações. Não à toa, é comparado com Mark Zuckerberg. Mas Durov tem uma vida mais difícil, digamos assim. Prega a liberdade máxima em um país que quer controlar seus cidadãos a qualquer custo.
Ele já travou guerra com Putin. Ele foi perseguido pelo governo porque se recusou a fornecer dados de usuários da Ucrânia para a Rússia. Também foi firme ao dizer que não fecharia páginas que faziam oposição a Putin. Durov defende a segurança de seus usuários acima de tudo. Durov é uma personalidade discreta e não dá muitas entrevistas, mas tem alguns comportamentos inusitados. Um deles é jogar dinheiro pela janela dos escritórios do VKontakte, em São Petersburgo, para transeuntes surpresos.
Em abril de 2014, Durov deixou a diretoria da VK. Mas não ficou parado. Seguiu inovando e criou o serviço de mensagens Telegram. A ideia surgiu em 2011, depois que a SWAT invadiu a sua casa em São Petesburgo por ele ter se recusado a tirar páginas da oposição de Putin no ar. Ali ele percebeu que não tinha segurança no país. Durov acabou se mudando da Rússia.
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