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Copa 2018

Lembra da língua nas chuteiras? Ela morreu. A próxima vítima é o cadarço

Por Bruno Doro

Do UOL, em Herzogenaurach (Alemanha)

24/05/2018 05h00

A Adidas lançou, nesta quinta-feira, a chuteira que Gabriel Jesus irá usar na Copa do Mundo da Rússia. O brasileiro é o grande garoto-propaganda da nova X-18, que virá, inicialmente, em azul e amarelo – uma clara referência ao uniforme brasileiro.

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A principal novidade, porém, está em uma ausência. É a primeira vez que a marca alemã manda, para a Copa do Mundo, toda uma família de chuteiras sem cadarços.

“Hoje, o conceito de uniforme esportivo é o de segunda pele. Com essa ideia, acreditamos que remover o cadarço promove um ajuste anatômico muito mais preciso”, explica Rob Aschcroft, diretor de materiais esportivos da empresa alemã.

Se você, como muitos que jogam futebol, questiona se uma chuteira sem cadarços não pode ficar solta no pé, a resposta é rápida: “Se o ponto de discussão é como a chuteira se encaixa ao pé, algo que hoje se garante com os cadarços, acreditamos que com os novos materiais que desenvolvemos, atingimos um encaixe muito mais firme do que com cadarços”, adianta Aschcroft.

Esse ajuste é garantido pela ideia de que as novas chuteiras não são calçadas, mas vestidas. Hoje, elas estão sendo tratadas pelas marcas esportivas muito mais como meias do que como calçados. Essa é uma tendência que vem de 2014, quando a Nike lançou a Mercurial Superfly, a primeira chuteira com botinhas usada em Copas do Mundo.

Até hoje, a empresa norte-americana segue usando cadarços em seus principais lançamentos. A tendência, porém, é que eles comecem a morrer. A Adidas iniciou esse processo em 2016. A versão de 2018 é uma melhoria daquelas, com ajustes mais eficientes e materiais mais resistentes.

Caso você duvide dessa tendência, olhe para outra vítima desse processo: as línguas das chuteiras. Percebeu que elas já morreram? Desde 2014, com as botinhas, as chuteiras mais modernas não têm nada que lembre uma língua. E esse processo vem da metade da década de 2000.

Em 2004, a Adidas lançou a F50, sua primeira chuteira com cadarços internos. Aquele modelo, inspiração da atual X18, já iniciava o processo de fabricação de um cabedal com menos peças. A versão de 2006 da F50 já apresenta a estrutura da chuteira em uma peça única. Ainda tinha cadarços internos, mas já não existia a língua como corpo externo ao calçado.

Foi nesse ano, também, que a italiana Lotto criou a primeira chuteira profissional sem cadarços. A Lotto Zero Gravity era difícil de calçar e tirar, mas fornecia esse efeito “vestir o pé” pela primeira vez. Desde então, todas as marcas buscam variações disso. A botinha da Nike tinha esse objetivo. As chuteiras sem cadarços da Adidas também.

“Quando você olha pra essa chuteira, pensa que está olhando para um conceito. Não é: é o produto final, que estará disponível nas lojas. Nós acreditamos que o futuro é sem cadarços e é isso que entregamos”, explica Sam Hardy, vice-presidente de design da Adidas.

Segundo ele, a aceitação da chuteira depende apenas da idade de quem está usando. "Os jovens hoje aceitam as novidades com muito mais facilidade. Ao ver jogadores como Gabriel Jesus usando uma chuteira sem cadarços, eles irão tratar com naturalidade usar, eles próprios, chuteiras sem cadarços. É claro que vamos continuar oferecendo versões, inclusive da X18, com cadarços. Afinal, é preciso admitir que nem todos os formatos de pés vão obter o ajuste desejado pelo usuário. Mas, no fim das contas, acreditamos que é muito mais uma questão de costume. Quem está acostumado com cadarços vai continuar com eles".

*Repórter viajou a convite da Adidas?

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