Frustração e mágoa com médico: atletas relembram cortes na seleção

A alegria por fazer parte de uma lista de convocados para a Copa do Mundo pode ser comparada, proporcionalmente, à tristeza por estar tão perto dela, mas na última hora acabar cortado por conta de uma lesão. Somente quem viveu essa situação pode tentar expressar em palavras o que viveu desde o momento em que se machucou até a confirmação de que, realmente, não estaria presente no Mundial. O mais recente drama ocorreu com Daniel Alves, que não será convocado após ser constatada uma lesão no joelho.
O UOL Esporte conversou com alguns jogadores brasileiros que voltaram no tempo para relatar o duro momento do corte e reviver o que aconteceu para que o sonho da Copa do Mundo deixasse de ser uma realidade. Ainda magoado e chateado com o técnico Luiz Felipe Scolari pelo corte em 2002, o ex-volante Emerson (que acabou substituído por Ricardinho) foi o único dos procurados que preferiu não falar com a reportagem. Confira:
CARECA (1982)
Ainda no Guarani, primeiro clube de sua carreira, Careca já dava demonstrações do grande jogador que se tornaria. Ficou bem perto de ir à Copa de Mundo de 1982, na Espanha, mas rompeu o adutor da coxa durante um treinamento com a seleção brasileira, na Espanha. Deu lugar a Roberto Dinamite, mas voltaria a defender o Brasil nos Mundiais de 1986 e 1990.
Alegria por ser lembrado antes da Copa
Como eu posso dizer? Uma alegria em parte por ter sido lembrado numa fase legal, com 21 anos, jogando pelo Guarani e ser lembrado pela comissão técnica, pelo Telê. Eu tinha trabalhado com o Telê em 81, em Toulon, no sub-23, ele era o supervisor, e para 82 o Telê me convocou. Então de um lado aquela alegria; eu, moleque, com 21 anos, estava numa grande fase e a seleção era maravilhosa, tanto é que mesmo sem ganhar o título é lembrada até hoje, uma das melhores que existiu. E a decepção maior foi o momento em que eu me machuquei, a tristeza foi grande.
“Eu não tinha condição”
Como foi a lesão
Eu me lesionei em um treino em Carmona, na Espanha, perto de Sevilha. O Edinho meteu uma bola para mim, eu entrei nas costas dos zagueiros, a bola passou por cima do Oscar, foi longa demais, e aí eu estiquei a perna lá em cima para dominar e a outra ficou no chão, e na velocidade deu o estalo e rompeu o adutor. Infelizmente me machuquei, é uma coisa da profissão, mas joguei em 86 e 90.
TONINHO CEREZO (1986)
Substituído por Valdo, Toninho Cerezo ainda não se conforma de ter sido cortado da Copa de 1986, no México. Especialmente pelo fato de ter jogado 15 dias depois do corte e ter feito um gol decisivo na Copa da Itália, atuando pela Roma – antes de acertar com a Sampdoria.
Gol decisivo pela Roma logo após o corte
Como foi a lesão
Eu tive uma lesão no adutor na coxa. Eu fiquei aqui na Toca da Raposa três meses tratando, e depois desses três meses eu já comecei a treinar com o time lá no México, mas tinham quatro jogadores: eu, Dirceu, Zico e Sócrates, e na época eles optaram pela minha saída e do Dirceu.
Corte o fez perder muito dinheiro
Médico foi o responsável
Quem me cortou praticamente foi o Neylor Lasmar, pessoa que eu conheço dentro do Atlético-MG já há muitos anos, e principalmente na direção do Telê... Agora eu fiquei chateado porque qualquer um ficaria chateado, né? Mas com o passar do tempo você vê que são pessoas sérias, principalmente o Telê, que é um cara que eu devo muito.
RICARDO GOMES (1994)
Como foi a lesão
A minha lesão foi no posterior da coxa e também uma lesão no joelho que já era antiga. Mas não foi por causa do joelho; o joelho eu tinha limitação, amplitude do joelho, e isso acarretou nessa lesão na coxa posterior. Você pode dizer o seguinte: ‘Você jogou com esse joelho muito tempo com limitação, mas não daria véspera da Copa de 94’? Não, não tinha como, a lesão na coxa me tirou do Mundial. A recuperação pede aí de 20 a 30 dias para voltar a começar a treinar.
Qual o sentimento?
O sonho de um jogador é ir para uma Copa do Mundo, e ser cortado no momento de ir à Copa não foi nada agradável. A comissão técnica me informou sobre o corte, o médico era o Dr. Lídio Toledo. Mas o mais importante é que o Brasil foi campeão.
MÁRCIO SANTOS (1998)
Titular na conquista do tetra, Márcio Santos ficou perto de disputar a Copa do Mundo seguinte, na França. Porém, uma fisgada na coxa o fez ser cortado da seleção; na opinião do ex-zagueiro, de forma totalmente injusta, uma vez que ele entrou em campo normalmente dias depois. Ele aponta o já falecido médico Lídio Toledo como grande responsável pela sua ausência em 1994 – André Cruz foi o seu substituto, mas também se machucou logo depois da convocação.
Culpa da lesão foi do hino nacional?
“Zico e Zagallo não queriam me cortar”
Aí eu vou entrar na parte principal. O que acontece? Não foi uma lesão grave, tanto é que acabou o jogo e eu fui dar a volta olímpica, eu era o capitão. A minha lesão foi bem simples. Em menos de uma semana dava para recuperar, foi só uma fisgada, ainda bem que eu parei na hora. E na terça-feira eu me apresentei novamente à seleção brasileira e me reuni com a comissão, das 7h até as 10h da noite, na sala de Teresópolis. E o Zico e o Zagallo não queriam me cortar de jeito nenhum, eles falaram: ‘A gente precisa do Márcio em 20 dias’, e eu falei: ‘Essa lesão no máximo até sexta-feira, sábado, eu estou jogando, estarei normal de novo, é só para eu me recuperar, eu me conheço bem’, e eu raramente tive lesão na carreira, não era uma lesão grave.
“O culpado foi o Dr. Lídio”
Estava o [Paulo] Paixão, preparador físico na época, e ele falou: ‘Eu não sei, não, ele vai perder alguns dias de treinamentos, vamos ter que chamar gente em Teresópolis para completar treinos’... Ele jogou água no meu chopp, cantou, né? E o Zico falou: ‘A gente precisa do Márcio daqui a 20 dias, para a Copa, não é agora que a gente vai precisar dele. Porque naquela semana a gente ia treinar no Rio de Janeiro e, na semana seguinte, ia começar a treinar em Paris. Aí deixaram a última palavra para o Dr. Lídio Toledo, e ele falou: ‘Não sei gente, vai ter que trazer outro’, e definiu me cortar porque ele era a última palavra, do médico. Foi precipitação do Dr. Lídio, e ele foi mal, entendeu? O Zagalo e o Zico não queriam me cortar de jeito nenhum. O culpado é o falecido Dr. Lídio, ele quem deu a palavra final.
Novo convocado também se machucou
EDMÍLSON (2006)
Titular do Brasil na conquista do pentacampeonato, Edmílson poderia ter disputado também a Copa do Mundo de 2006. Mas uma lesão no menisco do joelho direito impediu de ir à Alemanha, dando lugar a Mineiro. Assim como Ricardo Gomes, vê como justa sua ausência.
“Entramos num consenso e fui cortado”
Sentimento de frustração
O sentimento foi de frustação, porque logo que eu cheguei no Barça eu fiquei oito meses parado, aí eu voltei e esse time de 2006 estava encaixadinho, ganhou a Copa América, Copa das Confederações, e nós fomos campeões espanhóis, da Liga dos Campeões, e foi quando o Parreira me convocou... Então foi frustrante. Eu fiquei machucado e lutei muito para conquistar a convocação, que não foi fácil, e depois eu fui cortado logo no começo. Foi angustiante porque eu tinha a vontade participar de mais uma Copa do Mundo. Eu estava numa fase boa porque eu estava experiente. Em 38 jogos eu joguei 34; na Champions foram 12 jogos, eu joguei 10. Eu estava numa fase excelente, experiente, tinha a experiência de ter jogado o Mundial de 2002, foi uma fase importante que eu estava.
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