Rodrigo Mattos

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Só alucinação explica ataques contra Tite por trabalho no Flamengo

A decisão do técnico Tite de não escalar alguns titulares em jogos da Libertadores gerou uma discussão pertinente sobre a estratégia. Para quem quiser formar opinião, é possível ler todas as razões dele e de sua comissão técnica neste texto do blog. Esse debate, no entanto, descambou para um movimento de alguns torcedores do Flamengo contra o treinador.

Trata-se de uma alucinação, isto é, gente que tem visões e a partir daí enxerga uma realidade paralela inexistente. Uma torcida de 40 milhões de pessoas é bem grande, e é previsível que exista a ala Fla-Alucinada.

Lembremos, sob o comando de Tite, o Flamengo estava invicto no ano até 24 de abril quando foi derrotado para o Bolivar. Passou um Estadual com só um gol sofrido, em jogo com o time reserva. Ocupa, antes da rodada, a 2ª posição no Brasileiro.

É verdade que o futebol não é brilhante. Mas qual o time que está jogando bola de forma vistosa no ano? Não é o Palmeiras, nem o Atlético-MG, nem o Inter, para citar os elencos mais polpudos juntamente com o rubro-negro. Há lampejos e escorregões aqui e ali de todos.

Neste cenário, Tite montou um time sólido defensivamente, que cria jogadas de ataque, obtém resultados e está em evolução. Foi mal na primeira parte da fase de grupo da Libertadores, fato, mas nada desesperador. Perder em La Paz, por exemplo, é quase padrão para times brasileiros.

A implicância com o treinador tem duas explicações possíveis:

1) sempre houve má vontade com Tite de uma ala da torcida rubro-negra porque seus métodos, menos sanguíneos e mais pragmáticos, não casam muito com a natureza do clube. Lembremos que ele chegou a ser vaiado ao ter o nome anunciado em um jogo de Estadual sem grandes motivos.

2) Há uma fatia da torcida do Flamengo que vive em Nárnia desde 2019. Nárnia é um mundo encantado separado da realidade, criado pelo escritor irlandês Clive Lewis em um romance. Na Nárnia rubro-negra, o time não pode nunca mais perder e tem que golear todos os adversários porque um dia viveram os seis meses mais felizes de sua vida. Fora isso, é fracasso.

E essa ala é alimentada por oportunistas influencers que vivem de clicks em volta de supostas crises no clube. É gente que vai para uma coletiva e pergunta para Tite sobre essa "novidade da ciência". Cláudio Coutinho, possivelmente o maior técnico do Flamengo, foi pioneiro no uso de dados científicos ao preparar times. Montou o esquadrão rubro-negro da década de 80. A Fla-Alucinado desconhece.

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Pode-se argumentar que alucinados não devem ser respondidos, e sim ignorados. Mas a gritaria histérica contaminou o debate no Flamengo, assim como já fez na política nacional e como faz em outros clubes.

É preciso apontar o nível de loucura que é sequer discutir a estabilidade de um técnico que perdeu seu primeiro jogo após quatro meses de ano.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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