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Crise que afunda o Corinthians reflete modelo obsoleto de gestão

A avassaladora crise enfrentada pelo Corinthians reflete o modelo arcaico de administração do clube, ainda em vigência na maioria das agremiações brasileiras.

O molde corintiano é de quase 114 anos atrás: um associado ou conselheiro assume a presidência com amplos poderes para administrar a instituição.

Quando os fundadores do Alvinegro se reuniram sob a luz de um lampião no bairro do Bom Retiro, em 1910, essa ideia fazia sentido. O amadorismo era a base do futebol brasileiro.

Com passar dos anos, a modalidade virou um negócio bilionário.

Gerir um clube se tornou algo complexo, que exige conhecimento profundo em diversas áreas.

Por mais que tenha contratado profissionais para fazer o trabalho mais técnico, o Corinthians continuou sendo tocado por um presidente amador, cercado por seus homens de confiança. A situação lembra a dos valorosos fundadores.

Hoje, Augusto comanda o Timão ouvindo um pequeno grupo de escudeiros. Marcelo Mariano, diretor administrativo, ganhou status de homem forte da gestão. Nos tempos de Duilio, esse papel era ocupado pelo irmão dele, Adriano Monteiro Alves, secretário-geral.

Assim como Duilio, Augusto nunca administrou uma empresa com faturamento anual e dívida bilionários. O mesmo vale para seus antecessores, que ajudaram a colocar o clube nessa situação.

Não bastasse a falta de experiência para comandar um negócio desse porte, a obsoleta estrutura de gestão facilita a interferência política.

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Para se eleger, o candidato costura acordos com diferentes alas. Eleito, ele faz a distribuição dos cargos entre seus apoiadores.

Em postos de comando, ficam pessoas que não são pagas para trabalhar exclusivamente para o clube. E que precisam responder aos seus grupos.

O resultado é um presidente constantemente pressionado para atender aos anseios das alas que o elegeram.

O futebol, coração da agremiação, normalmente, é o setor que mais sofre. O grupo Renovação e Transparência, liderado por Andrés Sanchez, nunca contratou um executivo para comandar o futebol.

Augusto prometeu um. Porém, quem montou a maior parte do time foi um conselheiro vitalício, Rubens Gomes, já afastado pelo presidente.

Rubão alardeou que a escolha dos novos jogadores foi feita baseada em estatísticas. Na prática, o que se viu, foi uma série de erros no departamento. Talvez, eles não acontecessem com um profissional no comando.

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Só depois dos escorregões, Fabinho Soldado foi contratado como executivo. Ele estreia na função.

Hoje, o Corinthians está na zona de rebaixamento no Brasileirão. Mas pouco se fala sobre isso no Parque São Jorge.

A maioria das conversas é sobre como tirar Augusto da presidência ou como defendê-lo, quem ainda deve ser afastado da diretoria, quem deve assumir no lugar dos que se foram e para onde foi o dinheiro pago pela intermediação do contrato com a Vai de Bet.

Enquanto o clube sangra com um time na zona de rebaixamento, com uma debandada de diretores, sem patrocínio master e frequentando o noticiário policial, o que importa é a política.

Se o estatuto não for alterado no sentido de blindar a gestão das picuinhas partidárias e de criar um modelo que fortaleça o profissionalismo, o Corinthians terá dificuldades gigantescas.

É preciso mudar a ideia instalada no Parque São Jorge de que é natural lotear cargos. Isso não combina com as exigências do futebol atual.

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Claro que não é um problema exclusivamente corintiano. Qual clube brasileiro já não se afundou por causa de cartolas amadores e incompetentes, para não falar dos desonestos?

Só que hoje, entre os grandes, o Corinthians é o mais fiel retrato de um modelo de gestão jurássico.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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