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REPORTAGEM

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Até aliados apontam falta de diálogo e erros de Rueda no futebol do Santos

Andres Rueda, presidente do Santos, durante coletiva - Reprodução/YouTube
Andres Rueda, presidente do Santos, durante coletiva Imagem: Reprodução/YouTube

29/10/2021 04h00

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Em dezembro de 2020, Andres Rueda foi eleito presidente do Santos, e sua chapa ficou com as 240 vagas não permanentes no Conselho Deliberativo. No total, são cerca de 300 cadeiras. A esmagadora vitória indicava tempos de pouca turbulência política para o dirigente. Porém, hoje, pouco mais de dez meses depois, a previsão do clima político na Vila Belmiro mudou.

Uma série de decisões relativas ao departamento de futebol, o fato de o time brigar para se afastar da zona de rebaixamento do Brasileirão e a forma de o dirigente se relacionar com conselheiros fazem o presidente santista enfrentar uma tempestade de críticas.

Curiosamente, situacionistas descontentes e oposicionistas têm queixas semelhantes. Os principais alvos são escolhas de profissionais para postos importantes no futebol consideradas erradas e as alegadas falta de diálogo com membros do conselho e de prioridade para modalidade que é a razão da existência do clube, além de falhas na montagem do elenco atual.

As reclamações provocaram erosão na base aliada de Rueda. Uma fenda visível a olho nu se abriu. O Grupo Juventude Santista produziu manifesto com pesadas críticas à atual gestão, acusada de agir com arrogância e prepotência.

Apesar do disparo de grosso calibre, Carlos Alberto Rigueiral Silva, integrante dessa ala, diz que o grupo não rompeu com Rueda, apesar de confirmar o descontentamento. Ele calcula que o Juventude Santista tenha entre 25 e 30 conselheiros, sendo que cerca de 15 assinaram o documento entregue para o presidente e membros do Comitê de Gestão na última terça (26).

Na carta, a ala, que trabalhou por Rueda na campanha eleitoral, narra que em agosto se reuniu com o presidente e outros dirigentes para alertar para o "péssimo desempenho" do gerente de futebol Jorge Andrade e do executivo de futebol André Mazzuco. Os conselheiros afirmam que ouviram do presidente que a iniciativa se tratava de ingerência inaceitável. A oposição também criticava os dois profissionais, que "caíram" de seus cargos na última terça. Integrantes do Juventude Santista acreditam que membros de torcidas organizadas pediram as cabeças dos funcionários e foram atendidos.

"Ou seja, galgados em extrema arrogância, teimosia e prepotência fomos solenemente ignorados e rebatidos, até mesmo através de dados incorretos e maquiados", diz trecho do documento escrito pelos conselheiros situacionistas em relação ao encontro de agosto.

Em seguida, o grupo escreve "contudo, somente agora, após a situação do futebol do clube se encontrar calamitosa e ter ocorrido, ao que tudo indica, interferência de membros das torcidas organizadas, que, vale registrar, estão cobertos de razão (a mesma que nós tivemos na citada reunião), as providências que deveriam ter sido tomadas há muito tempo, aconteceram".

Carlos Alberto Rigueiral Silva disse ao blog que a carta significa que o Juventude Santista quer ser ouvido. Ele afirmou que o grupo continua entendendo que Rueda era a melhor opção na eleição e que a situação financeira do Santos é delicada, exigindo cuidados.

"Mas a gente não aceita que a nossa core business [negócio principal] seja totalmente deixada de lado ou nas mãos de pessoas que não são competentes para isso. Eu acho que a entrada do Edu Dracena [novo executivo de futebol] é uma boa resposta. É a contratação de alguém que tem competência", afirmou o conselheiro.

Na oposição e em parte da situação há quem entenda que Rueda se descuidou do futebol ao focar na gestão financeira. Existe a crítica de que hoje o Comitê de Gestão não tem um integrante especializado na modalidade. José Renato Quaresma, que foi o nome escolhido por Rueda para fazer essa função, se afastou do comitê em junho para cuidar de sua saúde.

"Nosso presidente é muito bom como gestor financeiro, mas ele não é um cara que tem muito conhecimento de futebol. Ele próprio já deixou isso claro. E a gente confia na capacidade dele. Só que o clube precisa ter gente que também entenda de futebol. Nós alertamos diversas vezes que esses caras [membros do Comitê de Gestão] podem ser honestos, legais, mas que eles não tinham estofo para cuidar unicamente do futebol do clube", afirmou Silva.

Ter como integrantes do comitê executivos experientes foi uma das prioridades de Rueda. Entre eles estão José Berenguer, CEO do Banco XP, e Walter Schalka, presidente da Suzano. Ambos aparecem em outra crítica comum feita a Rueda por opositores e uma parcela dos situacionistas. A queixa é de que o presidente só dá ouvidos aos dois e recusa ajuda de conselheiros tradicionais do Santos, mesmo em meio à difícil situação financeira do clube e do time na tabela do Brasileirão.

Em outro ponto semelhante de críticas está a avaliação de que Rueda não conseguiu repor à altura as vendas que fez de jogadores e direcionou a equipe para o fracasso na temporada. Na última terça, o blog enviou mensagem para o presidente e para a assessoria de imprensa do Santos com perguntas sobre as críticas que ele tem sofrido. Até a conclusão deste post, nenhuma resposta havia sido enviada.

Neste momento, o cenário descrito pela oposição e pelos situacionistas descontentes é o de um clube controlado por cartolas sem traquejo no futebol e jogo de cintura político, seriamente ameaçados de levarem o Santos ao maior vexame de sua história: o rebaixamento no Brasileirão.