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REPORTAGEM

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Crítica a Duílio por jogos fora de SP mistura Palmeiras, Globo e Bolsonaro

Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians - Rodrigo Coca/Agência Corinthians
Duílio Monteiro Alves, presidente do Corinthians Imagem: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

26/03/2021 04h00

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A decisão de aceitar que o Corinthians jogasse em Volta Redonda e em Saquarema enquanto os jogos de futebol estão proibidos em São Paulo faz Duílio Monteiro Alves ser criticado e cobrado pela oposição para mudar de postura.

O episódio jogou no mesmo caldeirão fervente, além das críticas ao presidente do clube, defesa às tradições democráticas corintianas, preocupação com o dinheiro referente ao contrato com a Globo, comparação com o Palmeiras e até ataques a Jair Bolsonaro.

Em nota, o clube diz ver com naturalidade as manifestações de conselheiros e torcedores, afirma não poder opinar sobre como outras agremiações administram suas agendas, lembra das dificuldades econômicas agravadas pela pandemia de covid-19 e prega união (veja o comunicado completo no final do post).

Entre as questões centrais levantadas pelos críticos está a ideia de que o time que nasceu com o lema de ser do povo não se mostrou sensível ao sofrimento do povo por causa da pandemia.

Outro ponto é o entendimento de que o Alvinegro deveria se impor diante da Federação Paulista de Futebol e não aceitar rapidamente as escolhas da entidade.

O posicionamento do Palmeiras na mesma questão engrossa esse caldo. A federação marcou, inicialmente, o jogo do Alviverde com o São Bento na tarde da última terça (23), em Volta Redonda. Para a mesma data e local, porém à noite, ficou marcada a partida do Corinthians diante do Mirassol.

Só que o presidente do Palmeiras, Maurício Galiotte, não aceitou a definição da FPF. Alegou principalmente que não haveria tempo para ajustar o protocolo sanitário numa viagem em cima da hora.

Além disso, vídeo de reunião na CBF publicado pelo jornal "O Dia" mostra que Galiotte, apesar de ser favorável à continuidade dos jogos, disse para Rogério Caboclo que deveria haver mais debate sobre o tema.

Isso depois de o presidente da CBF dizer: "vou mandar no futebol brasileiro e vou determinar que tenha competição. Porque vocês (clubes) estão fodidos se não tiver".

Há entre os críticos de Duílio quem entenda que o presidente do Alvinegro deveria ter apoiado o dirigente alviverde, que desistiu de argumentar por entender, conforme apurou o blog, que Caboclo estava irredutível.

"O Corinthians é a favor da continuidade, mas só colocando esse aspecto para que a gente redobre ainda mais os cuidados", disse Duílio durante a reunião, realizada em 10 de março

Augusto Melo, um dos candidatos derrotados por Duílio na última eleição, está entre os que entendem que o presidente deveria ter tido uma postura mais firme diante da FPF e da CBF.

"O Corinthians sempre soube bater de frente pelo que é certo. O Corinthians precisa ter voz mais ativa, não poderia ter sido assim", afirmou o opositor.

Cartas

Rubens Gomes, conselheiro que apoiou Melo na disputa eleitoral, afirma que o Corinthians deveria mostrar apoio à população num momento de sofrimento. No entender dele, aceitar jogar em outro estado enquanto as partidas estão suspensas em São Paulo vai em direção oposta.

"O Corinthians sempre se manifestou de forma favorável ao interesse do povo, hoje está na contramão. O povo está morrendo, o Corinthians não pode ficar olhando", afirmou Gomes.

O conselheiro enviou para Duílio e-mail protocolado no Conselho Deliberativo mostrando sua indignação.

Em seu manifesto, ele lembra o histórico democrático do clube e diz que o Corinthians não pode "sair como" o presidente Jair Bolsonaro, a quem ele se refere como genocida no documento.

Além de Gomes, conforme mostrou o site "Meu Timão", um grupo de 34 conselheiros (ao menos a maioria é oposicionista) enviou carta para Duílio dizendo, entre outras afirmações, que a "anuência da presidência e da atual diretoria com a continuidade da prática do desporto nessa situação representa um prejuízo histórico e uma mancha na nossa trajetória".

Dinheiro da Globo

Dois conselheiros que apoiam Duílio disseram ao blog que são contra a continuidade do futebol na fase emergencial de combate à pandemia de covid-19 em São Paulo e que gostariam de ver o clube em sintonia com a medida decretada pelo governo estadual.

Porém, ambos afirmam que entendem a posição de Duílio e não o condenam. Avaliam que o presidente aceitou jogar às pressas em Volta Redonda e nesta sexta, em Saquarema, contra o Retrô-PE, pela Copa do Brasil, por questões financeiras.

Eles afirmam que há o receio de a Globo não pagar cotas de TV referentes às transmissões dos jogos se houver uma longa paralisação das competições.

Conforme apurou o blog, de fato, há na direção o receio de suspensão de pagamentos da emissora e de cortes de patrocínio se acontecer uma paralisação maior. Isso influenciou na decisão do clube de aceitar jogar fora do estado. Vale lembrar que houve corte de receitas em decorrência da suspensão dos jogos em 2020.

Nota oficial

O blog tentou ouvir Duílio por meio do departamento de comunicação do clube, que enviou uma nota assinada pelo Corinthians. Confira a seguir o comunicado.

"O Corinthians vê com naturalidade que seus conselheiros manifestem democraticamente sua opinião, bem como setores da torcida preocupados com a situação do clube e do país. A esses, asseguramos que jamais jogaremos em disposição contrária aos órgãos de Saúde, respeitando sempre a ciência e a integridade física de nossa delegação.

Entendemos que o Corinthians alterou sua programação na última semana visando à realização de duas partidas, enquanto o clube mencionado tinha apenas um compromisso - que acabou realizado na mesma Volta Redonda que recebeu nosso jogo contra o Mirassol. Logo, não nos cabe opinar sobre como outros clubes devem gerir suas datas.

A atual diretoria reitera seu engajamento como parte da solução para o problema da pandemia: divulgamos campanhas em jogos e plataformas, promovemos a arrecadação de insumos e alimentos, a doação de sangue e abrimos a Neo Química Arena para vacinação em massa na zona leste, sempre seguindo os protocolos de saúde em vigor.

Por fim, é importante ressaltar que fomos eleitos com o compromisso de transformar o clube, mesmo diante de uma crise econômica agravada por outra, sanitária, de números cruéis e de futuro cada dia mais incerto. Lembramos que se trata de uma situação jamais enfrentada por nenhuma outra geração viva de dirigentes, o que requer coragem, ponderação e, acima de tudo, união de todos corinthianos.

Atenciosamente, Sport Club Corinthians Paulista".

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