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ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Brasil não tem mais heróis olímpicos. Isso é ótimo, vencer é o novo normal

Aida dos Santos nas Olimpíadas de 1964 - Reprodução
Aida dos Santos nas Olimpíadas de 1964 Imagem: Reprodução

01/08/2021 15h44

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Em 1964, Aída do Santos deixou sozinha a Vila Olímpica de Tóquio e foi até a competição de atletismo. Um dirigente pediu que ela, a única mulher da delegação, voltasse logo, para não perder o horário do almoço.

Aída perdeu o almoço. E quase ganhou uma medalha. Ficou em quarto lugar, usando um tênis emprestado por um atleta cubano. Nem uniforme tinha.

Não é mais assim. Já há um tempo. Em uma semana, Rebeca Andrade conquistou uma medalha de prata e outra de ouro. As primeiras da ginástica feminina. Rebeca tirou uma espinha de Daiane, Jade, Danielle, Luiza, Laís e outras.

Hoje, muitos atletas brasileiro têm um passado, um espelho onde mirar. E os que abrem caminho, como Rayssa Leal, fazem parte de um coletivo forte.

O avanço se deve a um fator principal: dinheiro. Os brasileiros têm treinadores estrangeiros, participam de competições internacionais durante todo o ciclo e ganham bem.

Todos podem se dedicar ao seu trabalho. Recebem do clube, do Exército e do Bolsa-Atleta. Bolsa- Pódio. E nada impede que negociem patrocinadores próprios.

É o ideal? Pode não ser uma estrutura como a dos dez mais, mas perguntem aos atletas da América do Sul, América Central e da África o que eles acham? Perguntem a um cubano sobre estrutura. Há quatro anos, na Copa América de Basquete, os brasileiros doaram seus tênis para os cubanos. Aída dos Santos aprovaria.

Os atletas brasileiros são milionários? Não. E quem disse que devem ser? Podem até ser, mas é um patamar que não deve ser atingido com dinheiro público.

O governo - seja de Bolsonaro, Lula ou Cabo Daciolo - não pode fazer mais do que faz. Não pode dar mais do que dá. Talvez uma isenção para empresas apoiarem. Talvez.

O que se pode fazer - e não é feito nunca - é apostar na massificação do esporte. Dar condições para que toda a população pratique esportes. E captar futuros atletas através de competições nacionais. Jogos Escolares no Brasil todo.

E o esporte de alto rendimento? Não vejo mais nada a fazer. Exigir - não sei de que forma - que as confederações sejam dirigidas de maneira honesta e competente. No mínimo.

O Brasil da fila para conseguir osso para sopa não pode bancar o projeto de ser uma potência olímpica.

O canoísta Pepê é um exemplo. Fez denúncias sobre a incompetência na sua Confederação. Que ecoe. Que haja uma solução. Que melhore muito.

Ele disse que gastou R$ 100 mil do bolso para se preparar. Um absurdo pagar pela incompetência. Mas não me sensibiliza o seu gasto. Quem, no Brasil, seja qual for a profissão, pode gastar R$ 100 mil para cumprir um sonho? Pouca gente. Um atleta como ele, que não é de ponta, tem.

É hora de respeitar o momento atual do Brasil no esporte de alto rendimento. Abandonar o coitadismo, tão presente até nas coberturas. Nossa selecão feminina foi eliminada, mas foi perseguida por Getúlio Vargas. Nosso atleta ficou em quinto, mas vendia banana na feira.

Vendia. Não vende mais. Ganha bem. O esporte mudou a vida deles.

Ainda bem.

Os heróis olímpicos de hoje são heróis porque tem boa estrutura, ganham bem e são ótimos atletas e profissionais.