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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Jair, a Covid não me pega e temos um encontro marcado em outubro de 2022

30/03/2021 10h25Atualizada em 30/03/2021 10h51

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Ilustríssimo senhor presidente.

Venho, através destas mal traçadas linhas, comunicar que não serei infectado. Aproveitando a metáfora do futebol que o senhor gosta tanto - torce para mais de vinte times -, digo que vencerei este mata-mata. O prêmio é a vida.

Eu sou uma pessoa regrada. Minha diversão antes da pandemia, como era mesmo? Ir ao cinema com minha companheira. Dois filmes seguidos, sempre no mesmo shopping. Depois, jantar no mexicano. Antes, tinha pipoca, mas ficou caro demais.

Gosto de almoçar com meus amigos Moacyr e Antônio César, mas eles não moram em São Paulo. Então, é raro. Outro grupo é formado por velhos amigos do Diário Popular: Nelson, Maurício, Marcelo e Luis Augusto, meu xará. Com um grupo ou outro, são sempre as mesmas piadas.

De vez em quando vou a shows. Tim Maia foi o recordista. Houve um, histórico, no Ibirapuera, com Tim e Jorge Ben. O último que vi foi o Chico. Quero ver o Milton e rever a banda cover do Creedence.

Gosto de futebol e basquete. No Morumbi ou no Paulistano. Lá perto, tem uma padaria muito boa. Tomo sopa antes.

Nada excitante. Por isso, talvez, tenha sido mais fácil achar uma rotina aqui em casa, onde estou entocado há um ano.

Tomo café sem pão porque minha diabetes está alta. Mesmo quando comia pão, não lambuzava com leite condensado. Depois, vou na laje, tomar sol. Leio, vejo tevê e faço palavras cruzadas.

Ah, e tem meu circuito. Saio da sala, entro na cozinha, chego à área de serviço, volto, tomo o corredor, entro no primeiro quarto, dou a volta na cama, volto para o corredor, entro no segundo quarto, volta na cama, corredor, banheiro e caminho de volta. Só paro quando o pedômetro marca mil passos. Não tenho histórico de atleta, mas estou me cuidando.

O senhor, que adora aglomeração, deve achar muito chato, mas é um ato de resistência.

A Covid não vai me pegar. O vírus, impulsionado por sua política de saúde incompetentíssima não vai me matar. Eu vou sobreviver.

E depois que eu sobreviver - vou tomar a primeira dose ainda em abril - vou continuar usando máscara. Vou continuar em casa, sair apenas de vez em quando...

É tudo uma preparação, Jair. Como se eu fosse para uma maratona olímpica. Na verdade, apenas um quilômetro de táxi.

E, então, vou cantarolar "Apesar de você" e com o dedo indicador da mão direita afundarei a urna com dois dígitos que nunca serão os seus.

Amanhã, será outro dia, presidente.

Dedico esse texto a João de Lima Stefanini, médico psiquiatra em Fernandópolis. Primo da mamãe. Estava em casa, seguro, e resolveu reabrir o consultório para poucos clientes. Foi infectado e morreu. Para os outros, é mais um número. Para mim, um motivo a mais para me cuidar e ajudar a derrotá-lo em outubro do ano que vem.