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Opinião

Cássio: um abraço ao maior que eu vi!

POR SÉRGIO ALVARENGA*

Confesso que não tinha ideia de quem você era.

- "Saiu do Grêmio. Estava na Holanda".

E...? Minha ignorância era absoluta.

Naquele tempo, você recebia a minha simpatia por ser xará de um querido amigo, que falecera meses antes. Trazia-me bons sentimentos. Era alguma coisa.

Mas, especialmente, havia fé. Havia ilusão. Havia muita torcida.

Curiosa essa crença no desconhecido. É sempre positiva. A gente costuma crer que aquilo que não sabemos é melhor do que aquilo que sabemos. Talvez esse entusiasmo em conhecer o desconhecido explique muita coisa...

Mas paro de divagar. Volto à essência.

E a essência, aqui, é você, cara.

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Vou tentar contar a primeira lembrança. É bem difícil descrever.

Foi exatamente na minha frente. Eu estava sentado em uma cadeira posicionada justamente na altura da meia lua do nosso então campo de defesa. Eu estava ao lado da minha filha. Apertei a mão dela. Segurei a respiração.

Em um Pacaembu subitamente silencioso, você disse em voz alta e cristalina: "Sou bem mais que mera esperança! Confie!".

Bem baixinho, quase entre parênteses, assumo outro defeito. No primeiríssimo momento, pensei que o atacante adversário tinha errado sozinho. Mas, então, o árbitro marcou escanteio (e quase ninguém se lembra da bola na trave no lance seguinte...) e a coisa ficou clara. Ou nem tanto. Caramba, pensei: Quem é esse cara?!

E "o cara" foi se apresentando. Você se apresentou.

O estilo ajuda muito. A camisa amarela. O cabelo comprido, domado por uma faixa. O queixo naturalmente erguido a demonstrar natural autoconfiança e a honrar o Corinthians.

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Veio o Mundial no frio do Japão e o maior desempenho de um atleta de futebol que eu já vi na minha vida.

Veio uma infinidade de jogos nos quais o protagonista foi você.

Ainda houvesse entrega de motorádio ao final dos jogos e você poderia ter uma loja.

Para se provar "apenas" humano, errou de vez em quando. Gotas num oceano.

Respondo talvez tardiamente: Confio, cara. Confio muito. De olhos abertos!

Copiando e adaptando a feliz imagem pensada por um amigo, devo dizer que, ao inverso de São Jorge, ainda bem que você tem mãos para pegar.

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Não vi todos. Mas vi muitos. E, de todos que eu vi, você é o maior.

Isso será sempre discussão de boteco. Minha tese está sólida.

De coração, eu torço por você ser feliz. Orgulhosamente, eu poderia até ficar magoado. Cogitar uma ingratidão.

Querendo ser grande, tento entender. Apenas mais um deslize a ajudar a desmistificar o mito.

Admito, eu também humano, que um ressentimento restará.

Da sua vida, sabe você. Da minha, eu. Minhas lembranças são minhas. Minhas recordações são minhas. Minhas emoções são minhas. Nem o maior de todos as tirará.

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O Corinthians segue. Altaneiro. Com o queixo erguido. Sempre.

*Sérgio Alvarenga foi vice-presidente jurídico do Corinthians.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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