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Opinião

CBF rejeita o Pará e o impacto da COP30 no futebol

POR ANTONIO CARLOS SALLES*

Diz a música de Luiz Wanderley, o Gordurinha, que "baiano burro nasce morto".

Certamente não é o caso do presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, nascido em 1954, cinco anos antes da música fazer sucesso no Brasil radiofônico da época, lançada que foi em 1959.

Isto porque, imediatamente à confirmação da FIFA de que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol Feminino em 2027, a CBF listou as cidades que receberão os jogos, excluindo o Pará e o Mangueirão.

Fosse o presidente Ednaldo um pouquinho mais inteligente nessa decisão e saberia que em novembro do próximo ano, a cidade de Belém do Pará irá receber delegações de chefes de estado do mundo todo, além de cientistas renomados, empresários e a imprensa internacional, para 10 dias de intensas discussões durante a realização da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), evento de impacto mundial que acontecerá no coração da Amazônia.

Uma população flutuante avaliada em cerca de 45 mil pessoas.

Na realidade, presidente Ednaldo, a COP30 já está acontecendo em Belém com diversos painéis e seminários sobre temas que antecedem o grande evento do mundo ambiental, social e econômico, preparatórios que são da agenda final de discussões.

O melhor exemplo dessa preparação foi a visita do presidente francês Emmanuel Macron em março, para uma agenda oficial em Belém do Pará, que receberá outros chefes de estado ao longo deste ano e do próximo.

Da mesma forma, senhor presidente, essa semana o Papa Francisco recebeu o cacique Raoni no Vaticano, em reunião que também abordou temas ligados à COP30.

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De acordo com o jornal Observatório Romano, o cacique convidou o Papa para estar presente à cerimônia de abertura da assim chamada "Reunião do Clima", à qual o senhor certamente certamente estará presente.

Mas todo essa preparação sobre meio ambiente, ações sociais e formas de se fazer uma nova governança mundial, nas gestões pública e privada, passa necessariamente pelo futebol, pelos valores sociais que o esporte conduz e que são impactantes para a cidadania e para a macro-evolução do estado brasileiro.

O desastre ambiental no Rio Grande do Sul irá perdurar por décadas na memória do povo brasileiro, como exemplo de descaso e de promessas jamais cumpridas.

Agora chegou a altíssima conta e com ela o impacto no futebol nacional.

O senhor terá parte nesse legado de discussões, propostas e opiniões, se assim o desejar.

Ao rejeitar que o estado do Pará seja parte de uma Copa do Mundo, a CBF excluiu a oportunidade de concretarmos as discussões sociais que a COP30 vai trazer ao Brasil, onde o esporte já é pauta obrigatória.

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Infelizmente, a decisão da CBF segrega da Amazônia a amplitude que o futebol feminino está tendo no país, de forma bem organizada, até que cheguemos ao nível dos times europeus e norte-americanos.

O impacto para o futebol feminino no Brasil será imenso.

No Pará, então, nem se fala. São 31 times disputando o campeonato paraense nas categorias Sub-17, Sub-20 e Adulto Feminino.

Sinceramente, senhor Ednaldo, não foi para isso que o senhor recebeu através da justiça o direito de continuar à frente da CBF.

Foi para ser e fazer diferente.

Para repensar o papel institucional da entidade que dirige e inseri-la, também, no mundo das discussões ESG- Ambiental, Social e Gestão.

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Por que não estar diante dos maiores líderes mundiais num painel sobre futebol, sustentabilidade, cidadania, educação e geração de renda?

Não seria a hora de a CBF assumir este protagonismo?

O Pará está pronto para a Copa do Mundo de Futebol Feminino.

Tem estádio, tem público, sempre entre as grandes médias do país, e tem a rede de serviços que estará pronta dois anos antes, para a reunião da COP30.

Assuma seu lugar na história, presidente.

COP30 e Copa do Mundo são grandiloqüentes e convergentes entre si.

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Não cabe à CBF estar ausente. Especialmente em Belém do Pará.

*Antonio Carlos Salles é jornalista, especialista em negócios globais, saúde e diplomacia empresarial, graduado em politica, negócios, relações públicas pela Universidade de Genebra.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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