A saída de cena de um trio especial e o humor no jornalismo esportivo
POR ELIAS AREDES JUNIOR
Nossa formação é um mosaico. Em qualquer profissão. Um pedaço aqui, outro acolá e a influência de muitos produz um novo rumo. Fiquei comovido com as mortes de Antero Greco, Silvio Luiz e Washington. Acompanhei boa parte da trajetória dos três. De cada um, aprendi conceitos que levo para minha trajetória profissional. Queria aprofundar em um ponto que os três tinham em comum: o humor. A utilização do humor.
Apolinho era o clássico humor carioca, com bordões e tiradas. E registre-se: trabalhava em publicidade, buscava anúncios, mas no ar nunca, jamais deixou em segundo plano a análise, a crítica, a notícia. Perdi a conta das vezes em que acompanhava jogos do Flamengo, Fluminense, Botafogo e Vasco nas ondas médias de minha casa e Apolinho, com seu jeito peculiar, não deixava de apontar mazelas de dirigentes e cartolas. Inclusive do seu clube do coração, o Flamengo.
De Antero Greco, admirava a facilidade que tinha para fazer graça sem perder a ternura e a capacidade de se indignar. Para poucos. Nos últimos quatro anos, com inteligência, lucidez e espirito crítico, ele utilizou as redes sociais como trincheira a favor da democracia e contra o fascismo. Jamais baixou a guarda. Antero Greco comprovou que era possível ser jornalista esportivo e cidadão. Lição de vida.
Silvio Luiz era diferente de todos. O seu humor era transgressor, criativo e nunca deixava de incomodar o poder. O narrador de Copas do Mundo, Olimpíadas e registro de infindáveis título nunca foi isentão. Como esquecer as suas anti-candidaturas a presidência da Federação Paulista de Futebol nos anos 1982 e 1985.
Em 1982, Silvio Luiz, na companhia de Flávio Prado, hoje comentarista, se vestiu com fraque, cartola e cravo vermelho, pegou uma charrete e desceu a Avenida Brigadeiro Luís Antônio rumo à antiga sede da FPF, inaugurada em 1950. Atualmente, a sede está na Barra Funda. Após idas e vindas e batalhas na Justiça, o pleito foi realizado em março de 1982 e o vencedor foi José Maria Marin enquanto Nabi Abid Chedid ficou em segundo. Silvio Luiz teve dois votos. Mas o recado estava dado.
Ao refletir sobre a utilização do humor como ferramenta no jornalista esportivo, cheguei a conclusão que não é proibido utilizar tal instrumento no ofício. O que é condenável é fazer graça para alienar o torcedor, agradar dirigentes e desviar o foco de assuntos prioritários. Apolinho fez graça para emolduras transmissões esportivas no rádio e reafirmou uma escola de transmissão esportiva. Antero Greco fazia rir sem jamais deixar o telespectador perder a consciência do que realmente importava. Era impiedoso com os desmandos do esporte. De voz mansa e serena, sempre no alvo. Silvio Luiz foi revolucionário na narração e nunca curvou o traseiro aos poderosos de plantão. Os três vão fazer falta. Especialmente porque hoje em dia quem tenta fazer rir, no fundo, quer arrancar sorrisos dos homens dos gabinetes e nunca dos Geraldinos e Arquibaldos.
Levar a frente o legado de Apolinho, Antero e Silvio Luiz é também lutar por um jornalismo esportivo melhor. Que isso vire realidade.
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