Salvem o Sandro Macedo!
POR LUIZ GUILHERME PIVA
1.
Deve haver teses sociológicas e antropológicas que relacionam perfis predominantes de torcidas a recortes econômicos e sociais da população.
Em muitos estados brasileiros, com estrutura menos estratificada, há, quase sempre, duas grandes agremiações rivais, uma pretensamente mais ligada à burguesia (classe média alta) e outra, aos setores populares.
No Rio e em São Paulo há mais complexidade, e talvez seja possível fazer pares interestaduais com seus respectivos estratos demográficos: Corinthians e Flamengo; Palmeiras e Vasco; São Paulo e Fluminense; e Santos e Botafogo.
Muito provavelmente, se fizermos testes estatísticos rigorosos, concluiremos que não é nada disso, que se trata de uma grande bobagem.
Mas escrito assim, sem nenhum rigor, fica bem bacana, não?
2.
Um clichê de todos os palestrantes, coaches, influencers, taxistas e filósofos é citar a pergunta que Garrincha teria feito ao técnico Feola na Copa de 58 depois de sua preleção tática para enfrentar os soviéticos: "O senhor já combinou isso tudo com os russos?".
Acho que é lenda.
É mais crível que no vestiário adversário algum russo tenha perguntado ao técnico, ao final de sua preleção, se ele havia combinado tudo aquilo com o Garrincha.
3.
Enquanto brigo contra os clichês no meu texto, me lembrei de que muitos autores citam o clichê dito pelo "tio do pavê" como crítica aos sujeitos que seriam limitados e chatos.
Mas repetem-no tanto que se criou outro clichê: o clichê dos autores que citam o clichê dito pelo "tio do pavê".
E acho que acabo de incorrer em mais um: o clichê de criticar o clichê dos autores que citam o clichê do "tio do pavê".
E me lembrei também de que ninguém mais usa "nós" nem "eu", só usa "a gente". Ou: "A gente não usa 'nós'; a gente não usa 'eu'; a gente só usa 'a gente'".
Voltando ao futebol.
A gente acha que tem muito tio do pavê falando de futebol, e a gente acredita que tem muito texto sobre futebol citando o clichê do tio do pavê que fala sobre futebol, e a gente entende que este texto sobre futebol incorre no clichê de falar do clichê de quem faz texto sobre futebol usando o clichê do tio do pavê que fala sobre futebol.
Não sei direito.
A gente está confuso.
4.
O Cruzeiro não tem um time forte nem recursos para contratações. Mas já vislumbra uma forma de acumular vitórias sem gastar: mandar os seus jogos, contra todos os adversários, na Arena MRV, ou Terreirão, o novo estádio do Atlético, com os ingressos vendidos integralmente para a torcida do Galo.
Tem dado certo nos confrontos com o maior rival.
5.
O jornalista Sandro Macedo tem sido explorado de forma vil. Pagam-no para exercer dupla jornada: tem que escrever sobre cerveja e futebol toda semana, e para isso é obrigado a degustar todas a marcas e assistir a todos os jogos sem descanso.
Ouvi dizer que vão aumentar sua jornada e seu salário para analisar também rainhas de bateria. Aí será demais. O Ministério Público do Trabalho terá que tomar uma providência, coitado, para livrá-lo de tal exploração.
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Luiz Guilherme Piva publicou "Eram todos camisa dez" e "A vida pela bola" - ambos pela Editora Iluminuras
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