Apostas esportivas: pobre Brasília, sai um craque e entra quem?

POR ANDRÉ SICA*
José Francisco Manssur é um ser humano raro, daqueles da melhor qualidade. É um amigo leal e um grande profissional. Outrora meu mentor, hoje é meu concorrente de profissão, o que só fez aumentar minha admiração.
Realmente não entendi o porquê de ele ter se disposto a aceitar um cargo no Governo Federal, como Secretário do Ministério da Fazenda para cuidar do setor da regulamentação de apostas esportivas, assunto que estava emperrado e gerando prejuízos enormes ao País. Mas ele aceitou. Bom para todos nós.
E as conquistas de Manssur na Fazenda, trabalhando ao lado do Ministro Haddad, foram notáveis. Habilmente conseguiram destravar a regulamentação das apostas esportivas e aprovou a Lei 14.790, desagradando pouquíssimos - o que é extremamente difícil - e gerando um texto majoritariamente qualificado e técnico - o que é ainda mais difícil.
Atualmente negociava portarias para detalhar pontos da Lei, e ainda realizava parcerias com as maiores empresas do mercado para cuidar da Integridade do Esporte (i.e.evitar o chamado "Match Fixing" a partir das apostas).
Em uma de minhas visitas à Brasília, um cliente, estrangeiro, comentou com grande surpresa o quão espantosa era a curva de aprendizado da equipe do Ministério da Fazenda em relação às apostas esportivas, tema que ficou tanto tempo dormente em nosso país.
Mas parece incrível como não se pode realizar um bom trabalho no Governo, em qualquer Governo. Brasília e seus sistemas de trocas simplesmente não permitem.
Rapidamente duas coisas chamaram muito a atenção na posição do Manssur: a relevância que o seu cargo de liderança das apostas tomou e o volume de dinheiro que as apostas podem gerar.
E como tudo o que ocorre na política, na calada da noite José Francisco Manssur foi sacado do Ministério da Fazenda, deixando órfão todo um mercado, fazendo com que empresas concorrentes lamentassem juntas a sua saída. Ótimo para ele que voltará à sua excelente banca de advogados e à sua família. Péssimo para o Brasil, como sempre.
Não sabemos quem o substituirá. Esperamos, com uma esperança minguante, que venha mais um grande profissional, mais uma vez com a melhor das intenções, e que saiba respeitar o legado deixado, mesmo que isso represente a efemeridade do cargo, porque Brasília não foi feita para bons trabalhos durarem.
*André Sica é advogado.
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