Topo

Casagrande

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Críticas a Abel Ferreira mostram dificuldade em aceitar sucesso estrangeiro

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras - Heber Gomes/AGIF
Abel Ferreira, técnico do Palmeiras Imagem: Heber Gomes/AGIF

Colunista do UOL

01/02/2023 23h32

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O comportamento do treinador Abel Ferreira na área técnica se tornou mais importante do que o seu fantástico trabalho, os seus títulos, o seu modo de trabalhar o psicológico dos seus jogadores?

Não.

Mas estou vendo um movimento que me parece inveja, dor de cotovelo ou que está difícil de lidar com a sua enorme competência.

Desde quando chegou no Palmeiras, há quase três anos, ele ganhou todos os títulos que o Palmeiras disputou aqui na América do Sul. Não existe nenhum treinador brasileiro que venceu tanto em tão pouco tempo.

De todos os times que estão na Série A, só Abel Ferreira e Juan Pablo Vojvoda estão há mais de dois anos trabalhando no mesmo clube.

Estou vendo a dificuldade em aceitarem que ninguém no Brasil é melhor que ele. Aí vão buscar no seu comportamento exagerado algo para prejudicá-lo, criticá-lo, tentar puni-lo, ignorando que existem vários treinadores brasileiros com o mesmo comportamento dele, ou até pior.

No debate pela manhã na ESPN mostraram que Vítor Pereira também já chutou o microfone da TV que fica perto dos bancos e não falaram nada.

Só para lembrar que Vanderlei Luxemburgo, assim que entrava em campo, arrancava o microfone, porque estava sendo criticado pelos palavrões que falava.

Não sou contra treinadores usarem palavrões para motivar seus jogadores, mas com o microfone por perto saía tudo na transmissão ao vivo, e realmente era bem desagradável.

Fernando Diniz é muito pior do que o treinador palmeirense, porque humilha e ridiculariza o jogador. Foi o que fez com o Tchê Tchê no São Paulo, ao vivo, contra o Bragantino — e a consequência foi despencar na tabela, perdendo um título que estava nas mãos.

Diniz foi expulso na sua estreia no Santos e também no último domingo, na derrota para o Botafogo, e ninguém fez um manifesto pedindo a sua punição.

Na minha opinião, existem três fatores no Abel que incomodam esses caras:

  • Primeiro, porque é estrangeiro
  • Segundo, porque é melhor do que todos
  • Terceiro, porque é cogitado para treinar a seleção brasileira e isso gera revolta nos conservadores

Vários treinadores brasileiros trabalharam no Oriente Médio, na Ásia, alguns na Europa, e nunca reclamaram.

Felipão foi treinador da seleção de Portugal na Eurocopa de 2004 e na Copa de 2006, e entende muito bem que naquele momento tomou o lugar de um treinador português. Tanto que é a favor da entrada do Abel Ferreira na seleção brasileira.

Ele é o único treinador brasileiro que vê com normalidade a possibilidade de um estrangeiro que trabalha no Brasil ser o novo técnico da seleção. Todos os outros torcem o nariz.

Não temos uma boa safra de treinadores brasileiros, com trabalhos convincentes nos últimos quatro anos.

Eu gosto do Renato Gaúcho, que já ganhou títulos importantes com o Grêmio. Ele deu uma caída nos últimos anos, mas pode se reerguer novamente no time gaúcho.

Acho o trabalho do Diniz muito bom, mas ainda falta ganhar títulos, amadurecer como vencedor e mudar completamente o modo de tratar os jogadores em campo, porque muitas vezes é grosseiro.

Rogério Ceni tem ótimas ideias, mas precisa ser menos arrogante e não querer ser genial o tempo todo, porque isso está prejudicando a sua evolução.

Se eu fosse o Ednaldo Rodrigues, presidente da CBF, não pensaria duas vezes e tentaria a contratação do Abel Ferreira.

E tem um ponto importante que li na coluna do jornalista Milton Neves, e que concordo plenamente: Abel poderia se dividir nos dois trabalhos — Palmeiras e seleção brasileira — num primeiro momento, como muitos já fizeram no passado.

Seria até bom, porque ele continuaria enfrentando os jogadores que jogam aqui. Com isso, teria um olhar muito mais justo do que o Tite, por exemplo, que nem dava atenção para jogadores que estavam no Brasil, como Scarpa, Marcos Rocha, Danilo, Gabriel Barbosa. Ele só convocava os que jogavam na Europa mesmo na reserva ou em fase ruim.

A visão do próximo treinador precisa ser mais ampla e não se fechar só em quem joga em outros países. Acredito que o Abel Ferreira terá essa visão mais ampla por trabalhar aqui.

Enfim, o que os treinadores brasileiros precisam fazer é evoluir, cada um naquilo que mais precisa. Terem o trabalho do Abel como referência e deixar essa questão de se incomodar com ele de lado.

Nesse momento, todos estão atrás do treinador do Palmeiras.