Artilheiro do único título internacional do Botafogo hoje vive de motéis
Em 1993, quando o Botafogo conquistou o único título internacional da sua história e Sinval era o atacante da equipe que levantou o troféu, sagrando-se artilheiro da Copa Conmebol com 8 gols. Nesta quinta, às 21h45 (horário de Brasília), o clube de General Severiano tenta a sorte na Libertadores ao medir forças com o Barcelona de Guayaquil-EQU, no Equador. Hoje aposentado, Sinval relembra os tempos áureos e conta como atualmente tem vivido da renda de três motéis que comprou em Andradina, no interior de São Paulo.
“Eu era infantil e estava lendo a revista Placar. Tinha uma matéria com o Mendonça, ídolo do Botafogo e que tinha um motel em Sorocaba. Aí aquilo ficou na cabeça e achei um bom negócio. Eu esperei mais para o fim da carreira comprei os motéis em 2002. Pedi para meu irmão segurar as pontas enquanto ainda não tinha me aposentado”, disse Sinval ao UOL Esporte.
Mais que uma fonte de renda, os motéis também são importantes para Sinval por outro motivo: é ali que o ex-jogador consegue se manter ocupado. Além de gerir o empreendimento, o que mexe com o ex-atacante é a responsabilidade pela decoração dos quartos. Do planejamento à prática.
“Comprei papel de parede essa semana. Faço de tudo lá, mas gosto mesmo é da parte decorativa. É uma terapia para mim, ocupa meu tempo. Deu 17h e vou embora jogar um tênis. Meu irmão coloca mais a mão na massa e fica com a dor de cabeça. Já trabalhei muito, agora é a hora dele [risos]”, afirmou.
O empreendimento, claro, já gerou algumas histórias inusitadas. Para evitar problemas os motéis de Sinval têm saídas de emergência. Pode parecer bobo, mas isso já impediu situações constrangedoras e confusões.
“Uns amigos fazem umas besteiras e às vezes que pedem para tirar de lá sem serem vistos. Tem uma saída de emergência, mas é raro, bem esporádico. Às vezes digo que peguei carro emprestado para livrar a cara de alguém [risos]. Tive de assumir essas situações de alguns parceiros. Motel dá trabalho. Um liga e diz que não tem dinheiro, outro é caso de polícia”, brincou.
Veja outros trechos da entrevista:
Jogou em 30 clubes. Deu para juntar uma grana?
Centroavante, jogar onde joguei... Alguns gols eu fiz. Se não guardou dinheiro tem que se fu... Se for um aloprado e gastar tudo... Fiz tudo que o pessoal hoje faz, mas na hora certa, soube dosar. Tive carro importado, mas só com 28 anos, a prioridade era ajudar minha família. Tirei minha mãe de um lugar ruim e comprei uma casa para mim também. Bebeto me ajudou. Jogávamos no Vitória e ele me incentivou muito. Conseguiu um desconto na Audi.
Fim de carreira
Brincava com meu irmão que ia tomar conta dos motéis enquanto eu ia ‘rapelar’ um pessoal [risos]. Jogador só deve parar de jogar bola quando o celular não tocar mais. Aproveitar até o fim ou se tiver um problema físico, senão não vale a pena. Igual faz o Zé Roberto. Falam isso e é verdade. Jogador morre duas vezes. Quando aposenta e quando passa dessa para uma melhor.
Pão duro?
Minha filha diz isso. Sou pão duro. Vivemos bem depois que parei de jogar bola. Durante o futebol vivíamos mal. Eu simplesmente não sabia até quando ganharia então segurava demais. Agora aposentei, tenho meus motéis, sei quando rende e quanto posso gastar. É mais fácil.
Artilheiro do único título internacional do Botafogo
Legal porque parei de jogar há oito anos e ainda sou lembrado. É gostoso. Quando você é jogador, você pensa que é super-homem, que aquilo não vai acabar nunca. Faz suas loucuras e acha que é para sempre. Estava falando com meus filhos sobre isso esses dias. Se plantar coisas boas, vai colher coisas boas.
Título menosprezado?
Até hoje não dão a importância para gente. Temos nosso grupo de whatsapp. Não sou de me apegar a essas coisas, a vida é assim. Quem entra na sua casa não pergunta quem foi, mas quem você é. Muita gente fica magoada. Nunca fui no Botafogo para ver isso, tenho medo até de ser barrado. Dizem que sequer tem um quadro lá para gente. Valorizam título de 1995, com todo mérito, mas não ligam para gente.
Grupo magoado com isso?
Willian Bacana faz questão de sequer ser achado nesses momentos. Mágoa muito grande. O mais magoado é ele, eu não tenho isso. Vivo minha vida. O que fiz foi para mim e minha família. Criei meus filhos. Só tenho saudade, gostaria de ter ficado no meio, mas não deu.
Na chegada ao Botafogo, nem bola para treinar
Logo no primeiro dia cheguei e vi que nem tinha bola para treinar. Esperei o fim de semana, catei minha mala e fui embora. Aí o Edson Santana me ligou e mudou tudo. Disse que na Portuguesa, com todo respeito, poderia ter tudo, mas jogaria para nem mil pessoas. Aqui é Botafogo de Jairzinho, Nilton Santos, Garrincha e que jogaria para torcida grande. Já estava em São Paulo e graças a Deus resolvi voltar
Fez bem em desistir de abandonar o Botafogo?
Agradeço a ele [Edson Santana] sempre que conversamos. Me chama de boca mole, porque sempre que fazia gols ia chorar um qualquer para ele [risos]. Ele me dava esse mole [risos]. “Boca mole do caramba”, ele falava. Ninguém tinha celular, eu tinha. Ninguém tinha carro importado, eu tinha.
Saudade do futebol?
Ontem estava vindo de São Paulo. Onde meus filhos estudam. Tem horas que me pego pensando sobre o futebol e ouvindo o Eros Ramazzotti, pensando em tudo que vivi. Que poderia ter vivido mais. Bate essa nostalgia, saudade para caramba. Jogador não tem amigos, tem colegas. Depois cada um segue seu rumo, com sua família.
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