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Lito Cavalcanti

O ano da Fórmula 1 começa nesta quarta-feira

Sebastian Vettel testa carro da Ferrari durante a pré-temporada da F-1 2019, em Barcelona - Albert Gea/Reuters
Sebastian Vettel testa carro da Ferrari durante a pré-temporada da F-1 2019, em Barcelona Imagem: Albert Gea/Reuters

17/02/2020 12h52

É nesta semana que a Fórmula 1 vai voltar à vida. Mais especificamente na quarta-feira (19), data de abertura da pré-temporada. Serão duas fases de três dias de testes e experiências, a primeira até o dia 21 e a segunda de 26 a 28.

Como de hábito, o palco vai ser o circuito de Barcelona. Essa escolha é porque a pista da Catalunha exige desempenho mais que perfeito da aerodinâmica dos monopostos. Diz-se nos paddocks da F-1 que, se um carro andar bem em Barcelona, ele vai andar bem em qualquer outra pista.

Sim, isso de fato ocorre - mas andar bem não significa vencer. No ano passado, por exemplo, a Ferrari dominou toda a pré-temporada e foi batida amplamente pela Mercedes. Claro, algumas vezes por razões que nada têm a ver com o desempenho da pista, mas em outras simplesmente por não acompanhar as Mercedes e, na fase final do campeonato, nem os Red Bull. Acabou ganhando o título irônico de campeã de inverno.

Essa ilusão ocorre porque a única medição de desempenho que vem a público são os tempos de cada volta, que nessa fase inicial são bem menos importantes do que parecem. O que vale neste primeiro momento é eliminar problemas e garantir a confiabilidade do carro - só depois de superado esse estágio, os engenheiros passarão a se concentrar na velocidade.

Mesmo assim, uma só volta conta bem pouco. Principalmente se for na parte da manhã, quando o vento de cauda faz os carros voarem nas retas - o que vale é a tarde, quando o vento sopra de frente. O objetivo maior é ser o mais rápido em uma sequência de voltas, nas simulações de corrida. Vai ter sucesso quem extrair maior durabilidade dos pneus Pirelli, que são projetados para terem vida curta e, assim, abrir campo para o jogo estratégico.

Pouco tempo, muito a fazer

Neste ano, a pré-temporada foi reduzida de oito para seis dias, o que a torna ainda mais crítica. Neles, todo o departamento técnico terá de verificar o acerto das escolhas feitas no projeto dos novos carro e avaliar as soluções mecânicas e aerodinâmicas. Tudo já foi testado em túneis de vento e supercomputadores, mas é na pista que se confirma (ou não) a eficiência de um projeto.

Esses vereditos, porém, dependem dos mais variados fatores. Um dia de chuva, por exemplo, pode ser útil para que pilotos e equipes vejam como os novos carros se comportam na pista molhada. Mas para isso bastam uma ou duas horas - o resto é tempo perdido.

Pior ainda se ocorrer um acidente. O tempo gasto na recuperação não tem volta e seus efeitos negativos podem se estender por mais do que uma corrida. Sem contar o mal que pode causar se for por erro do piloto, como ocorreu com Pierre Gasly no ano passado. Recém-promovido para a equipe Red Bull, ele começou a escorregar de volta para a Toro Rosso ao bater na pré-temporada.

Há muito a ser testado nesses seis dias. Muito das peças vistas nos lançamentos da semana passada não entrarão na pista. Só foram usadas para compor os carros apresentados ao público. Hoje, na verdade, os lançamentos têm como maior objetivo dar visibilidade aos patrocinadores, que ganham nesses momentos enorme exposição na imprensa.

Dessas peças, as que menos têm chance de continuar nos carros são as asas. Elas podem ser substituídas com facilidade e, por sua enorme importância, normalmente são escondidas o maior tempo possível. Outros componentes, porém, já são para valer, exatamente por não poderem ser removidos nem modificados com facilidade.

Cada qual com seus problemas

É esse o caso das laterais da Mercedes, que convergem para as formas adotadas pela Ferrari em 2018 e pela Red Bull em 2019. O objetivo é melhorar a refrigeração do motor, ponto em que os carros alemães deixaram a desejar no ano passado, principalmente nas pistas de grande altitude. Já vistas no lançamento, elas devem continuar no carro.

Já a Ferrari deve se concentrar no que a F-1 chama de rake. Nada mais é que a maior altura da traseira do carro em relação à dianteira. Essa inclinação aumenta muito a eficiência aerodinâmica, mas em contrapartida exige precisão milimétrica para não se tornar uma armadilha.

A Red Bull foi a que menos mudou, se dedicou principalmente a refinar a integração do motor Honda ao chassi. Por isso, vem sendo apontada como a maior ameaça da hegemonia que a Mercedes vem exercendo na Fórmula 1 desde 2014, quando foram introduzidos os motores híbridos.

Esse favoritismo, porém, resulta apenas de impressões deixadas pelos lançamentos de carros - e eles estarão bem mudados quando chegarem a Barcelona. Nada garante que tudo que foi incorporado a um determinado carro vai funcionar a contento. E ainda é preciso ter sorte - basta um erro ou um dia ruim na pré-temporada para jogar por terra todas as esperanças e os discursos otimistas.

É a hora da verdade. Mas, é bom lembrar, nessa hora nem sempre o melhor é o mais rápido.

Um nome para o futuro

Terminou neste fim de semana a Toyota Racing Series, uma temporada de 15 corridas na Nova Zelândia que congrega os pilotos que se preparam para mais um ano da disputa nas categorias de base. Usando carros com desempenho semelhante aos da F3 Regional europeia e da F Renault Eurocup, a categoria foi vencida brilhantemente pelo mineiro Igor Fraga depois de cinco fins de semana de disputa intensa com o neo-zelandês Liam Lawson.

A exemplo de seu mentor Roberto Pupo Moreno, Igor vem encarando sacrifícios para perseguir o sonho de chegar um dia à Fórmula 1. Sem meios financeiros para enfrentar os altos custos das corridas, não foram poucas as vezes em que ele e o pai Fabrício dormiram no chão das oficinas ou dividiram as refeições.

Neste torneio, Igor foi patrocinado pela Gran Turismo, uma produtora dos jogos eletrônicos. Não por acaso, já que Igor foi campeão mundial dessa especialidade de e-Sports competindo pela McLaren.

Para esse ano, ele já tem carro garantido na F3 FIA pela boa equipe Charouz. Vai correr junto com a F-1. Espera-se que seja notado pelas academias das grandes equipes, sem as quais só os filhos de famílias abastadas podem aspirar por um lugar na categoria máxima.

Igor pode repetir e até superar a trajetória de Roberto Pupo Moreno, que chegou ao topo do mundo sem dinheiro, mas com coragem e sacrifício.

Se conseguirem, esses dois vão provar que ainda há lugar para o talento e a determinação no automobilismo. Se é que há.