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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Futebol feminino enche a Bombonera e também decola na Argentina

Jogadoras do Boca comemoram gol no alambrado da Bombonera - Twitter CABJ
Jogadoras do Boca comemoram gol no alambrado da Bombonera Imagem: Twitter CABJ

Colunista do UOL

26/09/2022 07h40

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Depois do sábado histórico do futebol feminino no Brasil, com o título do Corinthians contra o Internacional na Neo Química Arena praticamente lotada, o domingo (25) não deixou por menos na Argentina.

Com a Bombonera recebendo um público estimado de 30.000 pessoas, o Boca Juniors bateu ontem o UAI Urquiza por 2 a 1, faturando o título do Campeonato Argentino. A final contou com uma atenção inédita no país, marcando também um antes e depois da modalidade na Argentina.

As "Gladiadoras", como são chamadas as jogadoras do Boca, contaram com a presença mais ilustre de todas: a de Juán Román Riquelme. Maior ídolo da história do clube e hoje vice-presidente de futebol do Boca, ele, com sua inseparável cuia para tomar mate, esteve desde cedo no seu camarote habitual na Bombonera.

Jogadores do elenco profissional, como Sebastián Villa e Pol Fernández, também viram a partida feminina ao lado de Riquelme.

A partida começou às 12h, e muita gente trocou os tradicionais passeios turísticos nos arredores do estádio pela partida em si. Quem conhece o bairro de La Boca sabe como as ruas são estreitas, e o fluxo de gente mostrou que a torcida xeneize, a maior da Argentina, também abraçou as suas jogadoras, a exemplo do que acontecera com o Corinthians na véspera.

Para a decisão feminina de ontem, o Boca disponibilizou 20.000 entradas para os sócios, e elas se esgotaram no mesmo dia, na quarta-feira. Os 5.000 ingressos à venda ontem também se esgotaram rápido. Cada um custava 600 pesos (R$ 21, pela cotação oficial). Muita gente entrou sem pagar, como é praxe na Argentina, por isso a estimativa foi de 30.000 pessoas.

A capacidade total da Bombonera (54.000 lugares) não foi habilitada — abriram apenas dois dos três setores, chamados de "bandejas".

O antes de depois do futebol feminino na Argentina se notou também na atenção dedicada pela imprensa.

O jornal "Olé", o principal do país na cobertura de esportes, deu uma chamada de capa ao título feminino do Boca em sua edição impressa de hoje (26). No sábado, o site do diário noticiou também o título do Corinthians.

A conquista do time feminino no Boca ganhou espaço até mesmo nos canais de notícias do país, como a C5N e o El Trece, que chamaram especialistas para analisar a mudança de rota na modalidade do país. Mesmo as rádios, de tradicional peso em todas as províncias, abriram longos minutos para falar do título do Boca. Foi o que fizeram, por exemplo, emissoras como a La Red, a Mitre e a Continental, as mais importantes de Buenos Aires.

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Boca Juniors comemora título argentino de futebol feminino na Bombonera
Imagem: Twitter CABJ

Transmissão da TV Pública

Se no Brasil o futebol feminino teve espaço na Band, na TV aberta, na Argentina o campeonato teve sua campanha toda e seu óbvio desfecho transmitido simplesmente pela TV Pública, de graça para todo o país.

Com forte grade esportiva, a TV Pública se caracteriza por mostrar partidas da seleção argentina em diferentes modalidades. Até as corridas do automobilismo local são transmitidas ao vivo pela emissora, que exibe inclusive reprises de diversas competições da atualidade e do passado.

Neste domingo, a expectativa tanto na telinha quanto na arquibancada durou pouco.

O Boca saiu ganhando logo aos 7 minutos, com Yamila Rodríguez. O UAI Urquiza empatou com uma cabeçada de Daiana Falfán aos 22, e o 2 a 1 que selou o título xeneize foi anotado no primeiro minuto do segundo tempo, no pé direito da goleadora Andrea Ojeda.

Na comemoração do primeiro gol, Yamila copiou o gesto de Darío Benedetto contra o River Plate na mesma Bombonera, pendurando no alambrado e sendo acompanhada pelas demais jogadoras do Boca. A celebração já é um instantâneo do futebol feminino na Argentina.

A campanha do Boca foi impecável, com 18 vitórias e meros 2 empates, somando 20 jogos sem perder.

O campeonato foi disputado no sistema de pontos corridos, e o Boca jogava por um empate para ficar com a taça, enquanto o UAI Urquiza precisava da vitória para calar a Bombonera.

Pelo título, Riquelme prometeu um churrasco às jogadoras com todo o elenco masculino no CT de Ezeiza, pertinho do aeroporto internacional da capital portenha.

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Juan Román Riquelme (seg. da dir. para esq.) vê jogo feminino do Boca na Bombonera
Imagem: Twitter CABJ

Boca x Timão na Libertadores?

O Boca agora vai concentrar suas atenções na Libertadores feminina. A competição começa em 13 de outubro, em Quito (Equador), com a participação também de Corinthians e Palmeiras.

O clube xeneize integra o Grupo B, enfrentando a Ferroviária, o Defensor (URU) e um representante do Equador a ser conhecido.

Maior campeão da Libertadores masculina, com 25 títulos (o Brasil tem 21), a Argentina jamais faturou a Libertadores feminina.

As melhores campanhas do país na competição são três presenças nas semifinais. Uma com o Boca, em 2010, com o UAI Urquiza, em 2015, e com o River, em 2017.