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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Neto contra Batistuta: como foi Corinthians x Boca na Libertadores de 1991

Corinthians recorda último gol de Neto pelo clube - Reprodução/Twitter
Corinthians recorda último gol de Neto pelo clube Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

27/06/2022 04h00

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A Libertadores da América abre nesta semana sua fase de oitavas de final. Como era de se esperar, Brasil e Argentina, as duas potências do continente, têm encontros marcados já neste primeiro mata-mata.

Às 21h30 de amanhã (28), o Corinthians recebe o Boca Juniors na Neo Química Arena no principal confronto da série. A partida de volta entre os gigantes será na terça-feira que vem (5), na mítica Bombonera.

Bem antes dos duelos na final de 2012 (Corinthians campeão) e nas oitavas de 2013 (Boca classificado), os dois clubes se cruzaram em outro mata-mata de Libertadores.

Foi em 1991, com dois ídolos em campo. Pelo Corinthians, o craque Neto. Pelo Boca, Gabriel Batistuta.

A coluna relembra cinco histórias daquele confronto.

'O brasileiro é medroso'

O Corinthians x Boca de 1991 foi o primeiro mata-mata de Libertadores do Alvinegro em sua história. O Corinthians vinha em sua segunda participação no evento —na primeira, em 1977, foi eliminado na primeira fase.

Os jornais falavam em "imaturidade internacional" da equipe então comandada por Nelsinho Baptista. "Corinthians enfrenta Boca em clima de guerra", era a manchete da "Folha de S.Paulo" do dia da partida que abriu o confronto, na Bombonera.

Márcio, volante corintiano que chegaria até a seleção brasileira naquele ano, deu uma declaração curiosa: "O brasileiro em si é medroso. Fica dizendo que o argentino dá porrada, mas por acaso a gente não sabe chegar junto também? Se for preciso, vamos fechar o tempo".

bati - Reprodução Twitter - Reprodução Twitter
Batistuta comemora gol pelo Boca Juniors
Imagem: Reprodução Twitter

Bomba na Bombonera

O Boca contava com um time forte, treinado pelo "Maestro" Tabárez, que depois viria a se consagrar na seleção do Uruguai. O ataque era realmente temido, com Latorre, Graciani e Batistuta, que estava prestes a ser o "Batigol" e o histórico artilheiro que foi.

O Corinthians atuou na Bombonera sem Neto e Wilson Mano, suspensos. Mesmo desfalcado, jogou de igual para igual com o Boca. Foi para o intervalo com o 1 a 1, mas duas falhas individuais do zagueiro Guinei decretaram o 3 a 1 xeneize em Buenos Aires. Os gols do Boca foram de Graciani e Batistuta (dois).

Maradona, enlouquecido na arquibancada, foi uma das estrelas da noite.

Promoção para lotar

O jogo de volta foi no Morumbi na quarta-feira da semana seguinte. No sábado, pelo Brasileiro, o Corinthians bateu o Fluminense por 3 a 1 — tal resultado contra o Boca levaria a decisão para os pênaltis.

A diretoria do Corinthians diminuiu pela metade o preço dos ingressos para lotar os mais de 100.000 lugares do Morumbi. Havia um verdadeiro clima de decisão, incluindo até uma massiva procissão em homenagem a São Jorge na véspera da partida.

Tempestade

O público oficial no Morumbi foi de 65.791 torcedores —mas quem estava lá jura que tinha muito mais. A torcida, porém, viu um jogo travado e sem muita emoção. Para piorar, uma forte chuva desabou no segundo tempo e dificultou ainda mais o ataque do Corinthians, então obrigado a fazer três gols.

De volta ao time, Neto pouco ameaçou, e Batistuta também foi bem marcado pelos zagueiros Marcelo e Guinei.

Por falar em Guinei, o zagueiro voltou a falhar depois dos erros na Bombonera. Saiu mal em disputa de bola com Graciani e o atacante argentino aproveitou para fazer o 1 a 0 aos 8 minutos do segundo tempo. O Boca teve o volante Pico expulso aos 25, mas ainda assim o Corinthians não conseguiu a virada. O empate, já sob um temporal, foi do ponta Paulo Sérgio, aos 29 minutos.

O 1 a 1 persistiu até o fim.

Ainda Guinei

Ele sequer terminou a partida. Foi substituído por Édson logo depois da sua falha. Abalado pelos erros na Bombonera, quase não jogou a partida de volta, mas voltou atrás depois de temer ser chamado de medroso pelos torcedores. Sobre a falha no Morumbi, lamentou: "Deveria ter dado um bico para fora".

Campeão brasileiro de 1990 como titular, aquela partida contra o Boca não representou sua despedida do Corinthians, ao contrário do que muitos lembram.

O técnico Nelsinho o afastou por 20 dias para "esfriar a cabeça". Guinei tinha 22 anos e deu a volta por cima, fechando a temporada como titular e vice-campeão paulista (perdeu a final para o São Paulo de Raí).

Logo depois, foi para o União São João, trocado pelo zagueiro Henrique.