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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Por que Riquelme mudou de ideia e não está com o Boca em São Paulo

Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do Boca Juniors, dá entrevista - Reprodução TV
Juan Román Riquelme, vice-presidente de futebol do Boca Juniors, dá entrevista Imagem: Reprodução TV

Colunista do UOL

26/04/2022 07h45

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Vice-presidente de futebol do Boca Juniors, Juan Román Riquelme colocou o seu nome na lista da delegação do clube que chegou ontem (25) a São Paulo, onde joga hoje (26) às 21h30 (de Brasília) contra o Corinthians na Neo Química Arena. Ele, porém, não apareceu no embarque, chamando atenção pela ausência em um jogo dos mais importantes e com o clube em momento delicado.

Na semana passada, o técnico Sebastián Battaglia quase caiu, e esperava-se de Riquelme um gesto de incentivo com sua presença na delegação que está agora em São Paulo. A coluna apurou em Buenos Aires, porém, que o "recuo" de Riquelme teve mais a ver com a maneira silenciosa e distante de exercer o seu poder nos bastidores xeneizes — o que faz desde dezembro de 2019.

Riquelme não costuma viajar com o clube — sua presença se resume às aparições no camarote da Bombonera ou uma ou outra partida decisiva fora de casa no âmbito local. Na briga contra o Atlético-MG no ano passado, por exemplo, ele não esteve no Mineirão, e muitos avaliam que o comportamento geral seria outro com sua presença. Vale lembrar que o Boca tem jogadores suspensos até hoje por conta daquele quebra-quebra.

O sabor de "mais do mesmo" com a ausência de Riquelme não se repete desta vez porque ele incluiu seu nome na lista dos que viajariam — o ídolo voltou atrás porque se sente melhor acompanhando a equipe da maneira habitual.

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Vice-presidente do Boca, Riquelme observa partida contra o Banfield no estádio Florencio Sola
Imagem: ALEJANDRO PAGNI / AFP

Superstição e cumbia

Román deu repetidas entrevistas dizendo que prefere seguir o Boca da sala da sua casa, em Don Torcuato, na zona norte de Buenos Aires. E o antigo camisa 10, de extenso passado contra o Corinthians nos duelos de 2012 e 2013, é dos mais tinhosos na hora de exercer sua paixão.

Senta sempre no mesmo lugar — assim como quem fica ao seu redor — e tira o volume da narração. E põe música, especialmente cumbia, no lugar das transmissões e informações (os jogos da Libertadores na Argentina são transmitidos em um "pool" entre ESPN e FOX Sports).

"Não preciso que me digam se o time está jogando bem ou mal, avalio por mim mesmo", disse Román em entrevista à ESPN no começo deste ano.

Todo o seu ritual, claro, virou tema de muita atenção na Argentina, que questiona até que ponto o seu apoio é profissional ou meramente passional.

Este "bunker" de Román conta também com toda a tecnologia que o permite conversar à distância com quem quer que seja. Através desses conversadores, ele vai dialogar hoje com o ex-zagueiro colombiano "Patrón" Bermúdez, integrante da sua diretoria, que está em São Paulo como chefe da delegação e subordinado de Riquelme.

Hoje, quem dará as caras será ele, Bermúdez. Resta saber se Riquelme inclusive diminuirá o volume da sua cumbia para dialogar com o colombiano. Quem convive com Román diz que são nos pequenos gestos que ele reforça sua autoridade. A sua ausência em São Paulo, de fato, é um deles.

Caprichoso como jogador, Riquelme, quem diria, é ainda mais fora dele.