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Tales Torraga

REPORTAGEM

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Por que só se fala na rixa entre Tevez e Riquelme na Argentina

Ídolos do Boca, Carlitos Tevez e Román Riquelme começaram 2022 com desentendimentos - Reprodução TyC Sports
Ídolos do Boca, Carlitos Tevez e Román Riquelme começaram 2022 com desentendimentos Imagem: Reprodução TyC Sports

Colunista do UOL

07/02/2022 08h59

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Quem acompanhou as análises esportivas nas TVs e rádios de Buenos Aires neste fim de semana se deparou com um tema predominante: a rusga cada vez maior entre Carlitos Tevez e Juan Román Riquelme, dois dos grandes ídolos históricos do Boca Juniors. E com um "terceiro elemento" em questão: Ramón "Wanchope" Ábila, atacante ex-Cruzeiro hoje no Boca, mas que já foi avisado que não fará parte do elenco nesta temporada.

Wanchope está com 32 anos e quer sair do clube, e na última sexta-feira se manifestou nas redes sociais dizendo que "não tinha medo das ameaças" do Conselho de Futebol liderado hoje por Riquelme no Boca. Ábila reclama de negligência, afirmando que os dirigentes não o atendem e não demonstram respeito nem por ele e nem pelas finanças do clube, que está deixando de faturar com a sua negociação. O Colón, que disputa a Libertadores deste ano, deve ser o seu provável destino, mas não aceitou o valor pedido pelo Boca (US$ 4 milhões, cerca de R$ 21,5 milhões).

Riquelme desfilou pela TV na noite de sexta com frases venenosas como "Wanchope está bravo porque ninguém o comprou" e "Não tenho redes sociais e não trabalho de acordo com o que postam lá". E aproveitou para lançar o que os argentinos chamaram de "dardo fulminante": "Se Tevez quiser concorrer às eleições do Boca, ganhamos por 85% a 15%".

Tevez e Wanchope são amigos de longa data — e o atacante que postou a furiosa mensagem na semana passada deu a entender que sofre a retaliação no clube por ser amigo de Carlitos, praticamente o braço-direito de Daniel Angelici e Mauricio Macri, ferozes opositores ao presidente Jorge Ameal, hoje no cargo.

Nesta madrugada, como num pastelão portenho, Ábila e Carlitos postaram fotos e vídeos juntos no aniversário de Tevez (completou 38 anos na semana passada) com a seguinte legenda: "Para você, Riquelme".

As transferências no futebol argentino se encerram depois de amanhã (9), e Wanchope, em chamas, exige uma resposta do Boca até lá.

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Riquelme e Tevez no início de suas carreiras pelo Boca Juniors
Imagem: Reprodução/Olé

Ex-companheiros

Tevez e Riquelme jogaram juntos na seleção argentina na Copa do Mundo de 2006. No Boca, tiveram convívio mínimo dentro de campo, mas Carlitos sempre afirmou que Román era, junto a Diego Maradona, seu grande ídolo de infância, como mostra a foto ao lado na Bombonera.

Ambos, porém, se distanciaram em 2008, quando Tevez comprou a briga de Maradona, então técnico da seleção, com Riquelme. A relação azedou de vez com a chegada de Román ao poder no Boca, em dezembro de 2019. Carlitos vivia sua reta final no clube e era subordinado de Román, sendo tratado, segundo quem convivia com ambos no dia a dia, como "um inimigo político".

Carlitos declara desde 2018 que se prepara para ser presidente do Boca. É visto pelo "macrismo" (o núcleo de Mauricio Macri) como a principal figura para o grupo voltar a comandar a política do clube. O movimento caiu em desgraça depois das eliminações seguidas para o River Plate — agravadas, claro, com a histórica derrota da final da Libertadores de 2018.

As próximas eleições para presidente no Boca estão marcadas para dezembro de 2023.