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Sauditas x slams: entenda os planos para mudar radicalmente o mapa do tênis

A ATP anunciou um calendário provisório para 2025 com mudanças significativas. Haverá três novos torneios da série 500 (Dallas, Doha e Munique); o saibro de Córdoba será substituído por um torneio de grama em Maiorca no meio do ano; Los Cabos sai de fevereiro e vai para julho; Hamburgo deixa julho e será em maio; Cincinnati terá 12 dias; e o Rio Open "ganha" na mesma semana a concorrência de Doha, que também é 500 e tem bolsos mais profundos.

A lista acima vale apenas para o tênis masculino e, ao que tudo indica, deve ser apenas a ponta do iceberg no circuito. Atualmente, ATP e WTA têm na mão uma proposta bilionária do PIF, o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita. Na outra, um projeto que envolve os torneios do Grand Slam e planeja um circuito de elite com apenas 14 torneios em sua divisão principal. Qualquer que seja a decisão das autoridades do tênis - e elas são muitas hoje em dia - é muito provável que a modalidade tenha uma cara completamente diferente já na segunda metade desta década.

Arábia: bilhões por fusão e torneio 1000

Os sauditas já vêm amanteigando os cartolas do tênis há algum tempo. Primeiro, compraram os direitos de sediar o ATP Next-Gen Finals, torneio que reúne os melhores sub-20 do tênis masculino. Recentemente, em fevereiro, assinaram uma "parceria estratégica plurianual" com a ATP (com valor estimado na casa dos sete dígitos, ou seja, alguns milhões de dólares). Os rankings da entidade levarão o nome do PIF, que também terá sua marca exibida nos Masters 1000. E o fundo árabe ainda negocia para sediar o WTA Finals, que também exigiria um aporte pesado (não que eles não tenham dinheiro para tanto).

Mas isso é só começo. Os árabes também propõem investir US$ 2 bilhões no tênis para financiar uma fusão de ATP e WTA. O negócio também incluiria a criação de um Masters 1000 na Arábia Saudita em janeiro, pouco antes do Australian Open. Seria um negócio significativo, tanto em termos financeiros quanto na questão da fusão, com direitos negociados em conjunto pela tão sonhada entidade única formada por ATP e WTA. Significaria, evidentemente, um novo cenário para o tênis, só que existe um plano ainda mais radical para a modalidade, e ele vem dos slams.

Os slams e o formato elitista

O dilema do plano árabe é que ele afeta diretamente o pré-Australian Open, que é quase todo organizado pela Tennis Australia (TA), dona da United Cup, dos ATPs de Brisbane e Adelaide e dos WTAs de Brisbane, Hobart e Adelaide. Não é poca coisa. O presidente da TA, Craig Tiley, que também é o diretor do Australian Open, percebe a ameaça saudita e argumenta que "os jogadores querem estar na Austrália" e até que "a ciência diz que você precisa de pelo menos um par de semanas para se aclimatar" [e jogar o Australian Open].

Tiley, então, tem como resposta para o "dilema árabe" a criação da chamada Premier Tour (é o nome que vem sendo utilizado até agora), que seria um circuito de elite com apenas 14 torneios em uma espécie de divisão principal. Além dos quatro slams, seriam disputados mais dez eventos (grupo que deve ser formado, em sua maior parte, pelos atuais Masters e WTAs 1000). E nada mais. Cerca de 100 homens e 100 mulheres disputariam esses eventos. O resto dos atuais ATPs e WTAs (algo entre 75 e 100 torneios) viraria uma divisão secundária para cerca de 200 homens e 200 mulheres com um sistema de ascensão e rebaixamento.

Esse plano tem o apoio dos outros três slams, e atualmente quem toma a dianteira da parte midiática é o CEO da USTA (a federação dos EUA), Lew Sherr. Não há uma data prevista pelos idealizadores, mas o executivo diz que deve haver um período de transição. No entanto, Sherr garante que se for preciso, esse novo formato pode começar já em 2026 (leiam mais detalhes nesta entrevista à Sports Illustrated).

Será?

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Coisas que eu acho que acho:

- No momento, parece impossível dizer qual dos planos tem mais chance de ser colocado em prática. A sugestão árabe, contudo, soa menos radical em termos de apresentação e formato de um circuito mundial.

- Evidentemente, a Premier Tour tem pitadas de elitismo espalhadas por todo o projeto. A ideia se baseia em uma pesquisa de 2021 que, segundo eles, mostra que 70% dos fãs acompanham tênis apenas durante os slams. E esse é um argumento feito pelos controladores dos slams. Que coisa, não?

- Meu problema com o argumento acima é o seguinte: se partirmos do princípio que fãs só veem tênis durante os slams, e a solução para isso é criar um circuito com apenas 14 torneios, o que será do resto dos eventos? Afinal, se ninguém vê essas competições hoje em dia (pelo menos é isso que diz a pesquisa citada por eles), quem vai querer vê-las em um cenário onde serão ainda menos relevantes? Quem vai bancar esses torneios (que são os atuais 250 e 500)? Como será mantida a saúde financeira do circuito aquém da divisão principal? Qual o incentivo para que eles sigam existindo? Pelo que li até agora, vejo apenas notas de elitismo e retrogosto de "tô nem aí".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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