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Laura Pigossi: autoconhecimento e troféu na Índia destravaram ano bronzeado

Divulgação/Luiz Candido
Imagem: Divulgação/Luiz Candido

Colunista do UOL

15/12/2021 04h00

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Foi, com folga, a melhor temporada da vida de Laura Pigossi. E nem precisaríamos contar com a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos Tóquio-2020 para tirar tal conclusão. A paulista de 27 anos começou 2021 como número 395 do mundo no ranking de simples e #153 nas duplas. Hoje, ocupa o 192º e o 163º postos, respectivamente.

O brilho dos últimos 12 meses, porém, vão além dos números e da reluzente medalha que carrega aonde quer que vá. Hoje, Laura se vê como uma mulher mais madura, que conhece melhor sua personalidade, seu tênis e sua capacidade. O crescimento profissional também incluiu durante a pandemia uma mudança no local de treino, na Espanha, onde mora desde 2016. A nova parceria com a academia Ad In, comandada por Albert Portas e German Puentes, trouxe resultados.

Laura e eu conversamos na semana passada, aqui em São Paulo, e o papo com a atual número 2 do Brasil em simples (e #3 em duplas) passou por vários assuntos além da óbvia campanha olímpica. A jovem falou sobre como um torneio na Índia ajudou a "destravar" sua temporada, contou como uma crise de choro em Tóquio após as semifinais fez parte da conquista do bronze e explicou como morar na Espanha ajuda sua evolução tenística.

Com seu jeito espontâneo e sem eufemismos forçados, Laura também opinou sobre a vacinação obrigatória no Australian Open e a decisão da WTA de cancelar os torneios na China devido ao caso Shuai Peng. Leia a seguir!

Pigossi toquio - Gaspar Nóbrega/COB - Gaspar Nóbrega/COB
Imagem: Gaspar Nóbrega/COB
Você começou o ano como #395 do mundo em simples e agora é #193 em simples e #163 em duplas. Dá para dizer que é o melhor ano da sua carreira - mesmo tirando os Jogos Olímpicos?

Com certeza (risos). É o melhor ano da minha carreira, disparado. Consegui um título de um [torneio de] US$ 15 mil no começo do ano porque ainda não tinha ranking para entrar nos torneios de US$ 25 mil. Com a pandemia, os torneios estavam fechando muito duros. Depois comecei a jogar os de 25 mil, ganhei o torneio da Índia [um W25 em Pune], cheguei a ter 19 jogos e duas derrotas, estava muito confiante. Joguei a Billie Jean King Cup e consegui representar o Brasil das melhores maneiras possíveis. Faltaram dois pontinhos para eu ganhar o jogo e poderia ter dado aquele ponto para o Brasil. Mas, com certeza, foi o melhor ano.

Você aproveitou bem esse fim de calendário, com torneios na América do Sul e chaves menos fortes do que você teria na Europa. Você já tinha subido umas 100 posições antes dessa sequência, mas o quanto ajudou essa gira?

Ajudou muito. Eu amo jogar na América do Sul, principalmente nos torneios do Brasil, onde eu me senti em casa. Em Rio do Sul (SC), eu estava jogando com uma torcida gigante. Fez muita diferença. Parecia Billie Jean King Cup, todo mundo torcendo, gritando, falando meu nome, e eu me senti em casa. No torneio de Goiânia, a mesma coisa. Parecia que eu estava no meu clube. Jogar no Brasil é sempre muito especial. Quando eu era menor, meus primeiros pontos foram aqui. Quando saí do juvenil, tive bons resultados nos W25 em Rio Preto, Campos do Jordão, Campinas, Riviera... E cheguei num ranking de 240, que tinha sido o meu melhor ranking até então.

Você também trocou de técnico. Você treinava com o Martín Vilar, e agora está na academia Ad In, em Barcelona, também na Espanha. O que você acha que evoluiu mais no seu tênis nesse período?

É. Agora eu treino com o German Puentes, que é o meu head coach. Eu acabo viajando com os outros. O que eu mais viajo é o Jordi Campos. Ele treinou o Gilles Muller por cinco anos, já ganhou do Nadal, do Federer com ele. Ele tem uma visão muito além...

Aquele jogo de Wimbledon, contra o Nadal, era o Jordi treinando o Muller? (Muller bateu Nadal no quinto set por 15/13, nas oitavas de final, em 2017)

Era ele. Ele tem uma visão muito além, muito parecida com o meu head coach. Eles estão sempre em contato, e eu senti que amadureci muito, principalmente... De jogo, eu estou bem mais sólida, mas o que mudou mesmo foi o meu controle emocional. Eu trabalhei muito isso durante a quarentena. Aquele negócio de olhar no espelho e perguntar "o que eu posso fazer para voltar melhor? O que eu não tenho? O que está faltando?" Foi um momento em que eu realmente olhei para dentro e consegui analisar um pouco tudo de uma maneira fora dos torneios e me entender mais como pessoa e como jogadora. Fui mais por esse lado de tentar me controlar melhor, de confiar mais em mim, buscar essa sensação de confiança, fechar o olho e sentir isso. Foi o grande clique que deu no meu jogo e na minha carreira.

PIGOSSI BJK - Divulgação/ITF - Divulgação/ITF
Imagem: Divulgação/ITF
Isso foi depois de você trocar de técnico ou foi o que fez você trocar de técnico?

Foi um pouco tudo junto. Na quarentena, eu ainda estava com o mesmo técnico, mas decidi que ia mudar ali, durante a quarentena. Mas eu já vinha fazendo esse processo de emoção, de psicologia, tudo durante.

Com acompanhamento de psicólogo ou por conta própria, na base da autoanálise mesmo?

Um pouco dos dois. Eu sempre tive psicóloga, desde os 9 anos. Inclusive ela tinha atletas olímpicos e sempre me falava a diferença de um atleta que vai para as Olimpíadas para um atleta que consegue medalha e para um atleta que consegue a medalha de ouro. Então eu tinha muito claro como eu tinha que me comportar, o que eu tinha que pensar e saber sobre as Olimpíadas. No tênis, acaba que as Olimpíadas não são algo que os tenistas realmente valorizam como no atletismo. Não tem ponto [no ranking], muita gente não vai... Mas eu sempre tive que as Olimpíadas eram algo muito forte...

Você não pode ver, mas eu estou vendo seus olhos e... eu estou ficando emocionado!

É! Eu sempre cresci escutando isso. Ela [a psicóloga] atende várias atletas olímpicos e medalhistas olímpicos, e eu sempre quis participar. Eu amo as competições pelo Brasil, eu realmente dou tudo de mim, deixo o coração ali na quadra, então foi algo bem importante.

Uma pergunta que me fizeram bastante na época em que vocês conquistaram a medalha... Eu não sei a resposta e não quero que você se ofenda, mas o que meus amigos leigos de tênis perguntavam era "como essa menina é #200 do mundo e está ganhando uma medalha olímpica?" Talvez a pergunta fique melhor ao contrário: "Por que ela está ganhando uma medalha olímpica e ainda é #200 do mundo em dupla?" Você tem uma resposta para isso?

Eu estava #120 [em duplas], mas tenho vários sonhos, e um deles é poder jogar individual. Eu acredito nisso, é algo que sempre sonhei. Eu também sempre sonhei em jogar dupla, estar entre as melhores, mas eu não queria fazer só isso. Eu achava que tinha a capacidade de jogar simples também. Depois da quarentena, eu parei de jogar dupla. Joguei dois ou três torneios antes das Olimpíadas porque elas me pegaram meio de surpresa [Laura e Luisa Stefani se classificaram para Tóquio em cima da hora]. Então foi mais por conta disso [que seu ranking de duplas caiu]. Eu também, estando #120 do mundo, nunca investi só nisso. Sempre tentei coordenar com os torneios de simples, e eu acabava jogando poucos WTAs porque não entrava nos torneios nas simples. Então depois da quarentena eu falei "este é meu sonho, quero poder jogar individual nos torneios grandes para poder jogar dupla." Parei de jogar dupla, foquei 100% da minha energia naquilo e foi o que eu fiz. Comecei a jogar só individual. Na época, eu queria chegar a #270 para poder jogar os WTAs em simples e duplas, e foi melhor do que o esperado. Agora estou #190 e posso combinar os torneios grandes com alguns pequenos no ano que vem.

A Luisa me contou que durante as Olimpíadas, você estava ansiosa para chegar aos 10 mil seguidores no Instagram para poder compartilhar links (Laura ri) e tudo mais. Mas depois que acabou tudo, depois do ouro... Quer dizer, o bronze...

Parece ouro, né? (risos)

Parece (risos). Como é que as pessoas te veem agora? Você se sente mais respeitada, mais admirada... Como é que você vê?

Eu sinto muito apoio das pessoas. Eu até estava comentando com a minha família que antes eu não tinha tão bons resultados às vezes, e as pessoas não me apoiavam tanto. Depois das Olimpíadas, em Rio do Sul, eu joguei a semifinal contra uma chilena [Daniela Seguel] e perdi por 6/1 e 6/2. Foi televisionado pelo SporTV e acabei não conseguindo jogar meu melhor tênis, mas porque ela jogou muito bem, errou muito pouco e jogou de uma maneira que inibiu um pouco a minha maneira de jogar. E eu saí da quadra, e todo mundo me elogiando. "Parabéns pela atitude", "você é sempre guerreira"... E não recebi uma mensagem do tipo "putz, sempre isso", coisas que no tênis são muito comuns. Então eu realmente estou sentindo mais esse apoio. Eu não sei explicar. Todo mundo muito orgulhoso, grato pela nossa medalha, pela maneira como a gente inspirou o Brasil, mostrou como foi difícil chegar nas Olimpíadas e, apesar de tudo isso, buscou soluções para os problemas. Acho que muita gente se familiarizou com essa história, e realmente foi uma história de conto de fadas.

Pigossi Goiania - Divulgação/Luz Press - Divulgação/Luz Press
Imagem: Divulgação/Luz Press
Realmente, é uma história fantástica. Desde a classificação, depois teve match points contra as tchecas, teve o match tie-break contra a Mattek-Sands e a Pegula, teve a semi que vocês estavam ganhando por 4/0 e... [a dupla suíça venceu de virada por 7/5 e 6/3]

A gente abriu 4/0 e depois perdeu um set point para fazer acho que 7/5... Um smash no quadradinho. Na hora, a gente estava só jogando, mas depois do jogo, parecia que tinham enfiado uma faca dentro do meu coração. Eu fiquei muito abalada. Eu lembro que a gente estava na Vila Olímpica, a Lu estava fazendo um vídeo dizendo "uma pena hoje, escapou, mas vamos seguir fortes, amanhã a gente não joga, a gente tem 24 horas..." Aí eu virei para ela no meio do vídeo e falei: "a gente não joga amanhã? Então eu preciso chorar." E desabei de chorar, de soluçar, no meio da Vila Olímpica! Ela ficou assim, sem reação, sem saber o que fazer e começou a me abraçar. Eu estava devastada. Sabe quando você realmente acredita em algo e tipo... desmoronou? E ela "calma, a gente vai conseguir esse bronze." Daí a gente começou a focar mais, treinar mais, mas foi bem difícil a derrota. Durante o jogo [a semifinal]... Acho que foi um pouco de tudo. Estar tão perto, chegar tão longe, querer muito, ganhamos jogos muito bons e acreditar, sentir na pele que no 4/0, a gente vai. Daí as meninas começam a jogar super bem, param de errar, então foi um misto de tudo.

Tem uma coisa muito interessante na sua temporada e que ficou completamente esquecida depois da Billie Jean King Cup, da medalha e tudo, que foi aquele jogo de 5h...

Quatro horas e cinquenta e seis (risos)!

Eu achei fantástico que você perdeu e, na semana seguinte, estava na BJK jogando como se nada tivesse acontecido. [Laura perdeu para a russa Amina Anshba por 7/5, 3/6 e 7/5]

É, fisicamente eu cãibrei em todas as...

O que aconteceu ali? A menina dava muito balão, foi isso?

Muito! Muito balão. Você não tem noção! Muito, muito! E eu tentava pegar de swing volley, e ela dava mais alto, e eu entrava e saía, entrava e saía. Ela estava jogando muito bem, e eu estava jogando super bem, e ficou e ficou e ficou... Do lado da nossa quadra, tiveram três jogos que começaram e acabaram, e a gente seguia jogando. E ainda saí da quadra e tive que escutar: "ai, pena, Laura. Mas se você tivesse jogado por cinco minutos a mais, seria o segundo jogo mais longo da história." Eu: "por que você não me falou? Eu dava uns balões a mais aqui, pelo menos eu quebrava algum outro recorde! Já fiquei tanto tempo dentro dessa quadra." (risos)

Não sei se você já teve tempo de planejar o ano que vem, mas imagino que a temporada comece na Austrália...

É. Eu só tenho as duas primeiras semanas de momento no calendário. Eu cheguei aqui na América do Sul como #270 e tinha a perspectiva de um calendário, que era focar na Austrália, mas não tinha nada a mais do que isso. Agora que eu estou #190, o calendário muda. Não consegui sentar com meu técnico para avaliar. Confio plenamente nele, ele passou por essa situação com muitas outras jogadoras. Ele treinou a Sakkari, a Sara Sorribes, então ele vai saber me guiar e escolher os torneios certos.

Você está vacinada?

Eu vacinei logo depois da Olimpíada, no dia 3 de setembro. Johnson, uma dose só. Teria que tomar a segunda, mas só liberaram agora na Espanha.

Você acha que o governo do estado de Victoria faz certo ao exigir vacinação de todos que vão jogar o Australian Open?

Ah, eu acho que o mundo inteiro está um pouco assim. Estão pedindo vacina para tudo, então não tem uma resposta se é certo ou errado, mas o que o governo de cada país quer, e a gente simplesmente tem que aceitar isso. Se tem gente que talvez não concorde e talvez opte por não jogar, é uma escolha de cada um. Cada um escolhe o que quer colocar dentro do corpo, eu também respeito essa escolha, mas acho que nós, brasileiros, estamos acostumados a tomar vacina desde cedo, então para a gente é só mais uma. É o que tem que fazer? É o que tem que fazer. Então é isso.

Como é que você normalmente monta um calendário? Olha os torneios do ano anterior? É por piso? Geografia/distância?

No começo deste ano, eu estava vendo muito mais o ranking que os torneios estavam fechando. Tinha muito poucos torneios, e os eles estavam muito duros, então eu estava #390 e não conseguia entrar nem num quali de um US$ 25 mil. Meu primeiro torneio foi na Espanha porque estava ali do lado, ficava a 3h de trem de onde eu moro. Era cômodo, prático, e joguei ali para começar o ano. Depois eu ia jogar 2-3 semanas em Monastir (Tunísia), outro torneio de US$ 15 mil. Era quadra rápida, e eu queria jogar em quadra rápida porque na minha cabeça eu jogava melhor em quadra rápida, era mais agressiva (Laura sorri enquanto fala de seu tênis)...

Por que "na sua cabeça"? Já "quebrou" isso?

(risos) Acho que depois desta temporada de saibro, quebrou completamente isso. É aquele negócio: você ganha um torneio... Fazia um tempo que eu não ganhava um torneio antes do primeiro que eu ganhei este ano. Depois que eu ganhei, eu falei "quero jogar na rápida" então fui para Monastir. A lista do outro torneio fechava quando eu estava em Monastir, e eu acabei entrando em um US$ 25 mil na Índia. Eu era cabeça de chave, era só um torneio e eu falei "eu vou". Preciso dessa oportunidade. Terminei de jogar na Tunísia, foi um rolo para chegar na Índia! Estavam fechando a fronteira, só podia entrar por uma cidade. Na segunda de manhã, eu estava no aeroporto, e minha parceira de dupla falou "não sei se você vai conseguir entrar na Índia, então eu vou assinar dupla com outra menina." Pensei "vou fazer esse trampo de viagem para jogar só simples? É isso, é o que tem que fazer, é a oportunidade, vamos!" Fui lá e ganhei o torneio. Daí meu ranking mudou. De #390, fui para #330, já conseguia entrar nos quali dos US$ 25 mil. Daí consegui escolher um pouco melhor para jogar os torneios de US$ 25 mil, e eu sabia que tinha nível para jogar, mas eu não tinha ranking. Daí foi indo. Uma coisa foi puxando a outra, fiquei mais confiante, treinei muito, muito mesmo! Desde a quarentena do ano passado, quando eu mudei para essa nova academia, o que eu mais fiz foi treinar. Fiz uma pré-temporada de sete semanas - ou mais até - e estava muito forte emocionalmente e mentalmente. Foi a base deste ano tão bom que eu tive.

Eu devia ter perguntado isso antes, mas qual é a maior vantagem de estar na Espanha? É ter mais parceira de treino? É ter torneios mais perto? É não ter que pagar tanto para viajar?

É um pouco de tudo, mas essa parte de viajar, de ter mais torneios, mais oportunidades... Poder escolher entre um torneio e outro. "Não quero jogar na quadra rápida, quero jogar no saibro" ou "nessa [chave] aqui, eu estou de cabeça de série, vamos para esse que provavelmente o primeiro jogo vai ser mais fácil, eu vou somar um pouquinho mais"... E também parceira de treino. Eu treinava aqui na Play Tennis e acabava tendo que chamar muita gente de fora para poder vir treinar comigo. E só na minha academia [na Espanha] tem duas #180, eu estou #190, tem uma que é #210, outra que é #230, todas vão para a Austrália juntas. São todas meninas, a gente se dá super bem, a gente consegue economizar nos gastos de viagem, a gente tem um treinador para duas ou três. A gente veio para a América do Sul e dividimos em 3-4 pessoas os custos. Faz muita diferença. Estou muito contente com essa academia, com o esquema em que eu estou. Os treinadores - todos - têm algo para aportar, algo diferente, mas na mesma linha e da mesma maneira, então estou muito feliz onde eu estou.

Eu nunca vi você responder isso, então vou perguntar: quem você gosta de ver jogar?

Cara, eu sempre fui apaixonada pela Azarenka. Pela intensidade que ela joga, a garra que ela tem. Mesmo quando as pessoas falam "ah, ela é prepotente, se acha um pouco", eu adorava a atitude dela. Eu nunca vi ela entregar um jogo, sempre gostava do jogo agressivo dela. Ela quer ganhar. Eu vejo muito isso nela. Tudo bem, às vezes ela passa um pouco, mas eu gosto da atitude. De olhar para ela e falar "cara, ela quer ganhar". Eu acho isso bonito. Dentro do esporte, é ser competitivo. Eu sempre gostei muito dela. Amo Serena, amo o Federer, gosto muito da Sharapova, mas acho que o jogo da Sharapova não se encaixa comigo. Eu não sou alta, não consigo dar winner para todo lado. Eu acabo me identificando mais com outras pessoas.

Pigossi Rio do Sul - Divulgação/Luiz Candido - Divulgação/Luiz Candido
Imagem: Divulgação/Luiz Candido
Você falou da altura, e no tênis feminino não costuma ser um problema tão grande quanto para um Schwartzman, por exemplo. Tanto que a Ashleigh Barty, número 1 do mundo e campeã de Wimbledon, tem 1,66m de altura. Você tem isso mais ou menos, né?

1,65m.

Mas quando você planeja o que quer melhorar no jogo, você tem isso em mente? Que é preciso compensar algumas coisas porque você nunca vai ter o saque de uma Pliskova, por exemplo?

Com certeza. A maneira que eu treino e a maneira que meu treinador quer que eu jogue é assim: é muita intensidade, é sempre uma bola a mais, é esgotar as adversárias com essa intensidade e com esse físico. Você quer ganhar de mim? Tá bom, você vai ter que jogar três horas e meia. Foi o que aconteceu no WTA de Montevidéu. Eu joguei com a Panna [Udvardy, tenista húngara que derrotou Laura em três torneio seguidos em novembro] e perdi para ela três vezes. Tá bom, mas para ganhar de mim você vai ter que salvar quatro match points e estar perdendo por 7/5 e 5/2 e ganhar em 3h30min. É isso que ele quer. Que eu seja aquela tenista que as pessoas olhem e falem "vou jogar com ela? Putz! Posso ganhar, mas vou terminar morta." Então esse é o jeito que ele quer que as pessoas me vejam.

Para terminar: sobre o caso da Shuai Peng [tenista chinesa que desapareceu após denunciar um caso de abuso sexual envolvendo um ex-líder do governo chinês], você tem acompanhado? Acha que a WTA fez bem ao cancelar todos torneios da China? Não afeta muito na sua faixa da ranking em termos de calendário, né?

Não me afeta, mas não é nem uma questão de me afetar. Eu concordo com a WTA. Acima de qualquer coisa, a tenista é humana. Direitos humanos sempre vêm em primeiro lugar. Acho que a WTA está super certa em fazer isso, em tirar os torneios da China. E se não conseguirem fazer isso, vai muito das jogadoras também de quererem estar num lugar assim ou não.

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