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Gaby Dabrowski: sobre duplas, Canadá, sucesso e fim precoce de Stefanowski

Divulgação/WTA
Imagem: Divulgação/WTA

Colunista do UOL

29/11/2021 04h00

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A cada vitória importante, um vídeo da dupla e uma frase em português pronunciada pela canadense Gabriela Dabrowski. Com excelentes atuações, uma química instantânea e altas doses de carisma, ela e a a brasileira Luisa Stefani conquistaram grandes resultados e muitos admiradores.

Foram apenas quatro torneios em 2021. Stefanowski, como a dupla foi apelidada, conquistou um título no WTA 1000 de Montreal, um vice no WTA 500 de San Jose e outro vice no WTA 1000 de Cincinnati. A parceria estava na semifinal do US Open quando Luisa sofreu uma ruptura total em um ligamento do joelho. Naquele momento, um time promissor, que encantava nas quadras e nas redes sociais, teve um fim precoce.

Não, Stefanowski não deve se repetir em 2022. Na entrevista concedida ao Saque e Voleio, Gaby afirmou já estar de compromisso assumido para jogar a próxima temporada inteira ao lado da mexicana Giuliana Olmos, atual número 18 do mundo nas duplas. Não foi só sobre isso, porém, a "conversa" (a entrevista foi feita por mensagens de áudio, com todas perguntas enviadas juntas, antes do recebimento de qualquer resposta).

Gaby Dabrowski, 29 anos, atual número 7 do mundo, também falou sobre os motivos do sucesso da parceria com Luisa, de como elas enxergam da mesma maneira o jogo de duplas e de como Stefanowski - o time - ajudou a experiente canadense a entender melhor que tipo de parceira é ideal para o seu tênis.

Sem poupar palavras - suas respostas, juntas, somam mais de 20 minutos de áudio, que publicarei na íntegra no podcast Saque e Voleio - Gaby também falou sobre o tênis no Canadá, que tem uma geração especial, com nomes como Bianca Andreescu, Denis Shapovalov, Leylah Fernandez, Félix Auger-Aliassime, Eugenie Bouchard, Milos Raonic e outros. Spoiler: nem tudo é mérito da federação, mas o ambiente do país, mais aberto a imigrantes que outras nações de "primeiro mundo", ajuda quem se muda para lá em busca de oportunidades e disposto a trabalhar duro.

dabrowski - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
A essa altura, você deve saber que a Luisa é enorme na comunidade do tênis no Brasil e se tornou grande até mesmo fora do círculo do tênis por causa da medalha de bronze nos Jogos Olímpicos. E depois de acompanhar vocês jogando e nas redes sociais, sei que há vários fãs seus aqui também. Minha primeira pergunta é sobre o começo de sua parceria com a Luisa. Eu sei que vocês se conhecem há algum tempo porque treinam na academia Saddlebrook (em Tampa, na Flórida, EUA), mas quando foi a primeira vez que você pensou que vocês poderiam ser uma boa ou ótima dupla juntas?

Primeiro, muito obrigado por se adaptar à minha situação e mandar as perguntas por mensagens de voz. Com um calendário apertado, me ajuda muito te responder de uma maneira que sirva para você também. Sobre a sua primeira pergunta, Luisa e eu jogamos juntas pela primeira vez no ano passado (2020), em outubro, no WTA de Ostrava, e fomos muito bem (ela e Luisa foram vice-campeãs). Jogamos um ótimo tênis e acho que foi provavelmente a primeira vez que pensei "wow, podemos ser um bom time." Nós nos entrosamos bem em quadra, nossos estilos de jogo encaixam bem e nos divertimos jogando juntas como amigas. Passamos uma ótima semana lá. Então essa foi minha primeira indicação para uma possível futura parceria. Este ano, quando começamos a jogar juntas, na temporada de quadras duras, logo depois das Olimpíadas, foi fantástico. Não posso dizer que tinha expectativas porque estávamos jogando torneios grandes e contra times fortes e tenistas experientes, então eu não pensava em resultados que queria alcançar. Eu queria mais me divertir em quadra com a Luisa e ter uma ótima química jogando juntas. Eu estava buscando essa oportunidade. Felizmente, foi muito, muito bom para nós. Infelizmente, isso foi interrompido no US Open, mas a vida é assim. Às vezes, merda acontece, e você tem que lidar com isso, mas de modo geral, eu não mudaria essas semanas por nada e faria tudo de novo até aquele momento da lesão. Estou muito orgulhosa de como jogamos, de como lutamos, de nossa energia. Foram ótimas memórias, com certeza.

Talvez eu devesse ter começado com esta pergunta, mas aí vai de qualquer modo. Você e a Luisa começaram jogando quando a Hayley Carter (ex-parceira da brasileira) avisou que não jogaria o resto da temporada. A Luisa me disse que você não tinha uma parceira fixa na época, então minha pergunta é a seguinte: como uma tenista do seu calibre fica sem uma parceria fixa para uma temporada inteira? E o quanto isso te atrapalha em termos de resultados?

Com certeza, foi difícil ficar mudando [de parceira] antes de começar a jogar com a Luisa consistentemente. No meu caso, em especial, eu diria que estava testando parcerias em potencial por uma parte do ano e, em outros momentos, estava jogando com pessoas cujas parceiras mudaram calendários ou sofreram lesões. Mas acho que se você olhar para os resultados que tive este ano, todos os bons foram com tenistas que jogaram muito duplas, predominantemente duplas ou só duplas. Então acho que isso é, em potencial, um bom indicador do tipo de parceria que funciona bem para mim. Pode ser porque você passa mais tempo com aquela pessoa, seus horários de treino estão alinhados, vocês estão em uma pequena missão juntas, vocês têm objetivos parecidos e um compromisso parecido com as duplas. É algo que tive problemas para encontrar este ano, e foi algo que este ano me ensinou. É algo que valorizo muito. Agradeço o elogio quando você diz que alguém do meu ranking não tem uma parceira fixa, mas às vezes é uma questão de que essas foram as cartas que eu recebi este ano [Gaby faz uma analogia com jogos de cartas]. Como eu disse, algumas parcerias eu esperava que tivessem sido melhores que outras e houve algumas que foram ótimas, mas foram temporárias porque elas já tinham outras parcerias e compromissos, e eu só estava preenchendo um buraco para aquele torneio, e tudo bem nesses casos em especial. Eu tive parceiras fixas no passado e, às vezes, você busca algo diferente, então eu acho que estava tentando encontrar meu caminho. Para mim, este ano, encontrar meu caminho durou metade do ano, e tudo bem. Eu tenho total respeito pela parceria de Luisa e Hayley, e foi uma enorme pena que elas não puderam terminar a temporada juntas, mas o tênis é assim. Às vezes, o seu corpo diz quando você precisa parar ou fazer uma pausa. De novo, eu quase me sentia preenchendo um buraco, mas ao mesmo tempo eu estava empolgada ao jogar com Luisa porque eu a respeito muito como jogadora e pessoa e eu estava totalmente a bordo para ver como seria. Então foi assim que aconteceu a minha temporada (risos).

Eu já conversei com a Luisa sobre a parceria de vocês, e ela disse que seus jogos não necessariamente se completam em termos de você ter golpes que ela não tem e vice-versa, mas ela falou que vocês jogaram tão bem juntas simplesmente porque ambas são boas duplistas e jogam duplas do jeito que é para ser jogado: subindo à rede, fechando ângulos, colocando pressão nas adversárias e forçando-as a fazer algo especial para derrotá-las. Você vê seu sucesso com a Luisa da mesma maneira?

Sim, concordo com a análise dela. Não é que nos completamos, mas é apenas que nós duas jogamos um... não necessariamente tradicional, mas um estilo de duplas mais tradicional, indo para a frente, colocando pressão nas adversárias e fazendo a quadra parecer pequena para elas, de um jeito que elas sintam que precisam fazer golpes muito, muito bons várias e várias vezes. Acho que por isso neste verão foi difícil nos derrotar. Nós não demos muito espaço para as adversárias baterem, nós cobrimos bem a quadra, tivemos uma ótima comunicação e acho que isso é mais uma coisa que este ano me ensinou. Eu não tinha certeza, com o meu jogo, sobre o tipo exato de parceira com quem eu poderia ir bem. Porque eu já tinha feito as duas coisas: eu joguei com alguém que joga parecido comigo e tive bons resultados, mas também joguei com alguém que joga num estilo totalmente oposto e também tive resultados. Então eu também estava incerta sobre que estilo clicaria melhor com o meu, mas certamente no caso de Luisa foi porque estávamos na mesma página sobre como precisávamos jogar duplas. E aconteceu que funcionou.

A Luisa está se recuperando e ainda tem alguns meses pela frente até estar bem para voltar a competir (Luisa espera poder voltar ao circuito em maio, antes de Roland Garros), mas podemos dizer que vocês vão voltar quando ela estiver bem? Você tem planos para a Austrália e o que vem depois?

Eu vou jogar com a Guiliana Olmos [mexicana, 28 anos, atual #18 do mundo no ranking de duplas] no ano que vem. A Guiliana queria um compromisso por uma temporada inteira, o que entendo e respeito porque acho que pode ser difícil se comprometer por apenas os primeiros meses do ano - especialmente porque fomos bem em Miami este ano [Dabrowski e Olmos foram até as semifinais, fase em que foram eliminadas por Luisa e Hayley]. Eu concordo que temos o potencial para irmos bem, então o compromisso por um ano inteiro é algo justo a se pedir. Eu tive que tomar uma decisão por conta própria. "Eu me coloco na posição de - novamente - mudar a cada semana, jogando sempre com alguém diferente até Luisa voltar ou me comprometo com alguém que respeito como pessoa e como jogadora, alguém com quem vou me divertir dentro e fora da quadra?" Então eu estava numa situação difícil, tentando pensar na melhor rota a tomar. É claro que eu gostaria de jogar com a Luisa o mais cedo possível, mas no momento não posso prever o futuro. Eu adoraria te dizer "sim, é claro que jogaremos em algum momento do ano que vem", mas não sei no momento. Estou comprometida a jogar com a Giuliana para 2022 e não sei se isso vai mudar. Talvez não joguemos bem juntas e depois de alguns meses concordaremos em nos separar. Não há como saber. No que diz respeito à Luisa, não quero colocar pressão para ela voltar cedo demais nem nada parecido com isso porque é crucial que ela se recupere muito bem e tire o tempo que precise até voltar ao tênis, sem pressa. E não sei, você teria que perguntar à Luisa sobre seus planos, mas é provavelmente cedo demais para ela saber o que fará. Tudo está meio no ar. Com certeza, posso dizer que em algum momento no futuro absolutamente adoraria jogar com a Luisa e acredito que podemos ir bem novamente.

Quando a Luisa se lesionou, vocês estavam numa semifinal de slam jogando um tie-break. Vocês tinham a chance de conquistar o título. Seria o seu primeiro - sem contar duplas mistas, sei que você é a primeira mulher canadense a ganhar um slam - e vocês estariam classificadas para o WTA Finals. A lesão da Luisa no meio do jogo te dá a sensação de missão incompleta? E isso te dá motivação extra para, talvez, terminar o que ficou pelo caminho, seja lutando por outro título de slam ou tentando entrar no WTA Finals em 2022 ou 2023?

Suponho que você possa chamar de missão interrompida, mas não sei. Dizer isso agora parece distante para mim porque a Luisa está nos estágios iniciais de sua recuperação, não sabemos o que vai acontecer no ano que vem, como ela vai voltar jogando, com quem ela vai jogar e onde ela vai jogar e se serão simples ou duplas... Em duplas, é preciso de duas para bailar. Espero que quando chegue a hora estejamos disponíveis para jogar juntas e possamos conversar planos futuros. É claro: acredito que podemos ir bem, acredito que ela pode ir bem sem mim também, acredito que ela pode ganhar um slam e chegar no Finals e fazer sucesso também. Ela é capaz, ela acredita que é capaz também, mas é claro... A vida tem uma maneira engraçada (risos tímidos) de às vezes te dar os limões que você não esperava. Em inglês, temos um ditado que diz "quando a vida te dá limões, você faz uma limonada", mas você não sabe que tipo de limões você vai receber (risos). Talvez sejam limões ruins e você precise jogá-los fora (mais risos), então é difícil para mim sentar aqui e prever o futuro. Como eu disse antes: adoraria jogar de novo com a Luisa, mas como e quando isso vai ser, não tenho ideia.

Minhas duas últimas perguntas são sobre você e o tênis no Canadá. Obviamente, há uma grande geração com você, Bianca Andreescu, Leylah Fernandez, Milos Raonic, Félix Auger-Aliassime, Denis Shapovalov, Vasek Pospisil e provavelmente estou esquecendo alguém, mas é um grande grupo de jogadores. Isso é coincidência ou é o resultado de algo especial que a federação do Canadá faz? Se for o caso, pode me contar um pouco sobre como é esse trabalho? Você teve ajuda deles? E que tipo de ajuda eles dão? É com acesso a instalações, técnicos, dinheiro para viajar? Como isso funciona de modo geral e, mais especificamente no seu caso, como foi o seu crescimento no tênis?

Para te dar a resposta completa sobre a minha relação com a federação, precisaríamos de vários telefonemas ou muitas horas (risos), mas o que digo sobre esta geração é que todos viemos de origens diferentes, famílias diferentes, escolhas diferentes... Alguns passaram pela federação, e outros, não. Alguns tiveram boas experiências com a federação, e outros, não. Não quero entrar em detalhes sobre os outros porque cabe a eles falarem. No meu caso, as únicas vezes em que treinei no Centro Nacional de Tênis, em Montreal, foram no outono e no inverno de 2009 e no verão de 2010. O motivo pelo qual saí depois do inverno de 2009 foi porque me lesionei pela primeira vez na vida. Vim para a Flórida para fazer a recuperação porque ninguém que a federação tinha contratado era capaz de me dizer por que eu me lesionei ou o que fazer a respeito daquilo. E saí depois da sessão de 2010 porque não gostei de trabalhar com o técnico daquela vez e não tive permissão para trabalhar com mais ninguém. Perguntei se podia trabalhar de preferência com uma técnica mulher porque sou muito emotiva e queria trabalhar com uma mulher que entendesse minhas emoções e pudesse se relacionar comigo e, de preferência, uma ex-jogadora com experiência no circuito. Aquilo não era possível. Eles disseram "não, nós vamos te dar o técnico, é pegar ou largar." Perguntei se podia treinar na Flórida e eles apoiariam, perguntei se apoiariam se eu treinasse na Espanha, e eles disseram "não. Se você quiser dinheiro, tem que treinar no Centro Nacional." Não concordei com aquilo e saí. Desde então, tive apoio mínimo. Alguns wild cards aqui e ali. Só recebi um wild card para a Rogers Cup [atual WTA 1000 no Canadá, disputado em Toronto e Montreal em anos alternados] em simples uma vez. Joguei contra a Flavia Pennetta. Foi o ano em que ela ganhou o US Open algumas semanas depois [2015]. Então eles não me ajudaram em nada ao longo da minha carreira. O que posso dizer é que, ao longo dos anos, eles começaram a mudar. Não forçaram jogadores a treinar no Centro Nacional, foram mais abertos a feedback sobre técnicos, parceiros de treino e preparo físico, então a Tennis Canada melhorou sua gestão de jogadores. Dito isso, foi um pouco tarde para mim, infelizmente, mas não sei o quanto esses jogadores podem dar crédito à federação. É preciso perguntar a eles. Alguns receberam muito dinheiro e tiveram muita liberdade para como usar essa verba. Outros, nem tanto. Depende e não posso falar especificamente. Eu sempre tenho um gosto amargo na boca quando penso na minha federação porque eu fui top 5 como juvenil, entrei nos qualis de slam em simples e acho que tinha um bom potencial. Não sei o quão boa eu poderia ter sido em simples, mas o motivo para eu parar de jogar simples e mudar para as duplas nos meus 20 e poucos anos foi por não ter mais dinheiro. Eu não podia pagar um técnico, meus pais já tinham gasto centenas de milhares [de dólares] comigo, não tinham mais dinheiro de aposentadoria e eu estava nos meus 20 anos. Eu já era adulta, não era mais responsabilidade deles financiar meu tênis. Eu nunca quis ser um fardo para alguém, então conversei com meus pais e outras pessoas e chegamos à conclusão que eu deveria focar mais nas duplas porque meus resultados nas duplas eram muito bons. Nos ITFs, nas simples, eu passava algumas rodadas, ganhava alguns torneios por ano e era isso. Nas duplas, eu estava fazendo semis, finais e ganhando vários. Então "okay, talvez haja uma oportunidade nas duplas que devemos correr atrás." Eu teria a chance de alcançar meus sonhos de jogar consistentemente no nível dos slams e nos Jogos Olímpicos, que foram sempre o meu maior sonho. Eu tive muita sorte de jogar com grandes tenistas, ganhamos ITFs, fizemos finais de WTAs e, com o meu ranking melhorando, tornei-me uma opção melhor como parceira, entrei no radar de tenistas melhores e continuei melhorando meu jogo de duplas. Mas, é claro, quanto mais eu subia nas duplas, menos tempo eu tinha para as simples. Jogando as finais de duplas nos sábados ou domingos, eu perdia os qualis de simples das semanas seguintes. De qualquer modo, isso é minha história, que posso te contar mais em algum momento se você quiser ouvir (risos).

Minha última pergunta é sobre algo que você disse eu achei lindo quando estava vendo na TV. Em uma entrevista pós-jogo no US Open, você falou que o Canadá é um país de imigrantes e como isso atrai gente trabalhadora para o seu país. "Estamos vindo do nada e construindo algo", acho que você disse. Não sei muito sobre você a não ser que você tem família polonesa, mas por essa entrevista eu imagino que você tenha esse sentimento muito forte dentro. É isso mesmo? E isso é motivo de orgulho de poder dizer "sou canadense" e que seu país recebe pessoas de braços abertos?

Obrigado por perguntar sobre as minhas origens e a imigração no Canadá. Eu me sinto muito sortuda de ser do Canadá. É um lugar muito seguro e muito inclusivo, não importam suas origens. É algo que valorizo muito. Acho que é importante ser o mais inclusivo possível. Também reconheço que a natureza humana não é sempre assim, então é importante continuar falando sobre esse assunto globalmente e dar mais atenção a isso e perguntar: "o que é que valorizamos de verdade?" Meus pais sempre me passaram a importância de trabalhar duro pelo que quero alcançar, de não ser um fardo para outras pessoas, de como é possível ajudar a comunidade... Esses foram alguns dos princípios com que cresci e que meus pais me lembram até hoje. Então é algo fundamental para mim. Sobre famílias imigrantes, elas normalmente vêm de outro país buscando uma vida melhor. Quando meu pai imigrou para o Canadá, a Polônia ainda era um país comunista, e ele não acreditava naquilo. Ele queria mais liberdade, e o Canadá foi uma boa opção. A história de como viemos para o Canadá é muito interessante (risos), mas talvez seja uma história para outra hora também... E minha mãe nasceu e foi criada em Niagara Falls, então ela é "canadense" [Gaby cita as aspas no áudio], com alguma origem britânica de muitos anos atrás. O Canadá é um país jovem, com talvez 150 anos. Não temos essa cultura de uma raça, uma etnia, uma religião ou esse tipo de coisa. Somos uma mistura de tudo, um caldeirão de culturas, ideias, pensamentos e perspectivas. Na maior parte do tempo, conseguimos nos entender e isso é porque ao crescer, nas escolas, é normal para todos estarmos juntos, sermos amigos. Não importa sua religião, se você é menina ou menino, se você é de uma família rica ou não. Todo mundo se dá bem na maior parte do tempo. Quando você cresce nesse ambiente, você continua sentindo isso quando fica mais velho. Posso entender que quando as pessoas não crescem assim, pode ser um pouco mais difícil ter a mente mais aberta. Quando você fica mais velho, é mais difícil mudar. Com certeza, tenho muita sorte de ser do Canadá e ter crescido em um ambiente assim e com os princípios que meus pais me ensinaram desde pequena. No geral, eu me considero muito sortuda. E mais uma coisa que eu gostaria de falar sobre famílias imigrantes. Muitas delas fazem grandes sacrifícios porque querem que suas crianças tenham uma vida melhor do que os pais tiveram ou têm. Meus pais abriram mão de muita coisa. De sua liberdade e de sua segurança financeira para que eu pudesse correr atrás de meus sonhos. Se eu falar muito sobre isso, eu me emociono (risos), então só queria mencionar isso e o quão grata eu sou por todos sacrifícios que meus pais fizeram por mim para que eu chegasse aonde estou hoje, mesmo que não seja a jornada mais linear possível no tênis. Acho que no geral, a vida atira coisas na sua direção, e você precisa superar obstáculos para chegar aonde quer, então só quero mandar um alô para os meus pais por cuidarem de mim desde o primeiro dia. Vou sempre ser grata por isso.