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Por que a F1 não deixa os circuitos de rua de lado, como quer Verstappen?

Max Verstappen, da Red Bull, durante a corrida do GP de Mônaco - Gonzalo Fuentes/Reuters
Max Verstappen, da Red Bull, durante a corrida do GP de Mônaco Imagem: Gonzalo Fuentes/Reuters

Colunista do UOL

16/04/2022 04h00

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Max Verstappen aproveitou uma reunião com o CEO da Fórmula 1, Stefano Domenicali, para pedir que a categoria pare de adicionar mais corridas de rua ao calendário. É uma queixa antiga do holandês e que veio dias depois do anúncio de uma prova nas ruas de Las Vegas a partir de 2023. Desde que a Liberty Media assumiu o controle da F1 em 2017, cinco provas foram adicionadas ao calendário: Holanda, Miami, Las Vegas, Arábia Saudita e Qatar. Delas, apenas a Holanda tem um circuito permanente, lembrando que a casa definitiva da F1 no Qatar ainda não foi definida e pode ser outro circuito de rua.

"É claro que eles têm de fazer dinheiro e tentar tornar o esporte mais popular, mas também é importante que os circuitos certos continuem no calendário e que nós não façamos provas somente em pistas de rua. No final das contas, esses carros não foram feitos para isso", argumentou Verstappen ao jornal holandês De Telegraaph no último final de semana.

A bronca de Verstappen com circuitos de rua não é de hoje. Em 2017, ele já pedia que a Fórmula 1 deixasse de adicionar mais pistas do tipo. "Já temos circuitos de rua suficientes. Não dá para ultrapassar e não é tão desafiador como Spa ou Suzuka. Um circuito real é melhor para se pilotar, na classificação dá para acelerar de verdade."

Na época, o histórico de Verstappen em circuitos de rua não era dos melhores. Mas isso mudou nos últimos anos. Sua opinião, contudo, seguiu a mesma. "Prefiro circuitos tradicionais, tenho mais prazer pilotando neles porque dá para forçar mais", disse ele em 2021.

Porém, como o próprio holandês admite, comercialmente o caminho que a Liberty Media enxerga para a F1 é outro. A categoria está vivendo, como outros esportes, uma mudança nas suas fontes de renda. A fórmula antiga de cobrar milhões dos contratos de TV já não é mais sustentável, e o mercado de streaming ainda não consegue cobrir esse buraco.

A saída tem sido expandir o calendário, cobrando caro para levar a F1 a cada uma das etapas, que hoje são 23. No cenário anterior, de direitos de TV mais lucrativos, o ex-dono Bernie Ecclestone podia fazer concessões, como correr em Mônaco de graça, ou cobrar menos de eventos europeus tradicionais, como Monza e Spa. Agora, o dinheiro que os promotores pagam é a fonte de renda mais importante. Então, a Liberty tem cobrado pelo menos 20 milhões de dólares por cada GP na Europa, já que os custos de logística são menores (a exceção ainda é Mônaco, que paga 15 milhões, mas os promotores já estão pressionados e negociam para mudar isso), e pelo menos 25 milhões para os demais eventos.

domenicali - Fórmula 1 - Fórmula 1
Stefano Domenicali disse a Vertappen que entende sua queixa
Imagem: Fórmula 1

Com uma taxa tão alta, vale muito mais a pena promover uma corrida de rua do que construir um circuito ou mesmo atualizar alguma pista já existente para que ela tenha a certificação necessária para receber a F1. Claro que há a possibilidade de fazer isso, como é o projeto de Kyalami, na África do Sul, mas trata-se de um circuito que já está reformado e não precisaria de um investimento tão grande.

Outro ponto a favor dos circuitos de rua na visão dos promotores é a maior garantia de vender ingressos pela facilidade de acesso e atrair um público variado, também interessado em shows, e não apenas na corrida em si. Na visão da Liberty, isso amplia o público da F1 e é positivo a longo prazo.

E também há outra questão: na Europa, os circuitos têm mais dificuldade em conseguir verbas públicas para as corridas, até pela questão da sustentabilidade. Os governos europeus veem o automobilismo como algo que promove o uso de combustíveis fósseis e, já há algum tempo, têm cortado verbas para eventos da modalidade. Isso é um dos motivos que leva a F1 para outros mercados, nos quais a categoria não é tão popular. Então a atratividade do evento em si, não apenas pela corrida, ganha importância para que estas provas sejam um sucesso.

É difícil imaginar que, por exemplo, o GP do Azerbaijão tivesse grande público se fosse realizado em um circuito permanente afastado da cidade. Até mesmo o novo GP de Miami, cujos ingressos se esgotaram em questão de horas, não teria o mesmo apelo.

A melhor saída para a Fórmula 1 seria construir circuitos permanentes bem próximos de cidades, como foi feito em Abu Dhabi, por exemplo. Mas não é em todo lugar que há dinheiro para fazer toda uma ilha artificial para se colocar uma pista.