Topo

Paulo Anshowinhas

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Street League, X Games, CPH Open... por que o skate tem vários mundiais?

Rayssa Leal na Street League 2019 - Paulo Anshowinhas
Rayssa Leal na Street League 2019 Imagem: Paulo Anshowinhas

Colunista do UOL

12/11/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Neste final de semana, a skatista Rayssa Leal entra na disputa do Super Crown da Street League, em Jacksonville, na Flórida, etapa final do circuito de street skate, como franca favorita ao título, depois de duas vitórias consecutivas.

Se vencer, ela será campeã apenas da Street League ou também poderá levar o título de campeã mundial de street skate?

A dúvida reside no fato de o skate, ao contrário do futebol e de outras modalidades esportivas mais estruturadas, não ter um calendário unificado. Com isso, existem diferentes competições "mundiais" de grande repercussão no meio, das quais não se pode tirar o mérito.

É o caso dos X Games, evento da ESPN conhecido como "Olimpíada dos esportes radicais" quando foi lançado em 1995, em Rhode Island, nos EUA, e que continua a existir depois de 26 anos ininterruptos, sendo representativo até hoje. Em julho desse ano, Letícia Bufoni levou o ouro no street feminino, e Gui Khouri venceu a best trick, em um evento para convidados com 41 participantes de oito países.

O mesmo pode ser dito do Mystic Sk8 World Cup Skateboarding, realizado na cidade de Praga, capital da República Tcheca, e vencido pelo brasileiro Ivan Monteiro em setembro desse ano, com 21 países participantes —um recorde.

Outro festival marcante para o skate internacional é o CPH Open, que ocupa as ruas e vários espaços de Copenhagen, capital da Dinamarca, desde 2007.

O evento, cuja mais recente edição foi realizada em setembro desse ano, é considerado um dos maiores do mundo. Reúne provas de rua, competições em locais fechados e abertos, vert, street, downhill, corridas, sessions e muita festa regada a cerveja.

Os brasileiros Lucas Rabello e Marina Gabriela faturaram o primeiro prêmio em street, enquanto Luan Oliveira, ganhou o prêmio de manobra mais rápida.

Em agosto desse ano também, Letícia Bufoni superou a francesa Charlotte Hym e a argentina Eugênia Ginepo no Red Bull Paris Conquest, em frente à Torre Eiffel, em Paris, em mais um evento internacional para convidados.

Para o skatista, radialista e locutor Guto Jymenez, a confusão é porque nem todas as modalidades estão sob o mesmo guarda-chuva de uma grande entidade.

"Existe a World Cup Skateboarding, que faz eventos de bowl e vertical, uma outra entidade canadense para o free style (World Free Style Round Up), outra para o longboard dancing, uma para o slalom, mais uma para o downhill entre outras", explica.

"Inclusive havia uma entidade chamada IGSA —International Gravity Sports Association (Associação Internacional de Esportes Gravitacionais, em tradução livre)—, que tinha um campeão do ranking e um campeão do que eles chamavam de World Cup. Aí você tinha um campeão mundial e um campeão da Copa do Mundo", sorri ao lembrar.

Karen Jonz - Instagram - Instagram
Karen Jonz, tetra-campeã mundial de skate no bowl
Imagem: Instagram

O que é um campeonato mundial de skate?

A polêmica sobre títulos e competições mundiais não vem de hoje.

Para o editor da revista Cemporcento Skate, Douglas Prieto, essa é uma discussão antiga, e que rendeu manchete na capa da revista, em sua edição 21 de janeiro de 1999, onde já deixava a questão no ar: "O que é um campeonato mundial?".

"Um mundial é uma reunião de todos os países para o ranking World Cup e onde competem todos os atletas, não só os convidados" foi a resposta do skatista Daniel Arnoni para a pergunta publicada na matéria da revista.

A questão foi levantada por ocasião da realização da última etapa do Campeonato Mundial de Skate no Ginásio do Ibirapuera em 1998, que deveria valer pontos para o ranking da World Cup Skateboarding, entidade máxima do esporte na época, mas na verdade não valeu.

Neste evento, as inscrições estavam abertas a quem quisesse competir e tivesse a quantia de US$ 100, o que gerou revolta de alguns nomes conhecidos do skate como Formiguinha, que disse à revista: "Não foi mundial, foi tropical".

Ele estava certo. A diretora da World Cup Skateboarding, Danielle Bostick, confirmou para a revista Cemporcento Skate na época que o tal Mundial, na verdade, não era de fato tudo isso, mas tinha grande potencial para ser (um mundial). Para ela, para entrar para o circuito, o evento deveria ser realizado por ao menos dois anos seguidos.

Participaram skatistas da Dinamarca, Peru, Estados Unidos, Canadá e Brasil. O evento foi vencido por Bob Burnquist no vertical, que também ficou em 9º no street.

Pamela Rosa - divulgação / TNT - divulgação / TNT
Pamela Rosa atual campeã mundial de street skate
Imagem: divulgação / TNT

Brasil participou de todos os mundiais e tem mais de 60 títulos

O skate brasileiro, por si só, já merece um prêmio, por ser junto com os Estados Unidos um dos países que mais participou de competições mundiais até hoje.

O primeiro grande evento mundial de skate que se tem conhecimento foi o Transworld Skateboarding Championship, realizado durante a Expo 86 (Feira Mundial), em Vancouver, no Canadá, em julho de 1986, reunindo 300 skatistas de 11 países para uma plateia de mais de 45 mil pessoas nos dias de evento.

A delegação brasileira participou de provas de free style e vertical, mas não chegou ao pódio. Mesmo assim, foi a quinta equipe nacional mais bem pontuada.

Em 1988, foi a vez da participação brasileira no Munster Monster Masterships, realizado na cidade de Munster, na Alemanha, onde o skatista de vertical Lincoln Ueda ficou na quarta colocação, até então era a principal competição mundial e foi assim durante muitos anos.

Em 1995, Bob Dean Silva Burnquist venceu o campeonato Slam City Jam, em Vancouver, no Canadá, sendo a primeira vez que um brasileiro vencia uma etapa internacional.

E no mesmo ano, o paulistano Rodrigo Digo de Meneses foi o primeiro campeão mundial de skate do Brasil durante competição no Mundial da Alemanha, em Munster.

De acordo com um levantamento feito pelo skatista veterano Hélio Greco, do site especializado Skateboarding, havia ao menos 20 campeões mundiais brasileiros com 55 títulos mundiais.

Número esse que, atualizado após as novas vitórias da perna europeia e americana desse ano, levam a mais de 60 títulos mundiais conquistados por brasileiros, além do recorde mundial atestado pelo Guinness Book of Records, do mais longo coconut wheelie (manobra de skate) do skatista paulista de freestyle Per Canguru.

Para chegar a esses números, muitos skatistas acumulam vários títulos como é o caso de Bob Burnquist, Carlos Paixão, Kelvin Hoefler, Karen Jonz, Letícia Bufoni, Pedro Barros, Sandro Dias e Sergio Yuppie, cada um com ao menos três conquistas, sendo que alguns têm até seis títulos mundiais.

Kelvin Hoefler - Dan Mullan/Getty Images - Dan Mullan/Getty Images
Kelvin Hoefler foi o primeiro medalhista olímpico brasileiro de skate
Imagem: Dan Mullan/Getty Images

Para World Skate mundial de street foi em Roma esse ano

Para a Confederação Brasileira de Skate (CBSK) esse debate é apenas uma questão de nomenclatura, já que todos esses grandes eventos vão continuar acontecendo com toda a importância que sempre tiveram.

Prova disso é que em 2018, o World Championships, em 2019, a Street League, ambos realizados no Brasil, eram homologados oficialmente como eventos mundiais da World Skate.

Mas, de acordo com informações da própria CBSK, este ano, o único evento homologado como mundial de street pela WS foi o Street Skateboarding World Championships, realizado em Roma, na Itália, entre o final de maio e início de junho, e que serviu de classificatória para os Jogos Olímpicos.

O Dew Tour também foi um evento homologado pela World Skate como classificatória para as Olimpíadas, sendo que na modalidade park, esse ano não houve competição homologada pela World Skate.

Agora os esforços da CBSK estão voltados para a participação dos brasileiros nos Jogos Pan-Americanos Júnior —a se realizar dia 26 de novembro em Cali, na Colômbia—, que irão classificar para os Jogos Pan-Americanos de 2023, em Santiago do Chile.

Lucas Rabelo e Pamela Rosa (ambos com 22 anos) foram escolhidos como representantes do Brasil nestes Jogos, com base na colocação no ranking da World Skate e respeitando o limite de idade para o evento —22 anos até o dia 31/12/2021.

Pamela, atual líder do ranking mundial feminino, participou das Olimpíadas, foi bicampeã do Dew Tour, campeã do STU Open e venceu a etapa de Londres do mundial de street.

Já Lucas Rabelo (24º do ranking mundial) fez parte da seleção brasileira , venceu o Copenhagen Open, e ficou em terceiro lugar no STU Open. Lucas entra na vaga que seria de Giovanni Vianna (19º no ranking), que está se recuperando de uma lesão.