Topo

Na Grade do MMA

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Até quando? Preconceito ofusca título mundial de brasileira no MMA

Larissa Pacheco supera Kayla Harrison por pontos no PFL - Matt Davies/PxImages
Larissa Pacheco supera Kayla Harrison por pontos no PFL Imagem: Matt Davies/PxImages

Colunista do UOL

29/11/2022 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Larissa Pacheco alcançou um feito ímpar no último final de semana. Em Nova York (EUA), no card de fim de ano da PFL, a atleta superou Kayla Harrison, acabou com a invencibilidade da americana no MMA e embolsou o prêmio de um milhão de dólares (cerca de R$ 5.4 milhões) pela conquista do título dos pesos-leves (70 kg). No entanto, a vitória rapidamente dividiu espaço nas redes sociais com seguidos comentários preconceituosos.

Tudo isso devido à aparência e orientação sexual da atleta. Nas palavras da própria Larissa em conversa com este colunista minutos após o triunfo, ela explicou:

"Não tenho cabelo grande, não visto roupa de menina e não vou fazer isso porque estão reclamando. Vão ter de me aturar assim".

O desabafo foi depois de uma pergunta minha sobre o tema. Afinal, percebi que, ao longo da semana, qualquer postagem sobre a importante disputa que se aproximava contava com muitos comentários ofensivos, muitos deles questionando se Pacheco era homem.

Em uma oportunidade (ao menos eu só vi uma), Larissa respondeu a dois de seus haters de forma assertiva. No entanto, isso foi feito no dia anterior ao combate, o mais importante de sua carreira, e só aconteceu, imagino, porque a lutadora precisou de alguma forma externar a insatisfação com os repetidos ataques.

Conheci Larissa em 2014, quando ela venceu Lizianne Silveira e, assim, defendeu o cinturão dos pesos-galos do Jungle Fight. De lá para cá, muita coisa mudou, incluindo uma passagem frustrada pelo UFC e outra pelo TUF, além de lesões e mudança de categoria. Agora, no melhor de sua forma, e com mais um cinturão afivelado, a atleta é alvo de pessoas que não fazem ideia do esforço necessário para ela chegar aqui.

Naquela minha primeira entrevista com ela, Pacheco, aos 20 anos, alternava os treinos com um emprego que lhe pagava R$ 500 por mês. Exatamente isso! Oito anos depois, a atleta, que acaba de faturar um milhão de dólares, é capaz de fazer camp nos EUA e competir de igual para igual com as melhores atletas do planeta. Essa capacidade de se superar e de mudar a história de vida de toda a sua família é que deveria ser a tônica dos comentários.

Como não é, imagino que especialistas em psicanálise tenham respostas sobre a origem de tanto ódio. A mim, cabe apenas registrar seus feitos como atleta, condenar os comentários preconceituosos dos 'valentes do teclado' e torcer para que o tempo minimize os efeitos dos repetidos ataques. Afinal, como disse a própria Larissa: "vão ter que me aturar assim!".