Treinador do São Paulo fala como falam os que estão na corda bamba
O São Paulo ganhou do Cobresal e a vitória, a despeito da qualidade do jogo, dá sobrevida ao jovem treinador tricolor. A contratação de Thiago Carpini, um profissional em começo de carreira, era arriscada desde sempre. Mas o futebol, como a vida, é arriscado por natureza. Foi arriscado a seleção argentina colocar como treinador o novato e desconhecido Lionel Scaloni? Me parece que sim. E deu no que deu.
Carpini é promissor, sem dúvida. E a vida de treinador de time da série A é sim duríssima, mesmo com os altos salários. É tensão e pressão todos os dias, o tempo inteiro, especialmente naquelas consideradas camisas mais pesadas.
Thiago Carpini está nessa chuva torrencial que é treinar um clube do tamanho do São Paulo e certamente vai se molhar. Tudo isso vem com o território. É provável que ele não consiga, nessa passagem pelo Morumbi, realizar tudo aquilo que sonhou? Sim, muito. Isso não quer dizer que ele seja ruim. São as circunstâncias.
O que me chamou a atenção na coletiva depois da vitória sobre o Cobresal foi a forma como o treinador tricolor abriu a conversa com a imprensa. Ele passou alguns minutos se justificando, dando números do seu trabalho como quem diz que está à altura do cargo. É a atitude dos que se sabem ameaçados. Ficou claro que Carpini está magoado com aqueles que relacionam sua juventude aos tropeços. Por algumas vezes ele lembrou que as pessoas fazendo perguntas a ele eram também bastante jovens. Vendo a entrevista fiquei com a impressão de que Carpini não vai segurar o tranco.
Usar o verbo para justificar o trabalho é quase um desespero. É no campo que o trabalho se justifica e o verbo só entra nesse jogo quando o jogo está virtualmente perdido.
Se sair rapidamente do São Paulo, Carpini vai levar com ele a experiência adquirida e pode voltar um dia para terminar sua jornada. Se ficar, é porque terá aprendido a dançar a música maluca desse calendário alucinado que enche os departamentos médicos, esgota elencos, tensiona relações, embaça visões. Terá aprendido a voar por instrumentos e não apenas em céu azul. Vamos ver como Carpini resolve essa bagunça e desembaraça essa história até aqui tão silenciosamente conturbada.
Opinião
Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
Deixe seu comentário