Acabar com a CBF para que ela não acabe com nosso futebol
A eliminação da seleção Brasileira no Pré-Olímpico de Paris é um sintoma e deve ser tratado como tal. Sintoma não é a doença, é apenas uma das manifestações da doença. A doença se chama CBF e suas práticas liberais de administração. Seguir tratando todo vexame como caso isolado é bom para os que estão pilotando esse caos.
Espernear a ausência do Brasil nas Olimpíadas sem falar do que acontece na CBF é achar que, tratando da tosse, a infecção pulmonar vai ser curada.
Faz duas semanas, o jornalista investigativo Lucio de Castro, através de sua Agência Sportlight e do internacional The Inquisitor, revelou mais um dos escândalos que envolvem a CBF: um processo de assédio sexual e moral movido contra seu diretor de comunicação, além de acusações de espionagem interna que teria sido colocada em prática pela administração de Edinaldo Rodrigues.
Outra vez. Tudo de novo. Lá vamos nós.
Voltemos essa fita.
Ricardo Teixeira, Marco Polo Del Nero, Rogerio Caboclo, José Maria Marin. É escândalo atrás de escândalo seguido de escândalo.
Seria hora de entendermos que não tem ninguém ali em nome do futebol. O negócio da CBF é riqueza e poder.
O dinheiro acumulado pela empresa - a CBF é administrada privadamente como empresa - é enorme. Por que? Por que acumular dinheiro e não reinvestir no jogo? Por que a entidade que cuida de uma de nossas mais fundamentais manifestações culturais e identitárias precisa dar lucro, alguém consegue explicar?
Por que não cuidar dos gramados, não educar a respeito de racismo, machismo, misoginia, LGBTfobia? Por que não investir para a melhoria do esporte? Por que não cuidar dos jovens atletas que estão começando? Educação, apoio psicológico, estrutura. Por que não trabalhar para que possamos de alguma maneira manter nossos craques por aqui, para que o futebol perca um pouco que seja a conotação de balcão de negócios.
Por que?
Porque a CBF não gosta de futebol. Ela gosta de riqueza, poder, status.
A entidade que cuida de uma das coisas mais importantes desse país - o futebol - não pode ser administrada por interesses tão perversos. Ela precisa atuar em nome da melhoria do jogo, ela precisa ser liderada por pessoas que tenham a cara dessa população, ela precisa ser do cidadão e da cidadã. A lógica não seria, portanto, a usada empresarialmente. Seria uma lógica comunitária, solidária, participativa, inclusiva. Nem tudo é empresa e essa ideia liberal de que as coisas só são boas se existirem como empresa é uma aberração.
O 7x1 não foi o acaso. As vexatórias eliminações nas Copas recentes, futebol feminino incluído, não foram o acaso. Tudo está dentro de um meticuloso planejamento que prevê administrar a Confederação de modo a manter sempre os mesmos no comando, seguir acumulando riqueza, distribuindo lucros, praticando assédios e desconsiderando as lutas sociais para fora dos departamentos de marketing que produzem notas de repúdio e campanhas publicitárias inócuas.
Patrocinadores dessa bagunça: manifestem-se.
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