Milly Lacombe

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Yan Couto, seu pedido de desculpas é tão grotesco quanto seu erro

Yan Couto, lateral da seleção, disse que seu ídolo é Daniel Alves e que não poderia ser outro. Foi criticado e se desculpou: explicou que estava falando no sentido do futebol.

Ah, gente. Era no sentido do futebol, sabe?

Então tá ótimo. Foi um mal entendido. No sentido do futebol é tranquilo elogiar acusado de estupro. Não pega nada. Dani jogava muito. Multi-campeão. Fora do campo não nos diz respeito, tá ok?

Ele realmente acredita que dizer isso e ir treinar é deixar o assunto para trás.

Yan, meu caro, volta aqui: você não se desculpou. Você apenas pisou fundo no erro e na ofensa.

Daniel Alves está preso há oito meses acusado de estupro. Sabe por que ele segue detido há quase um ano mesmo sem julgamento? Porque as evidências do crime são fartas. Deveria bastar para você escolher outro ídolo. Ou pelo menos mentir publicamente sobre ter outro ídolo.

Se fosse sua irmã, mãe, tia, mulher, filha a mulher que denunciou o estupro você seria capaz de separar o campo da vida? Então por favor não seja tão minúsculo a ponto de desprezar nesse nível a existência de outra mulher. É vulgar, baixo, pequeno, abjeto, grotesco, violento.

Escutar que seu ídolo é alguém acusado de um crime perverso é nauseante. Não tem "no futebol" e "fora dele". Você deveria saber. Se não sabe, deveria se informar.

E a CBF que há tanto tempo só faz besteira em relação ao seu posicionamento em relação a crimes de violência de gênero, precisa urgentemente buscar educação a respeito.

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O que faz a assessoria de imprensa da CBF que ainda não é capaz de orientar seu elenco sobre como se manifestar quando o assunto aparecer? A pergunta é séria: quais atitudes são tomadas no sentido de orientar jogadores, comissão, funcionários sobre a realidade da violência de gênero? Eu gostaria de saber na prática. Porque não é aceitável que ela organize um pedido de desculpas que reforça e piora o erro.

O pacto da masculinidade produz aberrações como essas: passa a ser normal um homem seguir tendo como ídolo alguém acusado de estupro. Por que? Porque no final das contas não tem ninguém ligando para violências praticadas contra mulheres. Se não for sua filha ou sua mãe, segue o jogo. Não temos nada a ver com isso. Joga muito! Abraço, Dani. Força. Estamos com você.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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