Mercado da Bola

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Por que em Portugal os grandes clubes divulgam os detalhes dos negócios?

Benfica, Porto e Sporting, os três maiores clubes de Portugal, têm em comum a "obrigação" de revelar em detalhes as principais movimentações no mercado da bola. Isso porque são Sociedades Anônimas Desportivas (SADs) e, consequentemente, cotados na Bolsa de Valores. A transparência não é propriamente um ato para facilitar o trabalho dos jornalistas ou agradar os sócios e torcedores.

Ocultar os pormenores, na verdade, pode ser passível de suspensão das ações. Compras e vendas de jogadores - e também de treinadores - são quase sempre comunicadas à CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), que, na sequência, divulga online os principais pontos de cada negócio. O acesso ao conteúdo é público.

Na última semana, o Benfica anunciou os contornos da compra do atacante Marcos Leonardo. Acertou o pagamento de 18 milhões de euros (R$ 97 milhões) por 100% dos direitos econômicos do jovem goleador de 20 anos junto ao Santos, que, por sua vez, ficou com 10% de mais-valia.

No acordo, o clube encarnado, que atualmente é presidido pelo ídolo Rui Costa, ex-Fiorentina e Milan, ainda incluiu o valor da multa de rescisão, que foi fixada em 150 milhões de euros (R$ 802 milhões), e o tempo de contrato (até junho de 2029).

"A CMVM pode, se quiser, suspender a negociação das ações das SAD's (Benfica, Porto e Sporting) se ocorrerem circunstâncias suscetíveis de perturbar o regular desenvolvimento da negociação com razoável grau de probabilidade", explicou o advogado e especialista jurídico português João Diogo Manteigas.

As negociações concretizadas não são as únicas movimentações nos bastidores do futebol português que acabam por ser alvos de crivo por parte da CMVM.

"Alturas houve no passado em que tudo o que fosse pura especulação no mercado de transferências e que era proliferado pela imprensa da altura, se transformava numa dor de cabeça por ter que se comunicar à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários se as referidas movimentações tinham algum fundo de verdade ou não", destacou Manteigas.

"Me lembro, perfeitamente, da emissão de comunicados por parte das SAD's (poucos, mas houve) a negar interesse em aquisições de jogadores", completou.

Em 2009, por exemplo, o Benfica chegou a enviar um comunicado oficial à CMVM para desmentir qualquer acordo fechado com Jorge Jesus, que, semanas depois, acabou mesmo por deixar o Braga e rumar à Luz. Fez isso porque teve as suas ações suspensas temporariamente.

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"As notícias sobre interesses na aquisição e venda dos direitos econômicos dos jogadores pelas SAD's pode mexer com o interesse na aquisição ou venda das ações das mesmas. Se houver informação de que uma SAD está para vender um dos seus ativos mais valiosos ou para comprar um ativo valioso, pode mexer, e muito, com o mercado na cotação das suas ações", prosseguiu João Diogo Manteigas.

"De resto, em Portugal, o verdadeiro motivo pelo qual as SAD's dos três principais clubes se encontram cotadas em bolsa reside no simples fato de ser um mecanismo de financiamento mais rápido através de empréstimos obrigacionistas. Sobretudo, tendo em conta que os bancos fecharam as portas já há alguns anos às SAD's, isso devido às alterações regulamentares da FIFA, que acabou com a possibilidade de detenção de direitos de jogadores por terceiros que não os próprios atletas e clubes", finalizou.

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