Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Marília Ruiz: Vidas brasileiras importam?
Tudo tem limite. Inclusive a (suposta) neutralidade.
Modesto, raso e impreciso, o esperado "Manifesto da Seleção Brasileira" é um não manifesto. Não há nenhuma causa. Não há nada.
Já que estamos em um inevitável Fla x Flu, o documento frustrou os apoiadores de Bolsonaro e os críticos do presidente.
O dito manifesto aponta "razões humanitárias e profissionais" são contra a organização da Copa América, mas blá blá blá...
Perguntar não ofende:
Quais razões humanitárias? Seria a descontrolada pandemia? Seria a falta de vacinas? Seria a morte de mais uma mulher negra por bala perdida no Rio? Quais razões humanitárias, senhores?
Também citam razões profissionais. Desculpe, mas quais? Direito a férias? Direito de brigar em paz na Justiça contra a fornecedora de material esportivo?
Não sabemos. Não saberemos.
Ficamos com esse amontoado de letrinhas vazias e com a ausência marcante de outras letrinhas: "C", "B"e "F" não aparecem no manifesto.
Pedem que não se politize a Copa América, politizada por Conmebol + CBF + Governo na semana passada.
Casemiro, na sexta, e Marquinhos, ontem, esvaziaram algo que ensaiaram e, de alguma forma, chegou ao conhecimento de muitos colegas que se esmeraram na apuração. E esse esvaziamento do discurso, ente outras coisas, frustra uma possibilidade de mudança na entidade que controla o futebol no Brasil
O jogo de silêncio e pressão de Tite e seus jogadores passa a impressão de que a "causa" é menos importante do que as conversas de bastidores com chefes e patrocinadores nos últimos dias. Claro que é compreensível que haja temores, cálculos e desconforto.
De tudo, para mim, causa maior estrago o silêncio ensurdecedor sobre o combo denúncias + provas de assédio sexual e moral contra Rogério Caboclo por uma colega de trabalho deles - afinal, na hierarquia citada da empresa privada, eles têm (ou tinham) o mesmo chefe, não?
Não se trata de carregar culpa por dizer não a Seleção. Trata-se da culpa por não dizer nada.
PS: Quem sabe Lewis Hamilton ou Lebron James têm algo a dizer? Bem mais provável...
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