Marília Ruiz: Até quando o futebol vai atenuar o assunto estupro?

Bola cantada, Robinho voltou a ser manchete.

Bastou a nova presidência do Santos se movimentar para tentar resolver algumas das pendências que travam as suas contratações, que o primeiro nome que surgiu para reforçar o time de Cuca foi o do ex-atleta do clube condenado na Itália (CONDENADO) a nove anos de prisão por violência sexual contra uma albanesa em 2017.

Antes, em 2009, o mesmo Robinho havia sido acusado de violentar uma mulher na Inglaterra.

Aliás, como sabido (mas aparentemente proibido de ser mencionado), também Cuca foi acusado e condenado por estupro na Suíça há 33 anos. Em julho de 1987, durante excursão do Grêmio à Europa, os então jogadores Cuca, Henrique, Fernando e Eduardo foram presos em Berna acusados de estuprar uma adolescente de 13 anos. Eles ficaram 28 dias detidos. Dois anos depois, foram condenados pela Justiça daquele país, mas cumpriram a pena em liberdade.

Por que vocês da imprensa ficam tão desconfortáveis com essas notícias? Por que especialmente a imprensa esportiva tem dificuldade de colocar o tema em evidência? Por que, mesmo quando acontece, o assunto estupro fica no pé das matérias da possível volta do menino da Vila, do Dom Sebastião das pedaladas, do salvador da pátria?

Um condenado (sim, sei que dói ler, mas é disso que se trata) pode e deve ter uma segunda chance. Não acredito em penas perpétuas. Mas depois de um crime tão horrendo e sem demonstrar nem arrependimento, voltar a ser ídolo é ok? É ok que o futebol esteja acima da crueldade de um crime hediondo?

Me diga se você acharia ok que um médico/contador/jornalista/físico nuclear/marceneiro/professor estuprador condenado (e que pode ser preso a qualquer momento) fosse contratado para trabalhar ao seu lado com status de estrela, ídolo?

Bastante questionável, não?