Marília Ruiz: Alexandre Mattos lança cartilha a candidatos a 'mito'
Lançado na semana passada, "Tudo Começa Com Um Sonho" (Yes Books) tem pretensões altas como as que levaram o autor Alexandre Mattos a assumir o futebol do América-MG há 15 anos sem salário: ser referência.
Ao longo das 231 páginas finalizadas pelo atual gerente de futebol do Atlético-MG durante a paralisação do futebol por causa da pandemia do novo coronavírus, Mattos conta a sua trajetória desde que deixou sua academia de bairro e insistiu ser o que hoje é. Do salário de R$ 2 mil para os rendimentos anuais milionários; do jovem humilde que esperou horas em uma antessala para uma entrevista de emprego para o executivo de futebol várias vezes reconhecido como o melhor do país.
Alexandre Mattos escreveu seu manual de como ser... Alexandre Mattos.
São muitas histórias. Muitos conselhos. Muitos depoimentos de pessoas que trabalharam ou trabalham com ele mostrando a diferença que ele fez nos clubes por onde passou: 42 para ser exata. Todos, de uma forma ou de outra, falam de uma personalidade marcante, de um trabalhador incansável e centralizador, de um obstinado pela vitória e pelo sucesso.
Pode parecer vaidoso, e é, mas não deixa de ser sincero desde a introdução.
"Este é o livro de uma história narrada a partir da minha visão dos fatos ocorridos", escreve.
Se jornalisticamente é possível fazer rapidamente uma relação com os causos que conta, os que não conta e os fatos em si, é fato também que o livro não é destinado a jornalistas. Por isso não cabe aqui uma versão tira-teima de cada um. Ao focar em seus sucessos com as "censuras" necessárias para preservar os envolvidos, Mattos mostra como alcançou o sucesso inspirado mezzo em Sun Tzu (general, estrategista e filósofo chinês autor de "A arte da Guerra"), mezzo em Maquiavel (filósofo florentino autor de "O Príncipe"). Não é à toa que várias vezes ele deixa claro a satisfação pessoal de ter trabalhado com Luiz Felipe Scolari, também um admirador da aplicação das estratégias militares e pragmáticas no futebol.
A pegada "manual de sucesso" para discípulos é clara.
É quase uma palestra transcrita para executivos e candidatos a executivos de futebol em um país em que os clubes são ainda tão amadores. Mattos até trata em um capítulo das semelhanças da atuação de u executivo no mundo corporativo e no futebol, descreve didaticamente as suas funções, mas fica claro durante a leitura do livro o quão ainda é mais importante, nos clubes brasileiros, o trato com as pessoas (como é ainda personalíssima a relação com elencos), de quão presente é a política dos clubes nos departamentos de futebol, e de quão longe ainda estamos do profissionalismo que tanto invejamos dos europeus.
Mesmo sem perceber, Mattos mostra, linha após linha, que a sua fórmula de sucesso não pode ser copiada, porque ela está atrelada à suas ações, personalidade, ações e obstinação.
Em um dos prefácios (são cinco!!!), o ex-presidente do Inter Fernando Carvalho cita Fernando Pessoa para descrever os trabalhos de Mattos: "O valor das coisas não está no tempo em que elas duram, mas na intensidade com que acontecem".
Eu já usaria outro ensinamento do genial poeta escritor português. Em o "Livro do Desassossego", sob o semi-heterônimo Bernardo Soares, Pessoa escreveu: "Vivemos pela ação, isto é, pela vontade. Aos que não sabemos querer — sejamos génios ou mendigos — irmana-nos a impotência."
É inegável que Mattos quis e quer.
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