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Marília Ruiz

Seguimos tocando violino durante o naufrágio

18/05/2020 10h59

O sucesso da volta do Campeonato Alemão sem maiores intercorrências (por enquanto) assanhou os ânimos de dirigentes no resto do mundo - e, claro, no Brasil, onde a situação da pandemia do coronavírus dá mais pistas de pânico do que de esperança.

Não custa lembrar a todos os ansiosos por aqui que nos países que voltaram com a bola rolando não o fizeram antes de a situação do país estar mais controlada. O futebol não foi a primeira atividade econômica a voltar, o futebol (cobaia sim no que diz respeito ao "normal" de antes da Covid-19 - pelo menos durante os 90 minutos) não se antecipou ao esvaziamento das UTIs e da desativação dos hospitais de campanha, e o futebol estabeleceu um protocolo de controle IDÊNTICO entre os participantes.

Se é para copiar, é bom atentarmos para os detalhes...

O secretário-geral da CBF, Walter Feldmann, admitiu em entrevista ontem ao "SPORTV" que alguns presidentes de federações estaduais já sinalizaram que preferem finalizar seus torneios 2020. A entidade nacional, entretanto, otimista ao quadrado, pediu calma e paciência, porque teme problemas com as classificações esportivas (principalmente vagas nas séries C e D) de 2021. A CBF teme também uma enxurrada de ações que possam inchar as competições nacionais e inviabilizar ainda mais os torneios nacionais...

Eu aviso ou vocês?

Estamos no dia 18 de maio.

Passou da hora de CBF, federações, clubes e patrocinadores negociarem um plano POSSÍVEL para 2020.

Essa repetição em uníssono (quase uníssono, porque algumas federações já acordaram) de que as atividades serão retomadas de onde elas pararam, tal qual o futebol tivesse ficado congelado, não trará o mundo de antes da pandemia de volta. É uma fantasia irresponsável que atrapalha ainda mais qualquer trabalho que pudesse minimizar as perdas de 2020.

Não custa lembrar que os esforços feitos pelos europeus para terminar seus campeonatos miram 7, 8, 9 rodadas. A temporada lá está no final. Os planos para temporada 2020/21 são outros. A própria retomada de campeonatos continentais está prevista para AGOSTO (daqui a três meses!!!).

Aqui queremos copiar um protocolo de emergência (seria bom explicar o que significa emergência) para 38 rodadas de Brasileiro (com a malha aérea nacional comprometida), pelo menos mais de 30 datas de Libertadores (com viagens internacionais inviáveis), 12 rodadas de Copa do Brasil (também com viagens), sei lá quantas rodadas da super empolgante Sul-Americana (com o cenário continental que fala por si)...

A impressão é que seguimos tocando violino enquanto o barco afunda.