Manipulação atinge seleção italiana e reforça necessidade de monitoramento
Na última quinta-feira (12), policiais estiveram na concentração da seleção italiana, na cidade de Coverciano, antes da partida contra Malta, pelas Eliminatórias da Eurocopa, para interrogar o meia Nicolò Zaniolo, do Aston Villa, e o volante Tonali, do Newcastle, em investigação sobre apostas esportivas ilegais. A dupla acabou afastada da equipe nacional e tiveram celulares e computadores confiscados.
O mais recente caso deixou o futebol italiano - reiteradamente abalado por escândalos - novamente em alerta, além de reforçar a necessidade de clubes e seleções de monitorarem constantemente seus atletas.
"Casos de manipulação de resultados envolvendo atletas brasileiros têm sido noticiados com cada vez mais frequência, mas não se trata de uma exclusividade nacional. Recente denúncia envolvendo os atletas italianos são prova disso. Esse tipo de incidente só evidencia a necessidade de seleções e clubes investirem mais recursos em campanhas educativas, que expliquem aos atletas os riscos de se envolverem em manipulações de resultados e como isso pode afetar ou mesmo acabar com suas carreiras", afirma Rafael Marcondes, advogado e professor nas áreas de direito desportivo e de entretenimento.
"Do lado das casas de apostas, em que pesem serem elas prejudicadas por tais atividades ilícitas -na medida em que têm que arcar com o pagamento de prêmios indevidos- fica o dever de investir mais recursos com à prevenção. As casas devem reforçar a validação do perfil de seus clientes, com mecanismos de KYC (Know Your Costumer) mais rigorosos e investimento em inteligência artificial, que hoje já permite identificar com maior agilidade desvios comportamentais dos apostadores", acrescenta.
Udo Seckelmann, advogado especialista em apostas, cita que a fiscalização e detecção de apostas esportivas feitas por atletas sempre foi uma tarefa difícil e complexa.
"Travar apostas efetuadas pelo CPF dos atletas está longe de ser a única medida necessária para coibir esse tipo de conduta, visto que os atletas podem facilmente instruir familiares ou pessoas do seu convívio a efetuarem apostas em seu nome. Para conseguir combater isso, exige-se uma cooperação entre operadores de apostas, clubes e federações. Todos estes são interessados na proteção à integridade esportiva e na incerteza dos resultados, e esse interesse passa diretamente pela cooperação desses entes. De nada adianta o operador de apostas aceitar apostas de atletas e não comunicar ao clube e federação em questão pela violação dos regulamentos aplicáveis, da mesma forma que de nada adianta o clube e a federação aplicarem sanções a um atleta por ter feito uma aposta sem ter essa comunicação/fiscalização junto ao operador de apostas (que comprove a aposta ilegal)", avalia.
Para Seckelman, o monitoramento conjunto e cooperação são palavras-chave para os clubes, federações e operadores de apostas conseguirem impedir que os participantes do evento esportivo realizem apostas.
"Enquanto não existir esse trabalho recíproco de fiscalização, continuaremos a ver atletas violando os regulamentos de apostas e saindo impunes", acrescenta o advogado.
De acordo com a agência de notícias 'AFP', os policias foram enviados pelo Ministério Público de Turim. Os investigadores notificaram a dupla por um caso sobre supostas apostas esportivas ilegais, revelado pelo ex-paparazzi Fabrizio Corona.
Tonali e Zaniolo são suspeitos de ter utilizado casas (plataformas) clandestinas de apostas esportivas, algo que é proibido pelo artigo 24 do código de Justiça desportiva da Federação Italiana de Futebol (FIGC). Um deles teria até apostado em uma partida de seu time em que ficou no banco de reservas.
Após ser retirado da concentração da seleção italiana, Tonali teria prometido que fará terapia contra o vício em jogos de azar. Segundo o "Corriere della Sera", o meia procurou a família, chorou e pediu desculpas pelo ocorrido.
O escândalo se tornou público na última quarta-feira (11), após a FIGC anunciar que havia aberto uma investigação em agosto contra Nicolo Fagioli, da Juventus. O jogador de 21 anos também é suspeito de ter feito apostas em plataformas clandestinas, o que pode lhe render uma suspensão de três anos e uma multa de 25 mil euros (R$ 132 mil).
O próximo compromisso da Itália pelas Eliminatórias da Euro será nesta terça-feira (17), diante da Inglaterra.
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