Julio Gomes

Julio Gomes

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
OpiniãoEsporte

Onde está a revolta de Abel após o erro grotesco que ajudou o Palmeiras?

Abel Ferreira é um técnico extraordinário. Não é fácil triunfar no Brasil e na América do Sul, onde o equilíbrio de forças é muito maior do que na Europa. Não é fácil incutir em um grupo de jogadores essencialmente brasileiro a mentalidade vencedora e da disciplina. Não é fácil lidar com nossos problemas eternos - arbitragens, calendário, violência.

Abel andou fazendo por aqui, nestes quase três anos, algo que não fará na Europa quando para lá voltar e tiver a oportunidade em uma grande liga. Andou reclamando de forma exagerada das coisas, seja na fala ou no gestual. Andou desrespeitando muita gente. Passou a ser marcado pelos árbitros - fez por merecer. Criou um círculo vicioso em relação a seu comportamento. Já estava todo mundo de saco cheio do Abel - menos os torcedores do Palmeiras, mas torcedores estão sempre do lado de quem ganha e são os primeiros a virar as costas a quem perde.

Ele mudou de atitude. Não sei se foi uma mudança de fato ou se simplesmente o Palmeiras não foi prejudicado nas últimas semanas. Mas o fato é que o português e seus auxiliares saíram do noticiário por seus pitis em campo e fora dele.

Ontem, Abel teve a chance de tirar uma nota 10. O time dele foi beneficiado escandalosamente pela arbitragem na vitória por 1 a 0 sobre o Vasco. Era o time carioca que teria feito o primeiro gol - que fez o primeiro gol - no primeiro tempo. Mas o VAR resolveu anotar um daqueles impedimentos milimétricos que anulariam o lance.

Por que anulariam, assim no condicional? Porque a jogada continuou, teve uma espécie de desfecho dentro da área e outra jogada começou quando a bola sobrou limpa para Richard Ríos e o volante palmeirense, que poderia ajeitá-la ou fazer o que quisesse, deu um chutão. Parece complicado, mas na real é bem simples e nem é preciso ser árbitro para saber que é assim que funciona. Paulinho interceptou o chutão de Ríos e começou uma nova jogada, uma terceira jogada. Em que ele avança, chuta e faz um golaço. É por isso que o impedimento anularia o lance, caso tivesse sido marcado no campo pelo bandeira. Mas não deveria anular o lance, uma vez que o jogo seguiu.

O VAR nunca poderia ter interferido nessa jogada. E, se quisesse pecar pelo excesso, deveria ter chamado Wilton Pereira Sampaio para rever o lance e interpretar se o chutão de Ríos teria ou não iniciado uma nova jogada. Está claro que, na cabine do VAR, ninguém pensou nisso - ou pensou errado. Temos de dar nomes aos bois em vez de chamar só de "VAR". O nome do cara que anulou o gol é Igor Benevenuto de Oliveira.

Se isso tudo tivesse acontecido de forma a prejudicar o Palmeiras, qual a dúvida que Abel Ferreira chegaria na coletiva cuspindo marimbondos sobre a "equipa de arbitragem"? Nenhuma, pois isso já aconteceu muitas vezes e em lances mais polêmicos do que o de ontem. O de ontem não é polêmico. É um erro gigantesco, que prejudicou o Vasco na partida e, por que não, no campeonato.

O que significaria moralmente para o Vasco vencer mais uma, agora contra um dos times mais poderosos do campeonato, fora de casa? Pois é.

É uma pena que nenhum colega de imprensa que estava lá na entrevista do técnico o tenha incitado a falar sobre o lance. Mas ele poderia tranquilamente ter tomado a dianteira para dizer: "Hoje, fomos beneficiados". Ou então mostrar a mesma revolta de outras vezes pelo erro grosseiro do VAR. Ou os árbitros só são ruins e não estão à altura quando erram contra o Palmeiras?

Continua após a publicidade

O que ele fez foi citar o lance, logo na primeira resposta, como um lance em que o Palmeiras "teve sorte por haver fora de jogo", referindo-se ao que seria mais um gol sofrido de fora da área. Citou o lance como se o gol vascaíno tivesse sido bem anulado e tivesse a transcendência de, sei lá, um lateral qualquer cobrado durante a partida.

Abel é como os outros. Reclama quando se sente prejudicado. Cala-se quando é beneficiado. É uma pena. Ele tem ensinado algumas coisas por aqui. Mas, na ética das reclamações, ele não tem nada a acrescentar. É mais do mesmo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

Deixe seu comentário

Só para assinantes