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Julio Gomes

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Haaland faz o trabalho de Guardiola precisar de menos genialidades

09/05/2023 04h00

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Estivesse Haaland na semifinal da Champions League do ano passado, o Manchester City teria sido eliminado pelo Real Madrid? Não sei. Provavelmente, não. Mas saberemos logo. Afinal, aqui estão os dois frente a frente de novo, mesma competição, mesma fase. Só muda a ordem de mandos, desta vez a primeira partida é no Santiago Bernabéu (hoje, 16h).

Ou melhor, não "só" muda isso. Muda o City com a presença de Haaland. E muda muito!

Pep Guardiola é um dos maiores treinadores de futebol da história, o último a mudar o jogo. Lá se vão 15 anos com este cara no centro das atenções, como técnico de Barcelona, Bayern e City. Nas ligas, ou seja, nos pontos corridos, ele é praticamente imbatível. No mata-mata, sempre foi competitivo. Mas não coleciona o mesmo índice de resultados. A Champions League é a pedra no sapato de Pep e dos admiradores incondicionais dele - eu sou admirador, mas não incondicional. Ele venceu duas das três primeiras que jogou e, desde a última delas, em 2011, chegou a só uma final europeia.

É óbvio que é pouco. Ele sabe disso, todos sabem disso. É muito para muitos. É pouco para o grande treinador do século. Muito se fala do tal "overthinking" de Guardiola. Na hora H, ele pensa demais, deixa de enxergar o básico. Usando uma expressão popular, viaja na maionese. Contra o Madrid, ano passado, faltou ao City - e Guardiola - entender que o duelo precisava "acabar". Eram necessários recursos que não são táticos nem brilhantes. Cera, substituição, bola presa na lateral, o que seja.

Pep nunca curtiu um centroavantão. Teve problemas com Ibra, inventou o falso 9, nunca gostou deste tipo de atacante. Mas ficou claro nas últimas Champions que, no mata-mata, o volume e a qualidade de jogo ficam diluídos e é fundamental ter um matador em campo. Era necessário um Haaland.

Como o Real Madrid ganhou quatro Champions em anos de Messi no Barça? Oras, ele tinha o maior matador da história, Cristiano Ronaldo. Messi levantou a Champions pela última vez no Barça quando teve ao seu lado um grande matador, Suárez, e outro que não ficava atrás, Neymar. A camisa 9 não pode ser aposentada por causa das modificações táticas do jogo. O gol é o gol.

O City dos últimos anos teve muitos jogadores de ataque de alta qualidade, mas é óbvio que faltava um goleador nato. A presença de Haaland faz com que o jogo do time mude. "Vamos jogar para ele", avisou Guardiola na coletiva de ontem. Nem precisa avisar. Que time será louco de não jogar para ele? Os caras sabem no campo quem têm de procurar. Pouco a pouco, o jogo do Manchester City foi se transformando em um jogo de menos posse, menos circulação e mais verticalidade.

O Real Madrid tem um jogo de velocidade também e um grupo de jogadores experientes (Modric, Kroos, Benzema) misturados com a juventude de quem já nasce acostumado a decidir (Vinícius e Rodrygo). O Madrid sabe bem como fazer o simples na hora H da Champions.

Com Haaland, Guardiola pode ser menos genial, pode pensar menos, pode curtir o time dele jogando um futebol mais básico. Um jogo de velocidade, força, potência e que desemboca em um homem-gol. O homem-gol do momento, não um homem-gol qualquer.