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Fábio Seixas

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Escudeiros vão à forra no GP mais glamouroso da F1

Sergio Pérez, da Red Bull, comemora vitória em Mônaco, sua terceira na Fórmula 1 - Mark Thompson/Getty Images/Red Bull
Sergio Pérez, da Red Bull, comemora vitória em Mônaco, sua terceira na Fórmula 1 Imagem: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull

Colunista do UOL

29/05/2022 13h03

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Na mais glamourosa, badalada e tradicional corrida da F1, os coadjuvantes foram à forra.

Uma semana após ser enquadrado pela Red Bull, Pérez venceu o GP de Mônaco. O segundo lugar foi de Sainz, o escudeiro ferrarista. Verstappen e Leclerc, os duelistas pelo título mundial, tiveram de se conformar com as circunstâncias de um dia conturbado no principado, consequência direta da chuva que banhou o circuito pouco antes da largada.

É a terceira vitória de Pérez na F1, a primeira desde o GP do Azerbaijão do ano passado. É, ainda, o primeiro triunfo de um mexicano nas ruas do principado. E é, acima de tudo, um desabafo às ordens de equipe que ele recebeu em Barcelona, domingo passado.

"É um sonho que se tornou realidade. Depois do GP de casa, esta é a corrida que qualquer piloto quer vencer. É um dia muito feliz para mim e para meu país", disse Pérez, assim que saiu do carro.

"Foi uma corrida louca. Eu poderia ter vencido se não tivesse sido atrapalhado na minha saída dos boxes, mas isso acontece", resumiu Sainz. "Fiz o melhor possível, foi uma corrida confusa", resumiu Verstappen, que manteve a liderança do Mundial.

Pole e maior favorito à vitória, Leclerc foi traído pelos erros da Ferrari. Foram três em sequência, quando a pista começava a secar. O monegasco ficou furioso, mas pelo menos quebrou uma marca incômoda: foi a primeira vez que cruzou a linha de chegada em casa.

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Charles Leclerc nos boxes da Ferrari durante a bandeira vermelha no GP de Mônaco
Imagem: Reprodução/F1TV

A bagunça começou a se formar cerca de 20 minutos antes da largada. A chuva apareceu em Mônaco e foi ficando cada vez mais intensa, anulando todas as estratégias planejadas durante a semana e deixando Leclerc, especialmente, bem preocupado.

Os procedimentos de largada inicialmente foram adiados duas vezes. Primeiro em nove minutos. Depois, em mais sete. A FIA declarou pista molhada, determinou obrigatoriedade de uso de pneus de chuva e decidiu fazer algumas voltas de apresentação atrás do safety car.

"Todo mundo respire fundo e se acalme. Não quero ninguém em pânico nesta corrida", disse Hamilton, oitavo no grid, momentos antes de sair com o carro.

A FIA tentou. Todo mundo deixou o grid, mas as condições pioraram. "Está um inferno", avisou Leclerc, pelo rádio. Não teve jeito. Bandeira vermelha, todo mundo de volta para os boxes.

Chuva marcou o começo do GP de Mônaco - Andrej Isakovic/AFP - Andrej Isakovic/AFP
Chuva marcou o começo do GP de Mônaco
Imagem: Andrej Isakovic/AFP

A largada só veio às 16h05 locais, 11h05 de Brasília, mais de uma hora depois do horário original. Chovia fraco, o asfalto ainda estava muito úmido, o safety car puxou o pelotão.

Foram duas voltas atrás do Mercedes GT 63, o suficiente para Latifi e Stroll escorregarem na pista e acharem o guard-rail. Na terceira volta, enfim, veio a bandeira verde!

Leclerc segurou bem a ponta. Sainz balançou na frente de Pérez, mas manteve a segunda posição. Muita gente no pelotão do fundo preferiu arriscar na estratégia, indo para os boxes e colocando pneus intermediários.

O top 10 ao fim da terceira volta tinha Leclerc, Sainz, Pérez, Verstappen, Norris, Russell, Alonso, Hamilton, Vettel e Ocon. Todos pilotavam com todo o cuidado do mundo, ninguém tentou nada até que algum trilho de piso seco se formasse.

Com toda a vantagem de não ter spray na cara, Leclerc começou a abrir vantagem. Mas, pouco a pouco, os pilotos com intermediários começaram a virar tempos bons, destaque para Gasly.

Na décima volta, Leclerc tinha 4s7 para Sainz, que abria 1s2 para Pérez. Verstappen vinha na sequência. Esses quatro formavam o primeiro pelotão. Norris, quinto, já estava bem mais distante, a 8s5 do holandês.

"Com certeza agora é para intermediários", alertou Pérez, na 14ª volta.

Mais atrás, Gasly comprovava isso. Passou Ricciardo e assumiu a 12ª posição.

Lewis Hamilton durante o GP de Mônaco - Sebastien Bozon/AFP - Sebastien Bozon/AFP
Lewis Hamilton durante o GP de Mônaco
Imagem: Sebastien Bozon/AFP

Na 16ª, Hamilton foi o primeiro do top 10 a passar pelos pits: colocou intermediários. Pérez entrou na volta seguinte. Norris, na 18ª. Ambos seguiram a receita do heptacampeão. O trilho seco estava nítido.

Foi quando a corrida virou um jogo de adivinhação e de estratégia.

E tudo mudou rapidamente.

Leclerc entrou na 19ª e se deu mal: voltou à pista com intermediários, mas atrás do mexicano da Red Bull. Verstappen parou quase que simultaneamente e retornou à pista em quarto.

A Ferrari resolveu manter Sainz na pista. O espanhol pedia pneus para pista seca. E foi o que fez na 21ª volta. A escuderia aproveitou, também chamou o monegasco depois de apenas duas voltas com os intermediários, mas mudou de ideia quando ele já estava no pit lane.

"Box para pneus duros, box para pneus duros... Continue na pista!" Já era tarde demais...

A Red Bull reagiu rápido e chamou Pérez e Verstappen para os pneus duros. O mexicano retornou à pista em primeiro lugar, exatamente à frente do espanhol da Ferrari. E Verstappen superou Leclerc _cruzou a linha amarela na saída dos pits, diga-se.

Que dia para o monegasco... Foram três os erros de cálculo da Ferrari em poucas voltas. O primeiro, não antecipar o movimento da Red Bull com Pérez. O segundo, colocar pneus intermediários quando já dava para tentar os slicks. O terceiro, chamá-lo para trocar pneus de novo e mudar de ideia quando o piloto já estava no pit lane. Barbeiragem, é este o nome.

Na 27ª volta, tudo parou. Schumacher bateu forte no guard-rail da Piscina e seu Haas rachou ao meio. Ele saiu andando do carro, mas o safety car precisou intervir para limpeza da pista. Instantes depois, veio a bandeira vermelha: a barreira de segurança precisava ser arrumada.

Carro de Mick Schumacher partido ao meio após acidente no GP de Mônaco  - Reprodução/F1TV - Reprodução/F1TV
Carro de Mick Schumacher partido ao meio após acidente no GP de Mônaco
Imagem: Reprodução/F1TV

Foram 25 minutos de interrupção, com direito a trocas de pneus.

A Red Bull optou por colocar pneus médios em seus carros. Russell, Alonso, Hamilton, Ocon, Tsunoda, Zhou, Albon e Latifi fizeram o mesmo. A Ferrari seguiu com os compostos duros.

A relargada foi em movimento. Pérez deu uma fritada monstro na Mirabeau, mas manteve a liderança sem grandes sustos. Sainz, Verstappen e Leclerc formaram o trenzinho atrás do mexicano. Completando o top 10, Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Ocon e Bottas.

"Serão mais 29 voltas", disse o engenheiro de Verstappen pelo rádio, calculando que a prova terminaria pelo limite de tempo. Àquela altura, faltavam 42 para a distância oficial do GP. O cronômetro foi acionado na tela, seria ele o determinante para a bandeirada final.

Virou, então, uma procissão. A emoção só aumentou quando faltavam 10 minutos para o fim, e Sainz colou na traseira da Red Bull. O espanhol até tentou colocar de lado uma ou duas vezes, mas não deu.

Pérez venceu com 1s1 para Sainz, que tinha 0s3 para Verstappen. Leclerc terminou em quarto, seguido por Russell, Norris, Alonso, Hamilton, Ocon e Bottas.

Pérez comemora a vitória no GP de Mônaco - Andrej Isakovic/AFP - Andrej Isakovic/AFP
Pérez comemora a vitória no GP de Mônaco
Imagem: Andrej Isakovic/AFP

Com o resultado, Verstappen vai a 125 pontos e continua liderando o campeonato. Leclerc tem 116. Pérez subiu e agora soma 110.

Em Barcelona, há uma semana, Pérez por três vezes foi impedido de lutar pela vitória. Em dois momentos recebeu ordens pelo rádio para abrir passagem para Verstappen. Em outro, foi impedido de atacar o companheiro e fazer funcionar sua estratégia.

A resposta veio da melhor forma possível, na maior das vitrines: Mônaco. Tivesse vencido em Barcelona, Pérez hoje estaria lutando pela liderança do campeonato. Certamente ele vai dizer isso para a equipe em algum momento.