Topo

Fábio Seixas

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Renovação da Red Bull com Horner garante bons enredos para F1

Christian Horner, chefe da Red Bull na Fórmula 1, na comemoração pelo título de Verstappen em Abu Dhabi  - Mark Thompson/Getty Images/Red Bull
Christian Horner, chefe da Red Bull na Fórmula 1, na comemoração pelo título de Verstappen em Abu Dhabi Imagem: Mark Thompson/Getty Images/Red Bull

Colunista do UOL

22/12/2021 13h14

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em 1997, Christian Horner tinha 23 anos, uma forte veia empreendedora e o sonho de ser piloto de F1. Juntou a ousadia comum a essas três condições, pegou um dinheiro emprestado e resolveu lançar sua própria equipe na então F-3000, a Arden.

Certo dia, percebeu que o time precisava de um trailer. Não tinha como comprar um novo, então fez uma proposta por um usado, que pertencia ao Red Bull Junior Team, dirigido por Helmut Marko. Os dois fecharam negócio. E, de certa forma, nunca mais se largaram.

Desde 2005, os dois dividem o comando da Red Bull. E a parceria acaba de ser renovada. Numa entrevista concedida à "Servus TV", da Áustria, Marko revelou que Horner renovou seu contrato com a fabricante de energéticos por mais cinco anos, até o fim de 2026.

"Ele é o chefe da equipe. É quem está mais visível aos olhos do público, enquanto eu fico mais nos bastidores. Funcionamos bem assim", disse Marko, braço direito do dono da Red Bull, Dietrich Mateschitz, para assuntos relacionados ao automobilismo.

Foi ele quem indicou Horner para a posição, oito semanas antes da estreia da equipe na categoria máxima do automobilismo. "Dietrich perguntou: 'Christian o quê'?", lembrou Marko, na entrevista. "Ele não tinha nenhuma experiência na F1, mas eu o conhecia da F-3000 e de outros campeonatos de base, sabia de suas ambições. No fim, isso virou algo grande".

horner1 - Reprodução - Reprodução
Christian Horner em 1997, quando disputou a F-3000 por sua própria equipe, a Arden
Imagem: Reprodução

Lembro bem desta fase de Horner e do início da Red Bull na F-1.

No mês passado, por causa da morte de Frank Williams, falamos muito dos "garagistas": homens que entraram com a cara e a coragem no automobilismo, que sujaram as mãos de graxa, que se lançaram em aventuras sem a menor garantia de nada, puramente por amor pelo esporte.

Horner sempre me pareceu assim. Carrega muito deste espírito. Pode não ser um garagista clássico como Jack Brabham, John Surtees, Bruce McLaren, Ron Dennis, Guy Ligier e Williams, mas é da mesma estirpe. É o que o meio do automobilismo rotula de "racer".

Isso não significa concordar sempre com seus métodos.

O trio Horner-Marko-Verstappen age muitas vezes no limite da lealdade e do espírito esportivo. Em algumas ocasiões foram antiéticos, mas nunca venceram ilegalmente. E, sejamos justos, na temporada que passou o holandês foi muito bem marcado pelos comissários.

O saldo é extremamente positivo: em 17 temporadas, foram 4 Mundiais de Construtores e 5 de Pilotos. A Red Bull hoje é a sexta equipe da história em número de vitórias e poles (75 e 73, respectivamente), só atrás de gigantes: Ferrari, McLaren, Mercedes, Williams e Lotus.

A Red Bull, não esqueçamos, substituiu a Jaguar, que comprou a arrumadinha Stewart e protagonizou um dos maiores fiascos da história da F1.

É um excelente argumento, aliás, para quem acha que dinheiro resolve tudo no automobilismo. Se isso fosse verdade, a Jaguar teria prosperado...

A Red Bull tinha o dinheiro, mas precisava do comando de um "racer". Em princípio, Mateschitz queria um compatriota na função: Berger, que estava na BMW. Não saiu negócio, e Marko acenou com Horner. Deu certo, muito certo.

O anúncio de Marko ontem indica que o trio seguirá junto por mais algum tempo. Com seus métodos às vezes controversos, com suas línguas ferinas, com a vontade de vencer.

É uma história rara de parceria duradoura que se escreve diante dos nossos olhos. E é uma excelente notícia para os enredos dos próximos campeonatos.