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Fábio Seixas

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Novela de Russell com a Mercedes lembra a de Rubinho com a Ferrari

Barrichello recebe os cumprimentos de Jackie Stewart após conquistar a pole do GP da França de 1999 - ELECTRONIC IMAGE
Barrichello recebe os cumprimentos de Jackie Stewart após conquistar a pole do GP da França de 1999 Imagem: ELECTRONIC IMAGE

Colunista do UOL

13/07/2021 04h00

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Uma das coberturas mais chatas que fiz na F-1 foi a da negociação de Barrichello com a Ferrari, em 1999.

O segredo foi muito mal guardado. Todo mundo sabia que as conversas estavam acontecendo, mas nem a equipe nem ele falavam muito. A questão é que nós, repórteres, precisávamos noticiar o assunto. Novidade desse tamanho não podia ser ignorada, torcedores no Brasil só queriam saber das tratativas, já se insinuava um oba-oba por aqui...

Mas a situação gerava tensão e atritos para quem estava no front da apuração.

Houve um momento em que Barrichello decretou que não falaria mais sobre a Ferrari. Foi na França, se não me engano, ainda em junho, sétima etapa daquela temporada, corrida em que ele cravou sua segunda pole position.

Mas como, mon amie, a gente poderia entrevistá-lo sem tocar no tema? Perguntar sobre o quê? Sobre as calças quadriculadas do Jackie Stewart? Sobre a calvície precoce do Johnny Herbert? Sobre as vaquinhas nas fazendas ao redor de Magny-Cours?

A gente tentava, claro, dar voltas e no final perguntar sobre a Ferrari. E ele ficava bravo. Um dia se irritou com este blogueiro, e a relação nunca mais ficou legal. Ok, é do jogo, seguimos a vida.

A novela se arrastou. Só terminou em setembro, às vésperas de Monza, quando Barrichello resolveu vazar a notícia da contratação para um jornalista amigo —percebam a ironia.

Não foi a primeira situação assim com um piloto brasileiro. Em "Ímola 1994", livro espetacular que lançou neste ano, Flavio Gomes dedica um capítulo ao drama que viveu com Senna em 1993.

Tudo muito parecido: o mundo sabia que ele pilotaria para a Williams no ano seguinte, mas ninguém comentava nada oficialmente. "Pergunta qualquer coisa que eu respondo, mas da Williams não posso falar", disse Senna para o Flavio em Estoril, em setembro de 1993, na última entrevista exclusiva que o tricampeão concederia a um veículo brasileiro naquele ano.

Foi preciso aguardar a burocracia do anúncio oficial.

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Russell no sábado do GP de Portugal
Imagem: GABRIEL BOUYS/AFP

É mais ou menos o que a imprensa inglesa vive agora com Russell.

Está na cara que o garoto será contratado pela Mercedes. Todos sabem. Não há outra opção.

Russell é piloto de testes do time, Bottas já deu o (pouco) que tinha que dar e, de quebra, a equipe precisa preparar alguém para substituir Hamilton após 2023, quando ele deve parar.

Nas últimas semanas, todo dia alguém vaza que o negócio está fechado. Até a imprensa finlandesa já trata a dispensa de Bottas como certa. A situação começa a ficar bizarra, a ponto de a própria Red Bull ter aproveitado para dar uma zoada: Marko disse na segunda-feira que pensa em cooptar o inglês se os rivais não agirem rápido.

Pelo menos Russell tem levado a situação com bom humor. "Cuide bem das coisas que você ama", publicou no Instagram, no domingo, sob uma foto em que lava uma Mercedes C63 no quintal de casa...

O anúncio oficial deve sair nos próximos dias, antes de Silverstone, um presente para os torcedores ingleses tão machucados após o final da Eurocopa. Será um golaço da Inglaterra. E da Alemanha.