Pílulas do Dia Seguinte

Sejamos francos: só teve alguma emoção porque Verstappen ultrapassou Hamilton na largada. Tivesse o inglês mantido a ponta na primeira curva de Barcelona, sua 98ª vitória na F-1 teria sido modorrenta, morna, sem grandes suspenses. Porque, como ficou claro logo depois, a estratégia da Mercedes era muito mais eficiente que a da Red Bull;

É esta a grande mensagem do GP da Espanha. Sim, a Red Bull hoje tem um carro capaz de enfrentar a Mercedes em ritmo de classificação. Sim, Verstappen hoje é um piloto maduro, à altura de desafiar um heptacampeão mundial, como vimos na primeira curva do GP. Mas talvez isso não seja suficiente para, de fato, brigar pela liderança do campeonato;

A Pirelli divulga, antes de cada etapa da F-1, um estudo sobre as possibilidades de estratégia baseadas no comportamento de cada tipo de pneu naquele circuito. Aponta qual é a mais veloz, qual é a mais lenta, e por aí vai. O estudo sobre o GP da Espanha está abaixo. Vale dar uma olhada;

Em nenhum momento a Pirelli contemplava apenas uma parada com pneus médios no segundo trecho. Não era viável, não valeria a pena. Mesmo assim, a Red Bull acreditou que esse era o plano da Mercedes após o inglês ter esticado tanto sua permanência na pista com os pneus macios no primeiro trecho da prova. Foram 28 voltas, marca que só outros dois pilotos alcançaram, Raikkonen e Leclerc;

Em dois momentos ficou clara a falta de poder de reação da Red Bull. O primeiro, exatamente no pit de Hamilton na 28ª volta. Ninguém na equipe desconfiou de algo estranho? Nenhum engenheiro virou pro coleguinha do lado e disse que achava aquilo esquisito? O segundo, quando Hamilton parou novamente, na 42ª volta. Ali, era o momento de chamar Verstappen imediatamente para os boxes. As chances de o holandês manter a ponta seriam pequenas, mas melhores do que aquilo que acabou acontecendo, aquela ultrapassagem sem defesa a seis voltas da bandeirada final;

"Quando Lewis entrou de novo nos boxes, soubemos que era o fim", disse Marko, consultor da Red Bull. "Tínhamos um jogo novo de pneus macios à disposição, mas ele voltaria atrás de Bottas e certamente perderia muito tempo. Quando decidimos mantê-lo na pista, ficamos com a esperança da entrada de um safety car. Mas a sorte não estava ao nosso lado";

A derrota em Barcelona ajuda a explicar o fato de a Red Bull estar contratando tantos engenheiros da Mercedes. Dinheiro não basta. É preciso ter inteligência. E, hoje, a Mercedes ainda tem as melhores cabeças da categoria;

Em tempo: o que aconteceu neste GP da Espanha foi muito parecido com o que houve no GP da Hungria de 2019. A Red Bull não aprendeu;

Ricciardo em sexto, Norris em oitavo. A McLaren é a única equipe a pontuar com seus dois pilotos nas quatro etapas do Mundial. É a terceira colocada no campeonato, 5 pontos à frente da Ferrari, que ontem colocou Leclerc em quarto e Sainz em sétimo. A luta pelo terceiro lugar no Mundial de Construtores parece definida;

Em que pese a AlphaTauri ser uma decepção até agora, Gasly fez uma corridaça na Espanha. Começou com um erro bobo, estacionando o carro fora dos colchetes na largada e ganhando um stop & go por isso. Mas mesmo assim terminou em décimo, fazendo dois pits e mostrando muita competência na conservação dos pneus macios;

Falando em decepção, a Aston Martin não pontuou pelo segundo GP seguido. Frequentadores do paddock esperam a qualquer momento uma explosão de Lawrence Stroll. Quem estiver por perto que se cuide;

Nada foi mais emocionante no fim de semana do automobilismo do que a última volta da Fórmula E em Mônaco. O português Antonio Félix da Costa venceu a prova com uma ultrapassagem espetacular sobre o neozeolandês Mitch Evans na chicane após o túnel. Automobilismo na veia, lance que mostramos assim na TV Cultura, com narração de Marco de Vargas e comentários deste que vos escreve...