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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tóquio: primeiro a gente pensa se vai viver, depois, em competir

Campeonato Mundial de Atletismo em Dubai, Emirados Árabes - 100m T63 - Vinicius Rodrigues. - Daniel Zappe/Exemplus/CPB
Campeonato Mundial de Atletismo em Dubai, Emirados Árabes - 100m T63 - Vinicius Rodrigues. Imagem: Daniel Zappe/Exemplus/CPB

19/03/2021 14h30

Desde o início da pandemia de covid-19, o esporte de alto rendimento enfrenta desafios nunca antes imaginados. Os ciclos olímpicos e paralímpicos foram totalmente prejudicados e, a cada dia que passa, os reflexos são sentidos pelos atletas. A suspensão de prática esportiva em São Paulo por 15 dias também influenciou a preparação dos atletas no Centro de Treinamento Paralímpico.

O cenário não é bom para o esporte e as dificuldades para os atletas se impõem cada vez mais. Conforme afirmado anteriormente por Mizael Conrado, presidente do CPB (Comitê Paralímpico Brasileiro), em entrevista que foi divulgada aqui na minha coluna, o grande desafio para Tóquio são as incertezas, que influenciam diretamente no planejamento de treinos e competições.

Ninguém sabe quais competições realmente irão ocorrer. Elas são marcadas, e os atletas criam expectativa para participar, mas de uma hora para outra elas podem ser canceladas. Por outro lado, com o agravamento da crise pandêmica, brasileiros estão proibidos de entrar em muitos países. Isso reflete negativamente na preparação dos atletas e, principalmente, na classificação funcional (processo que determina qual o grau de deficiência do atleta e visa equilibrar os diferentes tipos de deficiência em uma classe).

A classificação é um processo complexo, e existem atletas que já estão classificados, outros que precisam passar por uma revisão e há ainda aqueles que não foram classificados, mas que têm potencial de estar nos Jogos de Tóquio.

É certo que o Brasil já assegura vagas para os Jogos de Tóquio. Os medalhistas em mundiais e no Parapan-americanos são os mais prováveis para preencher as vagas. No entanto, ainda existem atletas com muitas condições de classificação, mas que, provavelmente, não poderão participar dos circuitos internacionais — alguns marcados para este mês e para abril.

A responsabilidade maior sobre o que fazer está nas mãos do CPB. Segundo o diretor técnico do órgão, Alberto Martins, em declaração à Agência Brasil, "serão realizadas semanas de treinamento em junho, uma seletiva para os atletas que ainda não se qualificaram, mas realmente têm condições de alcançarem os índices". Ele disse ainda que serão utilizados critérios para a participação.

O que o mundo tem vivido é desafiador para todos os setores. Para o esporte, tem sido um martírio quando se trata dos atletas e da preparação deles. Quanto mais racional a gente for, melhor. No entanto, é muito difícil não chorar com tudo que estamos passando. Esse é um momento que definitivamente requer muita calma. Em se tratando de atletas de alto rendimento, a questão do treinamento físico tem sido totalmente prejudicada, além do emocional, sempre à flor da pele, já que todos os dias aparece uma incerteza.

É muito difícil falar de esporte vendo os números de mortes aumentando. Depois de um ano, nós podemos falar que o coronavírus não escolhe idade, situação socioeconômica e nem diz quando irá chegar. Nas duas últimas semanas perdemos atletas paralímpicos jovens. O país está em luto. E é difícil não sentir tudo isso que estamos passando. Primeiro a gente pensa se vai viver, depois a gente pensa se vai jogar, nadar ou correr. Uma coisa de cada vez. O último ano foi assim e vai continuar sendo. Competir é importante, ganhar medalha também, mas ninguém faz isso se estiver morto.

Excelente sexta-feira e abraços aquáticos para todos!