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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Sem Rússia e Belarus, Jogos Paralímpicos de Inverno começam amanhã

Atletas russos não participarão dos Jogos Paralímpicos de Pequim - Twitter/Olympicrussia
Atletas russos não participarão dos Jogos Paralímpicos de Pequim Imagem: Twitter/Olympicrussia

03/03/2022 15h47

Dos males o menor, o IPC (Comitê Paralímpico Internacional) voltou atrás na decisão de permitir que os atletas de Rússia e Belarus participassem dos Jogos Paralímpicos de Inverno, que começam amanhã (4), em Pequim, na China.

As novas punições só foram anunciadas depois de a entidade ser pressionada por outros países, que ameaçaram não competir nos Jogos. Nessa quarta-feira (3), o IPC publicou um comunicado permitindo que atletas russos e bielorrussos participassem como "neutros", sem suas bandeiras e sem serem citados no quadro de medalhas.

Para mim, o IPC se equivocou com o posicionamento anterior e ainda mantém certa neutralidade, pois o próprio presidente do órgão, Andrew Parsons, afirmou em entrevistas que mudou a decisão por causa de pressão de outros países. Na ótica do IPC, não se mistura política com esporte. Ingenuidade ou não, esse é um dos trechos da justificativa do Comitê.

Que o IPC entenda, de uma vez por todas, que a Rússia iniciou uma guerra desproporcional em todos os sentidos e que ele estava remando contra a maré no cenário esportivo e, de forma geral, em âmbito mundial. Não é possível fechar os olhos para o que está ocorrendo na Ucrânia. O que pode ter de mais valioso do que uma vida?

O entendimento sobre a Trégua Olímpica também foi modificado, já que o próprio presidente do IPC diz que "sente muito que os atletas" russos e bielorussos "sejam afetados pela decisão que seus governos tomaram na semana passada ao violar a Trégua Olímpica".

Ontem, segundo a nota divulgada pela entidade, uma assembleia-geral extraordinária votaria, posteriormente aos Jogos, se o cumprimento da Trégua Olímpica seria requisito para a participação de um país. Atualmente, para se excluir um país de uma Paralimpíada é necessário a aprovação da assembleia-geral, que só pode ser convocada com antecedência de seis meses.

É óbvio que o regulamento do IPC, nesse caso extremo, teria que ser repensado. Imaginem vocês se em caso de situações entendidas como emergenciais ou gravíssimas, o Congresso Nacional demorasse seis meses para votar?

Quem bom que o IPC mudou sua decisão, mesmo que por pressão dos países. No bojo da guerra, para além das mortes de homens, mulheres e crianças e da destruição das cidades, com certeza outras consequências graves já estão ocorrendo.

Os conflitos também violam a legislação internacional e constituem como agressão desproporcional contra um país independente como a Ucrânia. Além disso, desrespeitam vários tratados internacionais, entre eles o da Segurança da ONU, ratificados pela Rússia e pela Ucrânia, que cria obrigações claras e inderrogáveis para garantir a proteção e segurança iguais para toda as pessoas com deficiência.

Não é hora de ficar em cima do muro. Ou você é a favor ou contra a guerra. Para mim, não tinha sentido nenhum o posicionamento anterior do IPC. Como campeão paralímpico que sou, entendo que, em certos momentos, o esporte é uma força e pode se unir para fazer pressão contra injustiça, violência e desigualdades. Então porque o esporte não pode ir contra uma guerra?

Tomara que essa pressão dos outros países tenha servido para o IPC entender que não era momento de ficar no meio termo. Existem outras nações envolvidas nos Jogos e, com certeza, elas não ficariam neutras.

E que venham as competições, com a participação da Ucrânia, que é uma das potências paralímpicas mundiais. Já estou na torcida pelo Brasil que será representado por seis atletas. Fiquem ligados que falarei mais sobre o assunto.

Abraços aquáticos para todos e excelente quinta-feira!