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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras de Abel não será "romântico" porque não pode e nem quer

Abel Ferreira, durante conversa com o elenco do Palmeiras, na Academia de Futebol - Cesar Greco
Abel Ferreira, durante conversa com o elenco do Palmeiras, na Academia de Futebol Imagem: Cesar Greco

Colunista do UOL Esporte

03/04/2021 07h16

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Abel Ferreira voltou de Portugal depois do reencontro com a família e já está trabalhando para a volta do Palmeiras aos campos. Nos dias 7 e 14 contra o Defensa y Justicia pela Recopa Sul-Americana e no dia 11 diante do Flamengo, pela Supercopa do Brasil.

Retorna com três jogos em uma semana, mas ainda não sabe quando volta o Paulista, parado pelas medidas de restrições em São Paulo por conta do agravamento da pandemia. É bem provável que jogue partidas da fase de grupos da Libertadores e do estadual encavaladas, a cada dois dias. Tudo porque a CBF não abre mão de começar o Brasileiro no dia 30 de maio.

Uma insanidade que vai testar novamente a resistência do elenco campeão sul-americano e da Copa do Brasil. Sem tempo para treinar, o treinador português conviverá com os mesmos problemas da temporada passada, apenas com a vantagem de encará-la desde o início e agora com vivência neste calendário absurdo.

Mesmo mais calejado, é improvável que Abel consiga alcançar o "romantismo" que espera combinar com o pragmatismo, como afirmou à TV Palmeiras:

- Somos uma equipe um pouco romântica, mas pragmática também. Porque é isso que procuramos, através dos processos atingir os resultados. Sabemos que às vezes jogar sempre bonito nem sempre nos traz resultados. Sabemos que jogar de forma pragmática também nem sempre nos traz resultados. Essa mescla entre pragmatismo e romantismo nos leva àquilo que queremos, que é sucesso e conquista de títulos.

Colocação perfeita. É o que se faz no mundo todo, nas melhores equipes, como Bayern de Munique e Manchester City. Jogar conforme a demanda e buscar a melhor combinação entre desempenho e resultados, com prioridade óbvia para este último. Se não for possível jogar bem, que vença para manter a confiança e a consistência do trabalho.

O Palmeiras sofre mais quando precisa propor o jogo. Circula a bola entre defensores e volantes à espera da brecha para o passe longo buscando os ponteiros em velocidade, o pivô de Luiz Adriano ou trabalhar para fazer chegar ao meia central do 4-2-3-1, normalmente Raphael Veiga, entre a defesa e o meio-campo do adversário. Se os espaços não aparecem, a equipe trava. Tudo flui melhor jogando em rápidas transições ofensivas.

Deve continuar assim. Não só porque não há dinheiro sobrando para contratações que qualifiquem ainda mais o elenco - até agora só o meio-campista Danilo Barbosa, emprestado pelo Nice, é a novidade. Nem haverá tempo para trabalhar algo mais sofisticado, acrescentando movimentos e ampliando o repertório ofensivo.

Mas, principalmente, porque o pragmatismo virou cultura no clube. Desde 2015, com a conquista da Copa do Brasil com Marcelo Oliveira. Um hiato no ano seguinte com o ótimo primeiro turno do Brasileiro com Cuca, mas, também pela obsessão de ganhar o título que não vinha desde 1994, abraçando o resultadismo na reta final. O mesmo com Felipão em 2018.

Com o choque do "furacão" Flamengo de Jorge Jesus, o clube buscou novas ideias em 2020, primeiro procurando Jorge Sampaoli em janeiro, depois Miguel Ángel Ramírez em outubro. O sucesso de Abel com maneira de jogar um pouco diferente, mas ainda alinhada aos trabalhos vitoriosos recentes, reforçou a identidade. Difícil mudar, ainda mais quando está ganhando.

O contexto complicado, incluindo os prováveis desfalques pelas muitas convocações, vai se encarregar de empurrar o Palmeiras para mais do mesmo. Sem "romantismo". E é legítimo, com seus prós e contras. Até porque o torcedor, no geral, só se apaixona pelo time que levanta taças.

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