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André Rocha

Com Koeman, Barcelona apela novamente ao passado como escudo

Ronald Koeman, durante partida da seleção holandesa em 2019 - TF-Images/Getty Images
Ronald Koeman, durante partida da seleção holandesa em 2019 Imagem: TF-Images/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

18/08/2020 10h29

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Quando contratou Quique Setién, o Barcelona trouxe de fora do seu círculo um treinador com ideias semelhantes às dos verdadeiros sonhos de consumo: Pep Guardiola em um retorno triunfal do "Sebastião" ou Xavi Hernández, o prodígio visto como a esperança do resgate da essência do clube.

O treinador que comandara Real Betis e Las Palmas era aposta arriscada para comandar um elenco estelar. Proposta que se mostrou inviável desde o início, no campo e no vestiário. Os 8 a 2 foram a pá de cal, embora o placar seja muito mais fruto dos méritos do time alemão, que não parou de atacar o rival já entregue.

A crise jogou holofotes para todos os equívocos dos últimos anos: manutenção de "vagas sagradas", falta de sintonia entre elenco e direção, contratações milionárias sem grande retorno técnico - Griezmann e Dembele estavam no banco em Lisboa, sem contar Philippe Coutinho emprestado ao adversário.

Ainda olhando para o campo, o Barça também parece atropelado pelo espírito do futebol atual. Cada vez mais intenso, físico, rápido para definir jogadas. O Bayern de Munique, confirmando o favoritismo na Liga dos Campeões, pode dar um salto em relação ao estilo de Jürgen Klopp: quase um "saque e voleio" se pensarmos no tênis ou "saque e bloqueio" no vôlei. Pressão, eletricidade, bola roubada, muita gente chegando rapidamente à área adversária e finalização assim que possível para não dar chances ao oponente.

E o Barcelona ainda sonhando com as longas trocas de passe dos tempos de Guardiola. O próprio treinador já disse que aquele time ficou na história, mas o futebol hoje é outro. Quanto mais tempo tocando, mais chances se dá à pressão no campo de ataque ou à organização defensiva com linhas compactas que nega espaços.

De novo olha para trás com a chegada de Ronald Koeman que só falta ser confirmada oficialmente. O treinador que deve deixar a seleção holandesa e viveu experiência recente na Premier League por Southampton e Everton, Que nos ideais e no discurso ainda abraça a filosofia de Johan Cruyff, comandante do líbero no "Dream Team" do início dos anos 1990. Mas na prática é mais pragmático.

Pode até ser interessante, porque simbolicamente atende aos anseios dos saudosistas pelo que representa para o clube, mas tem condições de adaptar, na prática, a escola Barcelona ao jogo mais intenso e rápido, podendo adicionar também uma maior solidez defensiva.

O currículo, porém, não anima tanto, apesar da conquista de uma Copa do Rei pelo Valencia, porém na longígua temporada 2007/08. Mas o ideal de fidelidade aos princípios, imagem fortemente associada à instituição e muitos títulos na carreira só existe em Guardiola e ele deve seguir em Manchester. Se não levar o insatisfeito Messi com ele.

Mais um problema para Koeman administrar, além das dificuldades de negociar estrelas e o potencial no mercado de um clube que fatura muito, mas também gasta demais e tem aumentado as dívidas. O time catalão precisa de uma revolução. De nomes e conceitos. Será que o holandês é capaz?

Seja como for, Josep Maria Bartomeu parece ter escolhido um novo escudo. Só que está cada vez mais difícil esconder os muitos equívocos de quem já foi referência e segue tropeçando ao caminhar olhando para trás.