Tratar gramado sintético como vilão é jeito conveniente de desviar atenção
Conforme reportado pelos colegas Rodrigo Mattos e Igor Siqueira, "o Conselho Técnico da Série A foi marcado por discursos e movimentos contra a grama sintética no Brasileiro. O veto do campo artificial para a edição de 2025 começará a ser debatido na Comissão Nacional de Clubes. O São Paulo, agora em litígio com o Palmeiras, tem papel central nesse processo".
Duvido alguém defender que o mundo ideal seria o da grama sintética. Aliás, pouca coisa sintética se sai melhor que sua versão natural. O problema é que não vivemos nesse mundo ideal. E, no mundo em que de fato vivemos, o sintético não é o maior dos problemas.
Não faltam exemplos de relvados esburacados e encharcados pelo país. O Maracanã é apenas o mais emblemático dele, mas cabem aí o Mineirão, a Arena MRV e tanto outros.
Claro, o Allianz Parque virou a referência do sintético que deu errado, com seu derretimento no início de 2024 — para o qual Abel Ferreira já alertara em 2023. Mas parece uma simplificação infantil reduzir a discussão a natural versus sintético.
Primeiro, porque existem sintéticos bons e ruins, em bom e mau estado de conservação — assim como o natural.
Segundo, porque para algumas arenas a grama sintética é a única opção. Pelo contrato entre WTorre e Palmeiras, o estádio da Pompeia é tanto um espaço para shows quando um palco do futebol. É o ideal para o clube? Não. Está aí a temporada em Barueri que não nos deixa mentir. Só que não adianta brigar com a realidade.
Ademais, parece difícil argumentar que a Arena da Baixada e o tapetinho do Nilton Santos sejam os grandes vilões do futebol brasileiro. A gente sabe, porém, que é muito mais fácil escolher um alvo com menos defensores e ficar apontando para ele até desviar a atenção do que é mais grave e bem mais difícil de resolver.
Uma técnica tão antiga quanto previsível.
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